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sábado, outubro 24, 2009

Gracias a la vida!


Márcio, Marcelo, meu velho pai Simão e Vinicius, no colo do Márcio

Há quatro anos (lembro, porque estava começando a trabalhar no jornal Correio Amazonense), um dos meus primogênitos (sim, tive gêmeos), Marcelo, ligou pra redação. Sua esposa, Cida, estava tendo problemas com a primeira gestação.

Pela primeira vez na vida fiquei nervoso. Tive seis filhos com três mulheres diferentes e nenhuma delas (a exceção foi a Veremity, com a minha caçula Marisa, que segurou uma pré-ecamplisia e no final deu tudo certo) teve problemas pra parir.

Não lembro bem o que conversei com o Marcelo, mas recomendei que a Aparecida fosse internada imediatamente na recém-inaugurada maternidade Ana Braga. Ele seguiu meu conselho.

Uma semana depois, Marcelo me telefonou de novo. A Cida havia dado luz a um menino, Guilherme, mas ele havia nascido prematuramente. Pesava menos de dois quilos e estava na UTI do hospital.

O meu nervosismo inicial se transformou em desespero. Liguei para todos os meus amigos médicos conhecidos explicando o drama. Eles e a equipe médica da maternidade fizeram o possível e o impossível pro meu neto sobreviver. Guilherme preferiu ir embora. Registrei o esforço dos médicos na coluna que escrevia no jornal.

Fui ao hospital ver o moleque, com uma sensação de morte na garganta. Quando vi aquela criaturinha indefesa, que caberia perfeitamente dentro de uma das caixas dos meus tênis, meu mundo desabou.

O choro sofrido saiu quase naturalmente. Impotente, eu tentava entender aquela situação. E se o Marcel tivesse morrido quando nasceu junto com o Marcelo e ficou internado na maternidade enquanto o outro foi pra casa?

Pela primeira vez na vida eu sentia a merda de perder um neto - e estive muito perto de perder um filho, mas falo disso outro dia. Fiquei inconformado.

Dor semelhante eu só havia sentido quando a doce Celeste, minha mãe, havia partido pro Céu em 1978, na flor dos seus 46 anos.

Mais uma vez fiquei revoltado com Deus. Infelizmente, o filho da puta não me respeita.

Marcelo estava cuidando das coisas práticas. Pretendia enterrar o Guilherme no cemitério do Parque Tarumã, do outro lado da cidade, lá na zona oeste.

Fiquei puto. Se a nossa família tinha (tem) um jazigo perpétuo no cemitério do São João Batista, na zona sul, onde já repousavam minha mãe Celeste, minha avó Rosa e meu tio Zé Bandeira, por que meu neto teria que ser exilado?

Telefonei pro papai e expliquei a situação. Desconfio até hoje que ele ficou assustado com a minha argumentação raivosa. Mas acabou concordando. Guilherme foi enterrado ao lado de sua avó, de sua bisavó e de seu tio em segundo grau.

Há um ano, a doce Cida emprenhou de novo. Nasceu o Vinicius, tão lindo quanto o Guilherme (que, papo sério, tinha a minha cara!) e o Matheus (filho da doce, zelosa e querida Maíra – jornalista de talento que nem o pai, é bom frisar!), que tem a cara do grande André, alma gêmea da minha Maíra.


Esse é o Vinicius, o sacaninha com jeito de espada matador que nem o avô


Hoje, a gente vai comemorar o primeiro ano do safado. E comemorar também o fato de ele ser o primeiro macho da família, na terceira geração, a perpetuar o sobrenome “Pessoa”. Não é pouca porcaria.

Ave, Vinicius! Os que vão morrer - começando pelo teu avô - te saúdam!

Feliz aniversário, moleque!

E, a exemplo dos varões e das molecas da família, espero que você também seja um gauche na vida.

Pra dar um toque mais técnico na coisa, transcrevo abaixo o “Poema de Sete Faces”, do Carlos Drummond de Andrade, que espero, um dia, seja sua bússola e farol:

Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
Que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
Não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
Pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
Não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
É sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos , raros amigos
O homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonastes
Se sabias que eu não era Deus
Se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
Se eu me chamasse Raimundo,
Seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
Mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
Mas essa lua
Mas esse conhaque
Botam a gente comovido como o diabo.


Post Scrimptum pra Marcelo e Cida: obrigado por tudo! Amo vocês!

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