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segunda-feira, agosto 10, 2009

ABZ da Guitarra Elétrica em 10 Lições – Take 6


The show must go on... Swinging London – Em meados de 1966 já despontavam no meio musical londrino os primeiros sinais de uma estética que seria inaugurada oficialmente com o lançamento de Sgt. Peppers (1967): longos solos, uso de distorção e instrumentos exóticos e arranjos insólitos.

Uma das vertentes na criação do psicodelismo está no Wilde Flowers, formado em Canterbury em 1963 pelo guitarrista/ baixista Kevin Ayers e o baterista Robert Wyatt, que saíram do grupo para se juntar ao guitarrista australiano Daevid Allen e ao tecladista Mike Ratledger no Soft Machine três anos depois.

Em pouco tempo, eles foram para Londres para tocar no clube underground UFO. Suas apresentações reuniam arranjos sofisticados e experimentações com o jazz contemporâneo, em longos climas instrumentais (nos quais eventualmente contavam com a participação do guitarrista Andy Summers, futuro Police), e eram divididas com um outro grupo chamado Pink Floyd, que desenvolvera o seu som psicodélico por outras vias.


Natural de Cambridge, Syd Barrett - guitarrista e principal compositor do Pink Floyd - era fascinado pelo som dos Beatles e dos Stones e começara tocando standards de R&B com seus companheiros de colégio: o baixista Roger Waters, o tecladista Richard Wright e o baterista Nick Mason.

Depois de se juntarem por pouco tempo ao guitarrista Bob Close, adotaram o nome de Pink Floyd (por sugestão de Syd, em homenagem a Pink Anderson e Floyd Council, os compositores de um de seus blues prediletos) e começaram a forjar uma nova concepção musical para o grupo: de um lado, as canções lisérgicas de Barrett e o uso sutil que fazia de seu instrumento e dos pedais; de outro, temas longos e difusos, entrecortados pelos seus solos de guitarra alucinados.

Porém, toda a criatividade de Barrett - expressa claramente no primeiro LP do Pink Floyd, The Piper at the Gates of Dawn (1967) e em músicas como “See Emily Play” e “Arnold Laine” - parecia estar envolta numa aura de loucura, em parte ocasionada por seu consumo massivo de LSD.


Em 1968, Syd começou a dar evidentes sinais de perturbação mental e seu velho amigo David Gilmour foi chamado para auxiliá-lo nas guitarras, terminando por substituí-lo. Syd ainda gravaria dois discos solo com a ajuda dos membros do Floyd, antes de se evanescer do meio musical, tornando lendário seu nome.

Enquanto o Soft Machine rumava numa direção mais jazzística, o Pink Floyd, com Gilmour na guitarra, ia lançando as bases do que viria a ser conhecido na década seguinte por rock progressivo: arranjos elaborados com influência da música clássica e farta utilização de pedais e efeitos.

Entre os precursores desta linha também estavam os guitarristas David O’List, do Nice, Roy Wood e Trevor Burton, do Move, Charlie Whitney, do Family, e Dave Mason, do Traffic, que optavam por uma sonoridade mais rebuscada em seus instrumentos.

A procura de novos efeitos para a guitarra era constante, o que fez surgir outros tipos de pedais. O phaser era usado pela primeira vez pelo guitarrista Steve Marriott, dos Small Faces, em 1967 (“Itchycoo Park”), e novos tipos de distorção eram criados, fazendo os limites do instrumento se expandirem cada vez mais.

Porém, junto a esta tendência experimental, também havia espaço para o autêntico blues britânico. E na vertente aberta pelo Jeff Beck Group, apareceram o Fleetwood Mac - com os guitarristas Peter Green (que tinha substituído a Eric Clapton nos Bluesbreakers de John Mayall) e Jeremy Spencer - e o velocíssimo Alvin Lee, com seu Ten Years After (que faria sensação no festival de Woodstock, em 1969).

Mas, sem dúvida, o grande astro da guitarra na Swinging London foi um guitarrista americano, que marcou de forma definitiva a história do instrumento e lançou as bases da maior parte das tendências musicais que seriam criadas nas décadas seguintes, pincelando novas paisagens musicais com sua Stratocaster. Seu nome era Jimi Hendrix.


Hendrix: Um Beijo no Céu – Além de repercutir na Inglaterra, dando origem a uma fantástica safra de guitarristas, a explosão do rhythm’n’blues durante a década de 50 nos EUA também gerou a figura solar de James Marshall Hendrix - nascido em 1942, na cidade de Seattle -, que revolucionou totalmente a concepção de execução do instrumento e, durante sua breve passagem pelo meio musical - interrompida bruscamente por sua morte em 1970 -, praticamente reinventou a guitarra, partindo do R&Be do rock para experiências cada vez mais ousadas, que já anteviam o jazz rock, o heavy metal e o som progressivo da década que se iniciava.

Músico autodidata, ainda na adolescência Jimi já dedilhava o violão e aos 15 anos ganhou sua primeira guitarra, uma Epiphone, que logo substituiu pela Fender Stratocaster, a predileta durante sua meteórica carreira.

