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quinta-feira, abril 23, 2009

Sex Pistols e Clash - Marcados Para Morrer (final)


No mesmo mês em que Sid Vicious morreu de overdose (fevereiro de 1979), o Clash dispensaria o empresário Bernie Rhodes. À moda de MacLaren, ele vinha tentando ditar ordens, chegando mesmo a sugerir a certa altura que Mick Jones deveria ser substituído por Steve Jones, do extinto Pistols.

De um ângulo mais positivo, o novo LP Give ‘Em Enough Rope obteve uma boa resposta de público e crítica. Ao contrário da estréia, desta vez a mixagem merecera trato especial e nem mesmo a exigente Epic hesitou em lançá-lo nos Estados Unidos, isto, claro, depois de alterar discretamente a capa...

A produção de Sandy Pearlman, espécie de braço direito do Blue Oyster Cult, mostrou-se eficiente, mas causou polêmica entre a ala punk, que temia que o Clash pudesse ser transformado num grupo de heavy metal. Ainda neste disco, é interessante notar que os créditos de capa mencionam uma faixa chamada “That’s No Way To Spend Your Youth”, que, todavia, não chegou a fazer parte do LP.

Em função da receptividade, o Clash finalmente fez sua primeira turnê americana, que contou com a participação especial do veterano Bo Didley como suporte. Todas as noites, sem exceção, tiveram lotação esgotada. Com o ego inflado e de volta ao lar, a banda ruminaria ao longo do segundo semestre de 79 algumas mudanças deflagradas durante a temporada nos EUA.

Fugindo da estagnação, várias formações surgidas do punk e outras tantas recém-montadas passaram a incursionar noutras frentes, operacionando aquilo que veio a ser identificado como new wave.

Atento à situação, o Clash não se furtaria a alterar sua imagem, ampliando inclusive as fronteiras de sua música a limites inimagináveis. O resultado deste processo foi exposto a apreciação no inicio de dezembro, através do álbum duplo London Calling.

Nas mãos do lendário Guy Stevens, responsável anos atrás pelos mais brilhantes discos do Mott The Hoople, London Calling (que por pouco escapou de ser pretensiosamente chamado de New Testament) apontava em múltiplas direções, arriscando investidas pelo rockabilly (via “Brand New Cadillac”, de Vince Taylor), reggae (“The Guns of Brixton”) e até bebop (“Jimmy Jazz”).

E isso não era tudo. Atingindo a maturidade, a parceria Strummer/ Jones exibia de cabo a rabo uma consistência poética ímpar, com o engajamento e a verve habituais lado a lado a ganchos melódicos de fazer inveja a qualquer artífice pop. Sem dúvida, uma obra-prima.

Se London Callling acabou proporcionando ao grupo acesso a um público maior e mais heterogêneo, ele também lançou as sementes da discórdia entre os músicos. Embora o Clash continuasse participando das chamadas causas nobres (sendo o concerto para os flagelados do Cambodja a mais celebrada destas), as divergências internas eram cada vez mais visíveis.


Enquanto Strummer declarava seu compromisso com o socialismo à imprensa, Jones ao mesmo tempo fazia questão de negar que ele e os outros membros levassem tão a sério as questões políticas. E mais: aos que o acusavam de se comportar como um guitar hero, ele diria: “No que diz respeito ao palco, não vejo nada de errado num bom solo de guitarra, já que você está lá também para divertir as pessoas”.

Em dezembro de 80, o álbum triplo Sandinista (uma óbvia referência ao exército popular que derrubara a ditadura de Anastásio Somoza na Nicarágua) manteve acesa a discussão, mas a guinada para as experimentações com dub, funk e disco – cortesia de Jones – desagradaram aos antigos fãs.

Quando o lançamento de Combat Rock, em maio de 82, levou um crítico a comparar o som do Clash ao do Fleetwood Mac, o desastre tornou-se inevitável. Paradoxalmente, Combat Rock seria o LP mais bem-sucedido da carreira deles, a ponto de ganhar um disco de platina: um certificado que, quer gostassem quer não, os elevava ao megastatus na arena do rock.

Aturdido com tais acontecimento, Joe Strummer sumiu do mapa durante um mês. No seu retomo Topper Headon deixaria o Clash em circunstâncias mal esclarecidas (hoje, sabe-se que o desligamento se deveu à dependência de heroína), sendo substituído por Terry Chimes temporariamente.

