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quinta-feira, julho 02, 2009

It's only rock & roll, but I like it


Silene e Antonio Diniz durante um pit stop básico na Praia do Futuro, em Fortaleza

Bastou o livreiro e ex-vereador Antonio Diniz, dono do Sebão de Manaus, ler aqui nesta banca de tacacá os elogios rasgados que fiz a respeito de um presente recebido do médico Arnaldo Russo para também me fazer uma surpresinha agradável. Dessa vez, quase enfio a mão em uma panela de água fervendo para saber se não estava sonhando. Explico melhor.

Na semana passada, Diniz adentrou abruptamente aqui em casa em companhia de sua patroa (minha irmã Silene) e me deu de presente um embrulho pardo. Conversamos animadamente sobre isso e aquilo outro, sendo isso e aquilo outro os novos livros que ele acabara de comprar em sua mais recente viagem ao Rio de Janeiro. Fiquei de passar no sebo, para conferir as novidades.

Dez minutos depois, os dois se despediram e meteram o pé na estrada, perigas ver. Quando desembrulhei o presente, quase cai pra trás: era o livro “The Rolling Stone Illustrated History of Rock & Roll”, de Jim Miller. Detalhe: a edição revista e atualizada publicada em 1980, que é muito mais abrangente do que a primeira versão original publicada em 1976. Puta que pariu!


O livro do Jim Miller tem o formato do meu “Alô, Doçura!” (28 x 22 cm) e está dividido em 83 capítulos, todos ricamente ilustrados. Na realidade, trata-se de uma coletânea de textos seminais publicados na revista Rolling Stone pelos melhores jornalistas da publicação (John Morthland, Ken Emerson, Ed Ward, Dave Marsh, Ken Tucker, Greg Shaw, Robert Palmer e o próprio Jim Miller, entre outros). Coisa finíssima, homeboys, acreditem!


O primeiro capítulo começa em 1934, quando o folclorista branco John Lomax e seu filho Alan estavam fazendo uma série de gravações de canções religiosas afro-americanas no sul do país, e o último capítulo termina em 1979, relatando o rebuceteio causado por Elvis Costello no programa “Saturday Night Live”, quando chamou Ray Charles de “um crioulo cego e ignorante” e detonou a “alienada música negra feita nos EUA”. O músico inglês estava nos States promovendo o disco “Armed Forces”, intitulado originalmente de “Emotional Fascism”.

Perto do livro de Jim Miller, o meu “Rock: a música que toca” não passa de um panfleto vagabundo, distribuído por meninas desleixadas embaixo dos semáforos em dias de chuva. Estou me preparando espiritualmente para traduzir essa bíblia definitiva do rock & roll por dois motivos. Primeiro, porque nenhum editor brasileiro, pelo visto, se interessou até hoje pelo assunto. Segundo, porque ela abrange as três décadas (50, 60 e 70) do rock que sempre me interessaram. O New York Times informará.


Bom, mas o espanto inicial não parou por aí. Dentro do embrulho, junto com o livro, também estava uma caixa com cinco DVDs intitulada “A História do Rock & Roll”, um documentário da muléstia montado a partir de 10 mil horas de imagens de arquivos e shows, com mais de 250 músicas e 1800 clipes. Puta que pariu três vezes!


O documentário foi produzido por David Axelrod, Quincy Jones, Bob Meyrowitz e David Salzman, com a supervisão técnica do já citado Jim Miller, que também assina os textos introdutórios do encarte. São dez episódios (dois em cada DVD) divididos por etapas cronológicas, mas obedecendo um encadeamento lógico mostrando a evolução do rock, com homenagens, observações curiosas e depoimentos de quem esteve no olho do furacão. Ouro puro. Prestem atenção na seqüência dos episódios:


O Rock & Roll Explode – É um caleidoscópio de memórias musicais. Em entrevistas com algumas das mais brilhantes estrelas do rock, de Little Richards a Mick Jagger, de Bruce Springsteen a Bono Vox, são lembradas as canções e sons que mudaram suas vidas. E uma coletânea de clipes revela as primeiras estrelas do rock: Muddy Waters, Chuck Berry e Little Richards. A sexy thing Tina Tuner recorda os dias de trabalho duro nos campos de algodão e nas noites embaladas pelo sonho de sua carreira musical.

Rock da Pesada Esta Noite – Reconta os dias de glória da era de ouro do rockabilly: Elvis Presley, Buddy Holly, Little Richards e Jerry Lee Lewis. Vale lembrar que, na época, o rock era dominado pelos ídolos adolescentes com estilos agitados de dança como o twist, que tinha como profeta-mor Chubby Checker. Mas, como revelam os clipes de Ben E. King e dos Ronettes, de Phil Spector, havia ainda muito mais reservado para o rock do que apenas um bando de garotos tentando ser o próximo Elvis The Pelvis.


