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quinta-feira, março 05, 2009

A enciclopédia que você pediu a Jah – Parte 12


TOSH, Peter
Winston Hubbert McIntosh veio ao mundo para criar confusão. Nasceu em agosto de 1944, não conheceu o pai, sequer a mãe. Foi criado (largado) pela tia, que o deixou perambulando pelas ruas de Trenchtown, a famosa favela de Kington. Num dos poucos mimos ao sobrinho, ela o presenteou com um violão em frangalhos.

Tosh sabia arranhar umas notas quando conheceu Bob Marley e seu meio-irmão Bunny Livingstone. Eles formaram os Wailing Wailers, que mais tarde seriam rebatizados como Wailers e depois Bob Marley & The Wailers. Quando viu seu amigo (Bob havia roubado sua namorada, Rita Anderson, mas continuara amigo) ser alçado à liderança do grupo, Peter Tosh saiu em carreira solo. Que foi tocada aos trancos e barrancos, mas deixou obras marcantes.

Guitarrista e cantor com voz de barítono, Tosh estava gravando seu álbum quando policiais jamaicanos invadiram o estúdio – no exato momento em que Tosh colocava os vocais. O cantor foi espancado e jogado num canto do hospital. O atendimento demorou horas – quem chegasse ao local era “convidado” pela polícia a dar uma olhada no estropiado rastman. Foi uma espécie de aviso aos Wailers, que começavam a incomodar os poderosos da Jamaica.

Legalize It saiu em 1976. A música-tema pedia a liberação da erva e sua mensagem até hoje é contundente (o Planet Hemp que o diga: eles usaram um sample do hino em “Legalize Já”). O disco teve participações das I-Threes e de diversos instrumentistas dos Wailers, como Aston “Family Man” Barret e Seeco Patterson.

A amizade entre Bob e Peter – que sofreu uma ligeira balançada com a saída de Tosh da banda – Winston azedou de vez naquele ano. Um dia, quando saía da Island House (a mansão que Bob ganhou de Chris Blackwell, dono da Island), o carro que levava Tosh e sua mulher, Yvonne, foi atingido por um motorista bêbado. O cantor quebrou várias costelas e Yvonne morreu depois de vários dias em coma. O “Mystic Man” atribuiu o acidente aos espíritos malignos que dominavam a casa dos Marley.

Equal Rights foi lançado em 1977. É um trabalho mais bem-resolvido, com participação de Sly & Robbie e canções que caceteavam o injusto establishment jamaicano. Como “Equal Rights”, em que Tosh brada: “Todo mundo quer ir para o céu/ Mas ninguém quer morrer/ E eu digo: nós nunca teremos paz/ Até o dia em que tivermos direitos iguais e justiça”. O disco também mostrava manifestações de africanismo (“African”), uma regravação dos Wailers (“Get Up, Stand Up”) e uma canção roubada de Joe Higgs (“Stepping Razor”).

A repercussão de Equal Rights chamou a atenção de Mick Jagger e Keith Richards, que estavam formando o cast da Rolling Stone Records. Peter Tosh lançou pelo selo da linguinha seu melhor disco: Bush Doctor (1978), uma paulada certeira com pitadas de soul music americana (“Don’t Look Back”, dos Temptations, um dueto precioso com Mick Jagger), recordações dos tempos de wailer (“Soon Come”, “I’m The Toughest”) e novas exaltações à cannabis (“Bush Doctor”, que tem uma ajudinha da guitarra preguiçosa de Keith Richards).

Tosh buscou sempre o confronto e sua rebeldia às vezes beirava o mau-caratismo. Durante um concerto para o primeiro-ministro da Jamaica, fumou maconha no palco e soltou fumaça para as autoridades – semanas mais tarde, teve a mão esmigalhada por policiais durante uma batida. Keith Richards teve a ousadia de pedir de volta a casa em Ocho Rios que havia emprestado para Tosh. Foi ameaçado de morte. Conclusão: a Rolling Stones Records deu cartão vermelho para o rasta.

Os brasileiros puderam conferir a audácia de Tosh em 1980, quando ele tocou no Festival de Jazz de São Paulo. Foi uma das melhores apresentações na história dos shows no Brasil: acompanhado de uma superbanda (essa escalação tem de ser dada: Sly Dunbar, bateria, Robbie Shakespeare, baixo; Darryl Thompson e Mickey Mao Chung, guitarras, Keith Sterling, teclados; Sky Juice na percussão e os vocais de apoio dos Tamlins), ele entrou no Palácio das Convenções do Anhembi vestido de egípcio e levou o público à loucura. Deu golpes de caratê no ar, soltou “Jah Rastafari” a dar com pau e fumou toda a maconha que havia em São Paulo.

Peter também deu o ar de sua graça em Água Viva, novela de Gilberto Braga. Ele cantou “Legalize It” tendo Fábio Jr. nos vocais de apoio. Três anos depois, o cantor deu um cano federal em empresários brasileiros que o contrataram para apresentações aqui. Pegou o dinheiro, alegou “dores nas costas” e ficou lagarteando sob o sol de Kingston.