Apesar de ser canhoto, Jimi usava o modelo comum, para destros, invertendo a posição das cordas e do capotraste - presilha (de plástico ou metal) que alinha as cordas na extremidade do braço da guitarra.

Assim, tocou em várias bandas locais, e em 1959 alistou-se na Força Aérea, servindo como pára-quedista. Com fraturas variadas, foi dispensado pouco mais de um ano e meio depois, retornando à sua velha paixão.

Se no início dos anos 60 o jazzista Wes Montgomery causava sensação com sua técnica de soar as notas da guitarra com o polegar - um método considerado “errado” pelos especialistas - e suas harmonias em oitavas, Hendrix ia bem mais além, começando a se destacar nas bandas por onde passava pela criatividade de seus solos e pela inacreditável maneira com que tocava a sua guitarra: com os dentes, com a língua, de costas, com o pedestal do microfone ou usando o feedback e modulando a microfonia através da alavanca da sua Stratocaster, extraindo assim melodias do puro ruído.

Já os primeiros sinais dessa sua performance à parte fez com que o enciumado Little Richard o expulsasse de sua banda, alegando que ele estava ofuscando seu brilho. Mas nessa época, quando foi para Nova York, Jimi também acompanhou vários nomes do blues e principalmente da soul music, como Sam Cooke, Wilson Pickett, B.B. King, Ike and Tina Turner, King Curtis e Isley Brothers, entre outros.


Em 1965, Hendrix tocava em clubes do Greenwich Village sob o pseudônimo de Jimmy James, quando Chas Chandler (ex-baixista dos Animais) o levou para Londres, onde formou o Experience, um power trio pioneiro, que aliava a guitarra de Hendrix ao baixo de Noel Redding e à bateria de Mitch Miller. Já com os primeiros singles – “Hey Joe” e “Purple Haze” -, logo seguidos do primeiro LP, Are You Experienced?, Jimi conquistou a Swinging London em 1967.

No meio do ano, o Experience estava nos EUA, quando tocou no festival de Monterey, com Hendrix incendiando sua guitarra no final da apresentação. Suas performances iam tornando-se cada vez mais selvagens, chegando a um ponto que Jimi começou a acreditar que o público acorria a seus concertos menos por seu som do que para ver as loucuras que praticava em cena.

Tanto que, na segunda vez que Hendrix retomou ao seu país natal - para promover o segundo LP do Experience, Axis: Bold as Love -, adquiriu uma postura muito mais sóbria, dedicando-se exclusivamente à parte musical. Foi nessa época que começou a construir seu próprio estúdio de gravação: o Electric Lady, em Nova York.

No fim de 1968 foi lançado o álbum duplo Electric Ladyland, e em seguida Redding saiu do grupo, sendo substituído por Billy Cos, um antigo amigo de Hendrix nos tempos de caserna.

No ano seguinte tocaram em Woodstock, onde Jimi destruiu literalmente o hino nacional americano, Star Spangled Banner, para depois emendar com um de seus solos mais antológicos (“Instrumental Solo”), momentos registrados no disco/filme Woodstock.

Pouco depois o Experience se dissolve, e Hendrix se afasta do cenário musical pelo resto de 1969, para retomar na noite de Ano-novo apresentando a Band of Gypsies - Cox no baixo e Buddy Miles (ex-Electric Flag) na bateria - em um show no Filmore East, em Nova York.


Essa formação só durou alguns meses, e Hendrix recrutou Mitchell para a bateria novamente. É com ele que o guitarrista grava o seu último disco oficial, Cry of Love, e se apresenta no festival da Ilha de Wright, pouco antes de morrer, em Londres.

Além da sua favorita - a Fender Stratocaster, na qual fazia um arranjo elétrico que permitia a ligação de dois dos três captadores da guitarra simultaneamente, o que não é possível preservando as ligações elétricas vindas de fábrica -, Hendrix também usava eventualmente as Gibsons Les Paul e Flying V (com o corpo no formato desta letra) e, raramente, uma Fender Telecaster.

Pedais e efeitos sonoros como o wah-wah, fuzz, flanger, oitavador e câmaras de eco devem grande parte de seu desenvolvimento técnico à forma pela qual Jimi os usava. O mesmo poderia ser dito a respeito dos sistemas de amplificação, a ponto de fábricas como a Marshall e a Sunn chegarem a fornecer amplificadores e manutenção de equipamentos para o Experience em troca das pesquisas e das sugestões técnicas de Hendrix.

Com a mesma preocupação de experimentar, Jimi também se utilizava de todos os recursos disponíveis em estúdio, o que tornou os seus álbuns verdadeiras aulas de gravação/mixagem, pelo uso inovador de efeitos como o pan (obtido no sistema estéreo, no qual um som passa de um canal para outro) e pelos timbres de guitarra conseguidos. Uma figura fundamental para toda a música moderna. Depois de Hendrix, a guitarra nunca mais seria a mesma.

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