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terça-feira, outubro 21, 2008

Mallu vem ao mundo


Gabriel Brust

Ela é uma garota paulista de 16 anos, faz música folk em inglês, virou sucesso no meio alternativo, tem entre seus fãs Marcelo Camelo e Zeca Pagodinho e agora será lançada em disco por uma operadora de telefonia celular. Com essas características pouco estereotipadas – distante da baiana-gostosa ou da diva-sofisticada –, fica difícil arriscar dizer que papel Mallu Magalhães ocupará na música brasileira.

A própria garota não sabe definir:

– Tudo foi natural até agora e vai continuar sendo. Tenho só que ser feliz. Tenho que ter calma. Calma é uma grande amiga de tudo.

Mas não é isso que pensa a operadora de telefonia celular que está apostando tudo no lançamento do primeiro disco da jovem compositora. A estréia oficial de Mallu Magalhães – depois de se tornar um fenômeno na internet, com 2 milhões de acessos às suas músicas em apenas nove meses – está imersa no mesmo frescor de novidade que encharca suas composições.

As faixas do álbum estão sendo colocadas para download no site www.vivo.com.br/mallumagalhaes desde a sexta-feira passada, duas por semana, apenas para assinantes. As músicas também estarão disponíveis em telefones celulares, que serão lançados com o álbum dentro do cartão de memória. O CD chegará às lojas somente no dia 15 de novembro.

Fazer Mallu saltar do universo virtual para o meio musical tradicional, de CDs, gravadoras e estúdios, foi a missão do produtor Mario Caldato Jr., conhecido por ter trabalhado com estrangeiros como Beastie Boys e Super Furry Animals, além de ter lançado internacionalmente artistas como Bebel Gilberto e Seu Jorge.

É por essas e por outras que faz todo sentido do mundo imaginar que Mallu pode escapar não só do universo virtual, como do meio alternativo/indie que até agora garantiu sua popularidade lado-b. A tacada não é pequena. Para a jovem cantora, o que mudou, no entanto, foram coisas mais prosaicas.

– As gravações que eu lancei na internet eu fiz num estúdio que era barato e que eu tinha achado legal por causa do nome, Lúcia no Céu. Agora, com o Mario Caldato, achei que ia ser uma coisa meio ditadora, eu não sabia o que fazia um produtor – conta.

Caldato foi esperto o suficiente para não mexer demais no time que estava ganhando as primeiras partidas. Os sucessos da web, Tchubaruba, J1 e Get to Denmark, estão lá, em versões não muito diferentes das gravadas no Lúcia no Céu.

A elas se juntaram outras 11 faixas, sendo duas delas em português, Preço da Flor e Vanguart. E é ao ouvir a voz da garota em português que a ficha começa a cair – e a pretensão da tal operadora de celular vai se explicando.

Ao cantar “ah, se eu fizesse tudo que eu sonho, se eu não fosse assim tão tristonho, não seria assim tão normal”, Mallu soa mais infantil, mas ao mesmo tempo aponta um caminho pop rumo ao sucesso comercial que parece não ter mais volta.

– As canções em português estão acontecendo naturalmente. Nos últimos dois meses, compus umas 15 músicas e todas em português. Não cobro nada, mas está fluindo mais assim – reconhece.

E é deste jeito, no ritmo tranqüilo dos acordes de seus ídolos Bob Dylan e Johnny Cash, que Mallu vai lidando com esta nova realidade. Continua sem saber como recuperar as provas do colégio que perde a cada show. Continua tentando convencer os pais de que essa coisa de música é para valer. Mas sabe que, no fundo, eles entenderam tudo há muito tempo – sem precisar de muita conversa.

– Quando eu apóio o pé na cama dos meus pais para tocar violão, o olho da minha mãe enche de lágrima – explica Mallu.

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