Em 1987, Peter Tosh devia para Jah e o mundo e estava sujo e sem crédito na praça. Devia até dinheiro de drogas para uma turma de bandidos de Kingston. No dia 11 de setembro daquele ano, a galera do mal foi cobrar a dívida e não admitia voltar de mãos vazias. Tosh se recusou a atender os caras e morreu com quatro balaços no peito.

THIRD WORLD
Considerada uma das mais consistentes bandas da história do reggae, surgiu depois que Michael “Ibo” Cooper, Stephen “Cat” Coore e Milton “Priliy” Hamilton deixaram o Inner Circle em 1973. A formação se estabilizou quando adicionaram o baixista Richie Daley e o baterista Carl Barovier.

O Third World incorporava quase tudo à sua música: raízes jamaicanas, música africana e o R&B americano. Assinou com a Island e lançou álbuns importantes como 96° In The Shade e Journey To Addis. Depois da entrada do cantor Bunny “Rugs” Clark veio o estouro mundial, com “Now That We’ve Found Love”.

E o Third World continuou entusiasmando o público do mundo com grandes apresentações ao vivo, fazendo jus ao título de embaixadores do reggae. Hoje, após completar 20 anos de carreira, o grupo atualizou seu som com elementos de dancehall e hip hop.

TIGER
É o Tião Macalé do reggae. Só não faz “tchan!”. DJ de voz roufenha, abalou os guetos jamaicanos em 1987 com o sucesso “Wanga Gut”. Suas músicas obedecem ao esquema “sai pra lá, polícia, vem pra cá, garota” que marcou o reggae no início dos anos 90. Tiger não proseia, rosna. E seus ronrons despertaram a atenção do grupo de funk inglês Brand New Heavies, que o convidou para o projeto Heavy & Rhyme Experience (1992).

A Sony Music contratou Tiger no ano seguinte. Ele lançou então Claws Of The Cat, um álbum mediano, que traz participações dos Heavies e do rapper Q-Tip (do A Tribe Called Quest). A velocidade, ao lado das mulheres e do reggae, era uma das grandes paixões do DJ – e que acabou por atrapalhar sua carreira para sempre. No final de 1993, Tiger sofreu um acidente de moto. Depois de vários meses em coma, ele sobreviveu, mas não se recuperou totalmente. Hoje tem dificuldade até para falar.

TOOTS & THE MAYTALS
A voz apaixonada e treinada em igrejas batistas de Toots Hibbert (comparada a de mestres da soul music como Otis Redding) é o grande trunfo deste grupo seminal surgido em Kingston em 1962, como The Vikings. O nome definitivo foi adotado dois anos depois. Logo depois vieram os hits “If You Act This Way” e “John And James”, cruciais no estabelecimento do ska.

Em 1966, Hibbert foi preso – por porte de maconha, ora veja! Quando saiu, gravou pelo Beverley, selo de Lesley Kong, “54-46” (música depois regravada pelo Aswad e tocada no Brasil pelo Skank), sobre a vida de penitenciário, e “Do The Reggay” (sic), primeira canção a usar o termo reggae. No começo dos anos 70, Toots & The Maytals tornaram-se conhecidos mundialmente pela participação no fume The Harder They Come. Nos anos 80, Hibbert gravou nos EUA o belo disco Tools In Memphis, no qual interpreta clássicos da soul music.

TOSH, Andrew
Filho mais velho de Peter Tosh, Andrew fez sua estréia nos funerais do próprio pai, ao embalar uma platéia jamaicana com os sucessos de Peter. Lançou um belo disco de estréia em 1990 (Original Man, que tinha o hit “Poverty Is A Crime”) e se apresenta com músicos da antiga banda de Peter Tosh – a Word, Sound & Power –, como George “Fully” Fulwood (baixo) e Carl “Santa” Davis (bateria).

TRIBO DE JAH
A Tribo de Jah é a banda mais conhecida do Maranhão e tem um trabalho apreciado no país inteiro. A grande curiosidade é que quatro integrantes do sexteto são cegos e um é caolho. Apenas o líder Fauzy Beydoun, um paulista radicado em São Luís, enxerga direito. A banda animava bailes junto com um sistema de som: quando Fauzy comprou o equipamento, acabou herdando a Tribo de Jah. O som é calcado no reggae roots e a militância no gênero, acima de modismos, verões e gravadoras, inspira “respect” no Brasil inteiro.

TECHNIQUES, The
Uma das várias seleções vocais da Jamaica. A banda teve em sua formação Slim Smith e Pat Kelly, além de Winston Riley e Frankie White. Os Techniques foram descobertos por Duke Reid em 1964 e entre os seus maiores hits estão “I Wish It Would Rain” (dos Temptations) e “Queen Majesty”.

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