Um desiludido Strummer declararia aos jornais: “Nós estávamos tentando fazer algo mais, acreditávamos que havia verdades para serem ditas pela música. Nós realmente estávamos empenhados em catalisar uma nova era, mas ela não aconteceu. É por isso que hoje o Clash é um anacronismo”.

Enquanto isso o ano de 83 corria, com a taxa de desemprego em alta na Inglaterra e sem nenhum sinal de que a recessão estivesse para acabar...

Em maio, foi anunciado o nome do substituto definitivo para Topper Headon - Peter Howard, um sujeito de 23 anos que tocara anteriormente com o desconhecido Cold Fish. O grande cisma aconteceria mesmo em agosto com a expulsão de Mick Jones, em cima de um alegado afastamento das premissas originais do Clash.

O novo line-up da banda foi anunciado em 84. Além de Simonon, Strummer e Howard, dois novos guitarristas tinham sido recrutados, Vince White e Nick Sheppard (ex-membro do Cortinas). Assim, o Clash gravou o último disco oficial de sua história, Cut the Crap – um fiasco em todos os sentidos.

A idéia que o norteou foi um retorno às raízes punk, cujo co-autor foi o antigo empresário Bernie Rhodes. Em busca do tempo perdido, Strummer & cia naufragaram de vez. Os três novos demitiriam-se, Simonon desapareceria e Strummer ficaria só. Marcava-se o final de uma era.

Hoje, a herança do punk pode ser avaliada pelos milhares de jovens em todo o mundo que, a partir de 76, iniciaram-se na música sem levar em conta possíveis obstáculos como a falta de dinheiro ou formação técnica, intransponíveis até então.

E o mais importante: ao expor as entranhas das multinacionais e os mecanismos do sucesso, tanto o Sex Pistols como o Clash estimularam artistas e público a manter constante questionamento e vigilância sobre a cena do rock e suas vicissitudes.


No dia 22 de dezembro de 2002, Joe Strummer teve um colapso em sua casa em Somerset, na Grã-Bretanha, após ter levado seu cão para passear. A esposa do cantor ainda tentou revivê-lo, mas não conseguiu. Strummer, cujo nome de batismo era John Graham Mellor, nasceu em Ancara, a capital da Turquia em 1962. Ele era filho de um diplomata britânico que na época servia na Turquia.

Após a separação do Clash, Strummer realizaou uma série de projetos. Ele participou do grupo irlandês The Pogues e montou a sua própria banda – Joe Strummer and The Mescaleros (foto acima).

O último trabalho do guitarrista e cantor foi uma música em homenagem ao líder sul-africano Nelson Mandela, escrita em parceria com o líder do U2, Bono Vox, e Dave Stewart.

A música seria apresentada pelo trio em fevereiro de 2003, durante concerto beneficente para campanha contra a Aids, na Ilha de Robben, local onde Mandela ficou preso durante 18 anos.

Ele também fez pontas em longas metragens independentes – como Mistery Train, de Jim Jarmusch, e Straight to Hell, de Alex Cox.

Strummer sempre rejeitou propostas para reviver o Clash. Mas nos últimos anos rumores de que a banda iria voltar estavam ficando mais fortes.

Em novembro de 2001, Strummer e Mick Jones voltaram a tocar juntos pela primeira vez desde o fim do Clash durante um concerto para angariar fundos para os bombeiros britânicos, que estavam em greve.

Diversas personalidades do rock renderam homenagens a Joe Strummer.

O ex-guitarrista dos Sex Pistols, Steve Jones, afirmou que Strummer não era um “impostor” e acrescentou: “Ele tem um importante papel dentro de todo o movimento punk”.

Johny Ramone, ex-guitarrista da banda punk Ramones, foi outro contemporâneo do cantor que mencionou a integridade de Strummer e do Clash.

“Eles foram únicos, porque se separaram no auge da popularidade e, mesmo tendo várias propostas, nunca aceitaram voltar. Eles nunca se importaram com dinheiro”, afirmou o guitarrista.

Segundo o cantor e produtor Moby, “Joe e o Clash fizeram músicas emocionais e políticas, desafiadoras e experimentais e empolgantes e maravilhosas”.

Strummer deixou mulher e dois filhos.

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