Os Britânicos Invadem, Os Americanos Resistem – O renascimento do rock entre os anos de 1962 a 1966. Imagens inéditas mostram os Beatles, em 1963, os Rolling Stones, em 1965, os Kinks, em sua primeira apresentação, e o The Who ovacionado por seu público “mod”, brilhando com “I Can’t Explain”. A galera dos Beach Boys explica como as bandas britânicas estimulavam a criatividade deles. As gatinhas do Supremes e os moleques do Lovin’ Spoonful recriam uma nova era quando o rock & roll ainda era jovem e cheio de alegria.

O Som do Soul – Enraizado no gospel, desenvolvido sob a influência da música popular tradicional, com uma forte dose de sentimentalismo oriundo do rhythm & blues, os primeiros frutos do soul só floriram no final dos anos 50. Seus pioneiros incluem Sam Cooke, Ray Charles, Jackie Wilson e “o mais esforçado operário do show business”, o inesquecível James Brown. De quebra, ainda curtimos três gerações de cantores de soul reunidos no Teatro Apollo, no Harlem, para discutir o significado do gênero.


Ligando-se na Tomada – Quando Bob Dylan trocou seu violão acústico pela guitarra elétrica e começou a tocar rock & roll no Festival Folk de Newport, em 1965, quase causou um alvoroço. O rock se reinventou de novo na metade dos anos 60. Imagens históricas de The Byrds e The Mamas and The Papas criando um novo som com “California Dreamin’”. Brian Wilson, membro do The Beach Boys, fala da pressão que sentiu ao competir com os Beatles. The Who e Jimi Hendrix agitam no Festival Pop de Monterey.

Minha Geração – Relembra o renascer vertiginoso e a angustiante queda da contracultura dos anos 60. Em raríssimas imagens, vemos algumas das bandas responsáveis pelo decantado “Verão do Amor”, em San Francisco, que impulsionou o psicodelismo e o movimento hippie em escala planetária. The Grateful Dead, Santana e Jefferson Airplane tocam juntos, enquanto Janes Joplin aparece ao lado de Big Brother e The Holding Company em uma versão inflamada de “Ball and Chain”. Para os saudosistas, algumas performances clássicas do Festival de Woodstock.


Heróis da Guitarra – O episódio está focado nos tempos pioneiros dos “guitar heros”, de Chuck Berry a Jimmy Page, e também em alguns heróis pouco conhecidos como o virtuoso James Burton. Pete Townshend descreve como seus movimentos (que lembravam um moinho de vento), sem que soubesse, o aproximava de Keith Richards. Mark Knoffler, Eddie Van Halen, Slash e Jimi Hendrix mostram como desvendar aquilo que Pete Townshend chama de “poesia física” da guitarra elétrica.

Os Anos 70 – Recaptura os pontos altos e a debochada decadência dos anos de glamour de rock. Jimmy Page e Robert Plant mostram as origens do Led Zeppelin. David Gilmour lembra como foi feito o álbum “Dark Side of the Moon”. Lindsey Buckingham, do Fleetwood Mac, executa uma versão improvisada de “Go Your Own Way” e explica o significado pessoal da música. David Bowie mostra porque virou um ícone do glitter rock a bordo de seu desbundado traje de Ziggy Stardust.


Punk – O episódio documenta como esse gênero musical usou canções curtas e simples para “reiventar” o rock & roll pela enésima vez. As raízes do punk nas ruas e na boemia do Velvet Underground, na feiúra deliberada de Iggy Pop e no amadorismo camp (pouco casual) do New York Dolls. Acompanhamos a cena punk surgindo em New York, no clube CBGB, lar dos Ramones, Richard Hell, Talking Heads, Blondie, Television e Patti Smith. Conhecemos a rápida ascensão e meteórica queda do gênero na Inglaterra, através de uma das primeiras apresentações do Clash.

Do Underground à Fama – Esse último episódio mostra como o rock se transformou na new wave nos anos 80, com a chegada da MTV. Membros do Devo e do Eurythmics explicam como eles produziram seus próprios vídeos musicais. Antigos clipes mostram apresentações de rappers pioneiros como Kurtis Blow e Grandmaster Flash. Conferimos a ira santa dos rappers hardcores, como Public Enemy e N.W.A. O combo Run D.M.C., que fundiu rock e rap, aparece improvisando novas músicas. O rei do pop Michael Jackson brilha no vídeo “Billie Jean”, que quebrou as barreiras raciais. Curtimos a versão integral do clipe “Justify My Love”, de Madonna, que foi banido da MTV. E a constatação: o rap se transformou no novo rock.

Pois bem, homeboys! Se nos próximos dois meses vocês não me encontrarem mais pelos botecos decadentes, casas de tolerância e baladas undergrounds não pensem que morri. É que vou estar me refestelando com esses dois novos presentes ofertados pelo Antonio Diniz. E ainda tem gente que diz que cunhado não é parente. Valeu, parente!

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