Pesquisar este blog

quinta-feira, março 05, 2009

A enciclopédia que você pediu a Jah – Parte 10


RANKS, Shabba
Ele saiu dos guetos malcheirosos de Trenchtown para se tornar a grande promessa do reggae dos anos 90. Rexton Rawlston Fernando Gordon era um admirador do veterano Josey Wales quando iniciou na profissão de DJ, inicialmente com o apelido DJ Co-Pilot. O nome não decolou e ele adotou o codinome de Shabba Ranks em homenagem à Rainha de Sabá.

Shabba virou uma sensação na Jamaica fazendo o que todo mundo faz e gosta - sexo, sexo, sexo. Dizia que era um “malvado na cama” (“Wicked In Bed”), que resolvia a carência da mulherada toda (“Mr Loverman”), que fazia e acontecia.

O sucesso na Jamaica o catapultou para um contrato multimilionário com a Sony Music. E Shabba continuou com sua prosa lascada em discos como As Raw As Ever e X-Tra Naked. Só caiu em desgraça ao comentar, num programa de auditório, que “os homossexuais deviam ser apedrejados até a morte.” A turma do politicamente correto crucificou o jamaicano e, desde então, ele tem dado poucos sinais de que conseguirá recuperar o prestígio que possuía.

RAPPA, O
Surgiu em 1993, como banda de apoio do astro de reggae-baba Papa Winnie. Na época eles se chamavam Conexão Xangô e a formação era a seguinte: Marcelo Yuka (bateria, ex-KMD5 – o atual Negril), Nelson Meirelles (baixo, produtor do Cidade Negra), Xandão (guitarra) e Marcelo Lobato (teclados). O vocalista Falcão chegou tempos depois.

Rebatizado como O Rappa, o grupo assinou contrato com a WEA em 1993 e soltou seu CD de estréia no ano seguinte. O trabalho foi mixado por Dennis Bovell, lendário expert em dub.

Rappa Mundi, o trabalho seguinte, tem uma produção mais pop (a cargo de Liminha, o mesmo de Cidade Negra e Titãs). Nelson Meirelles foi substituído por Lauro Farias, irmão de Bino, baixista do Cidade Negra. O Rappa também fugiu das amarras do reggae, adicionando elementos de música brasileira (a regravação de “Vapor Barato”, sucesso de Gal Costa nos anos 70), funk e rock.

RAS
Título usado pelos rastas. Pode significar “senhor” ou “cabeça”. Também é rei na língua etíope.

RAS MICHAEL & THE SONS OF NEGUS
Negus é um título de nobreza do imperador da Etiópia Hailé Selassié, o senhor do movimento rastafari. E ninguém paga mais tributo ao deus rastafari do que Ras Michael e sua banda. Usando a percussão como elemento principal, eles promovem autênticas missas rasta desde os anos 70. Ainda fazem barulho na Jamaica, agora adicionando uma parafernália eletrônica a seus hinos de devoção rasta. Parece uma missa do ano 2 mil.

RASTAFARIANISMO
Filosofia que mistura crendices e profecias no mínimo contestáveis com uma interpretação própria da Bíblia. As raízes da filosofia rastafari foram plantadas na sociedade jamaicana por Marcus Mosiah Garvey, líder negro jamaicano que se radicou nos EUA. Grande orador, ele pregava que os negros deviam voltar à África e, em 1919, fundou um jornal (The Negro World) e uma revista (The Black Man) para difundir suas mensagens. Acreditava que a Terra Prometida do povo negro era a Etiópia.

A Garvey foi atribuída a seguinte profecia: “Olhem para a África. Quando um rei negro for coroado, é sinal que a redenção está próxima.” O pastor foi preso por sonegação de impostos e morreu na Inglaterra, em 1940, sem nunca ter conseguido a sonhada redenção. Mas o estrago já estava feito: em 1930, Ras Tafari Makonnem se autoproclamou Imperador da Etiópia, reinvindicando para si os títulos de Rei dos Reis, Senhor dos Senhores, Leão Conquistador da Tribo de Judah.

O soberano que mudou o nome para Hailé Selassié (que significa “o poder da Santíssima Trindade”) era na verdade um tirano de marca maior, que preferia alimentar seus leões a matar a fome do povo. Mas os jamaicanos o tomaram como divindade e dirigiram suas preces a ele.

Um grupo liderado pelos “teóricos” Leonard P. Hovell, o reverendo Claudius Henry, Edward Emanuel e Vernal Davis se encarregaram então de criar os preceitos da filosofia rasta. Eles achavam que a Bíblia havia sido adulterada e fizeram uma espécie de “revisão” do livro sagrado.

O rastafarianismo vê a Igreja Católica, o governo e a polícia como agentes do mal, a Babilônia – “apelido” dado ao corrupto sistema ocidental. Os rastas não devem cortar seus cabelos. As longas tranças nunca podem ser penteadas nem lavadas. Elas são uma espécie de “antena” para captar vibrações positivas.

Os rastas execram o consumo de carne de porco e carne vermelha. A culinária deles se baseia na I-Tal Food, composta de legumes, raízes e frutas. Vez ou outra, peixe ou frango.

