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segunda-feira, novembro 27, 2006

Poetaurea mediocritas de Bastião Naum

Altíssima société

Madame Dondoquinha ajaezada como se louca.
Doutor Broncalhão ornamentado qual defunto.
Deputado Ímpio coça o saco e ri.
Jurisconsulto Justus faz de conta que.

Jóias salpicam as pelancas de Dona Anfitriã.
Senhorita Chávena reflete como se pensasse.
Jovem Bompartido vira os olhindos e sorrinde.
Senador Caquético solta um peido e sopra.

Mordomo Módico anuncia a mesa prompta.
Abruptos convidados irrompem ruidosdentes.
Mastegam que mastegam. Bibes que bibem.
Sorridenteiam. Fazdeconteiam. Esfregalhamse.

Colunista Cakônico caneteia seus colunáveis.


Chefes de Gabinete (1)

Os chefes de gabinete são importantes.
Mais importante que eles só gravatas.

Os chefes de gabinete são arrogantes.
Mais arrogantes que eles só burro rico.

Os chefes de gabinete são bonitões.
Mais bonitões que eles só bunda de mulher.

Os chefes de gabinete são orgulhosos.
Mais orgulhosos que eles só marimbondos.

Os chefes de gabinete são poderosos.
Mais poderosos que eles só microfones.

Os chefes de gabinete são inúteis.
Mais inúteis que eles só outros chefes.

(1) Arrogantes concorda com burro, assim como bonitões concorda com bunda.



Melancolia ditatorial

Chove suavemente nos jardins do palácio.
Passa um carro blindado. Passa um pelotão.
Na janela o ditador coça o saco.
Que fazer nestes dias de ócio e tédio?

A oposição está massacrada.
A senhora ditadora está velha e feia.
As amantes estão cada dia mais exigentes.
A conta na Suíça está que não cabe mais.

O ditador alisa os bigodilhões grisalhos.
Quem sabe soltar um pouco da oposição?
Estimular greves? Agitar os estudantes?
O poder sem exercício não vale nada.

Suavemente a porta se abre suavemente.
O ministro do exército dispara a metralhadora.
Com a mão no saco o ditador começa a rir.



Poeta oficial

(Há um poema em cada gota de sangue.)
Rechonchudo consulado nas neblinas do futuro?
Embrionária embaixada na cultura milenária?
(Há um poeta em cada gota de chuva.)

Etéreo ministério? Conselho multinacional?
Diretoria com orgia? Sinecura com fartura?
Senatoria? Presidência? Doutoral tribunal?
(Há uma gota de suor em cada proeletra.)

10 livrinhos. 20 calhamaços. 50 livrecos.
Resenhas amigais. Artigos circunloquiais.
Biografia de encomenda crepita a fofogueira.
A academia bate à porta. Merdalhões.

(Há uma gota de sangue em cada poeta.)


Parodices

I

bobalhosos literatos corriqueiros
confrades de defuntos mortos bolos
sacramentais e escrementais.
escrementai, poetas, pra não dizer
que deveis irdes gagarvos.

II
poetas universitários escutai:
universitaivos mais
enquanto eu universito menos.

II
mas não risadeiem. calemse!
defuntos só riem dos coveiros
por vingança idiota e besta.

III
parabéns coveiros que nos encovaram.
estamos perfeitamente encovados.
ninguém melhor encovados que nós.
esterco de terceira mão.

IV
surrealismos merdejantes merdejam.
módicas revistas imprimem caca.
nada como bobalhagens em lugar de.

VI
opinais, opinéus! vssas línguas
vsss rabos vsss chifres vossos
cancros e vsss tuberculoses
cerebrinas e brais e tais!

VII
entraide prostitutas literatas!
assentaides devotos do idioto!
dormivos filhas da burreguice!
ai, que meu saco explode!

VIII
lixosa poesina brasilina castradina.
& babaquina mais que a minha.

IX
eu quero ser glorioso e famoso
e venturoso e amoroso e imortoso
e genioso e felizoso e ricoso.
sou discreto e timideto e modesto
e puxassaqueto e intelectualecto
comportadecto

X
isto é poesia ou meu nariz?

XI
cada um é poeta como pode.
você no INL
e eu na bunda do bode.

XII
desespero ou meleca.
tudo é matéria poéteca.

XIII
poetas solenes e sonolentos
sentados e pelados no vaso
cagando longos troços grossos.
quão sério bundais!


Poemetos metafóricos

ó q lindas metáfors!
ó q belos achads!
haja saco, senhr, pra suportr

ó q talento admirvl!
ó q suav ironia!
ó q colch de retalhs!
ó q merdra!



Paródia japonesa

Um poema é um monte de palavras.
Um monte de bosta não é um poema.

Um poema é um monte de bosta.
Um monte de palavras não é um poema.

Um poema não é um monte de palavras.
Um monte de palavras é um poema
De bosta.

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