A maconha é uma erva sagrada – teria sido encontrada no túmulo do Rei Salomão. Serve para ajudar na compreensão das coisas e é usada como incenso nas igrejas. Hoje a filosofia rasta não tem a mesma popularidade que tinha nos anos 70 (quando Bob Marley propagou o nome de Hailé Selassié em todo o mundo) mas ainda atrai curiosos fãs de reggae.

REBEL, Tony
O DJ Patrick Barret nasceu para cantar as maravilhas da seita rastafari. Tudo isso embalado pela melhor produção que o dancehall tem para oferecer. Seu grande sucesso foi “Fresh Vegetables”, de 1991. O álbum Vibes Of Time, lançado dois anos depois, é considerado seu melhor trabalho.

RED
Chapado de erva, na língua rastafari.

REID, Duke
Grande rival de Coxsone Dodd no reino dos sound systems, Reid era arrogante e gostava de exibir armas junto dos compactos raros de R&B americano que tocava, lá pelo final dos anos 50. Dono de uma loja de bebidas em Kingston, ele entrou de cabeça na produção de discos, investindo tudo que tinha no rock steady e apadrinhando cantores como Alton Ellis. Quando o rock steady afundou, Reid foi junto – e nunca mais se recuperou.

REID, Junior
Ele já tinha uma carreira-solo de relativo sucesso quando foi convidado para assumir os vocais do Black Uhuru. O ano era 1986. Reid gravou um belo disco de estréia (Brutal), mas depois sofreu as inevitáveis comparações com o cantor Michael Rose – aqui entre nós, infinitamente superior. Em 1988, lançou One Blood. E foi cuidar de sua vida, gravando ao lado do grupo inglês Soup Dragons (na cover de “I’m Free”, dos Rolling Stones) e soltando trabalhos de qualidade superior ao Black Uhuru atual (Long Road, de 1993).

ROCK STEADY
Foi uma evolução mais sincopada e harmoniosa do frenético ska que saiu do sound system de Duke Reid no começo dos anos 60. Parente do rhythm & blues americano da época, mais lento e gostoso de se dançar junto, o gênero é o pai do reggae. Grandes nomes que você precisa conhecer: Alton Ellis, Paragons, Ken Boothe e Delroy Wilson.

ROMEO, Max
Coube a ele a “honra” de ter a primeira canção jamaicana a levar pau da censura inglesa. “Wet Dream” – ou “sonho molhado” – teve sua execução proibida pela BBC de Londres por causa do “conteúdo pornográfico” nos anos 60. Mas Romeo só disse a que veio mesmo nos anos 70, quando, ao lado de Lee Perry, gravou o álbum War In A Babylon. Isso foi em 1976, ano marcado por brigas entre os dois principais partidos políticos jamaicanos - com direito a distúrbios de rua e o escambau. As letras fortes de Romeo, que retratou bem o espírito da época, bateu forte nos poderosos da ilha.

ROSE, Michael
Antes de entrar para o Black Uhuru, na década de 70, Rose já havia estourado nos terreiros jamaicanos com “Guess Who’s Coming To Dinner”. Sua grande sacada vocal são os mantras que solta entre uma virada e outra de Sly & Robbie (um segredo: inventou aquilo porque simplesmente esqueceu o que ia cantar). Michael saiu do B.U. em 1984 e segue uma carreira irregular, dando uma no cravo (o bom disco Michael Rose, de 1995) e outra na ferradura (o chatérrimo Be Yourself, de 1986). Michael mudou a grafia de seu nome para Mykal Rose, aproveitando para modernizar o som.

ROOTS RADICS
A banda in da Jamaica nos anos 80. Gravou com todo mundo: de Gregory Isaacs (no magistral Night Nurse, de 1982) a Bunny Wailer (Rock & Groove). Com Dwight Pinkney na guitarra e Erol “Flabba” Holt no baixo, Style Scott na bateria e Steelie nos teclados, eles ajudaram a construir a história do reggae na década passada. Seu álbum World Peace III (de 1992) vale uma conferida.

SATTA
Rejubilar-se, meditar, agracer e rezar.

SAW, Lady
Perto do que esta moça faz, as reboladas de Cada Perez são brincadeira de criança e as simulações sexuais de Madonna não passam de fúria de freirinha. Lady Saw é uma safada (no melhor sentido da palavra) que tomou a Jamaica de assalto nos anos 90. Marion Hall - seu verdadeiro nome - era uma inocente cantora do sound system The Romantics. Não obteve o sucesso esperado porque sua voz era muito parecida com a de Tenor Saw - que ainda estava vivo e cantante nos terreiros da Jamaica. A opção que ela encontrou pela frente foi partir para a sacanagem. E nesse quesito teve iniciativa de vencedora. Nomes de algumas de suas músicas de sucesso: “Find A Good Man” (“Encontre Um Homem Decente”) e “Love Me Of Lef Me”. Nos shows, não é raro ela simular um ato sexual no palco e apalpar a genitália para delírio dos machões jamaicanos.

SCIENTIST
Praticante de bruxaria.

Nenhum comentário: