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sexta-feira, agosto 27, 2010

Declaração de voto para senador: Artur Neto 451

Conheço o senador Artur Neto há exatos 32 anos. Diferente de alguns políticos que começaram sua vida política na direita (Arena, PDS, PFL) e depois migraram para a esquerda, Artur Neto começou na esquerda e lá permanece até hoje.

Em 1978, seu pai, o saudoso Artur Virgílio Filho, sem sequer nos conhecer direito (a mim e a Adalberto de Melo Franco, Engels Medeiros, Mário Adolfo, Carlos Almeida e Geraldo Nogueira), nos ajudou a se livrar de uma presepada armada pelos bate-paus da repressão por meio do também saudoso advogado Alberto Simonetti.

Além de ficarmos amigos de infância e eternamente gratos ao senador pelo resto da vida, eu e Mário Adolfo passamos a frequentar seu apartamento no edificio Antonio Simões para conversar sobre política, recitar poemas de Pablo Neruda e encher a cara de birita.

O querido “Tio Àrtur” (era assim que eu e Mário Adolfo o chamávamos, com a sílaba tônica no “a” como na pronúncia inglesa porque pra gente Artur Virgilio Filho era um sofisticado lorde inglês perdido no meio da barbárie tropical) nos apresentou ao seu filho mais velho, o querido Artur Neto, então candidato a deputado federal, e nós dois viramos cabos eleitorais dele na mesma hora.

 Artur Neto nasceu em Manaus, mas passou a adolescência e a juventude no Rio de Janeiro, onde se formou em Direito. Foi um destacado líder estudantil nos anos de chumbo e se filiou ao MDB velho de guerra em 1966.

Diplomata de carreira, concluiu o Instituto Rio Branco em 1976. Foi professor de inglês e francês, tendo realizado cursos de aperfeiçoamento nas Universidades de Michigan (USA) e Cambridge (UK).

Em 1978, ele saiu candidato a deputado federal pelo MDB, mas acabou ficando na primeira suplência. Em 1982, se elegeu deputado federal pelo PMDB.

Exemplo raro de cafuzo sem melanina, daí o apelido de “Macaxeira”, Artur Neto virou político por uma contingência familiar.

Em dezembro de 1968, nas vésperas do AI-5, o ex-líder do PTB no Senado e então vice-líder do MDB, Artur Virgílio Filho, fazia um discurso destemperado, valente, raivoso, denunciando os horrores da ditadura militar, numa sessão do Congresso.

– Que nos fechem hoje, mas com o povo que nos assiste ao nosso lado, e não nos fechem amanhã, ingloriamente, com o aplauso do povo brasileiro, como aconteceu em 1937! – vociferava o senador.

Vice-líder do MDB na Câmara e amigo de Artur Virgílio, o deputado Paes de Andrade pede-lhe um aparte, para se solidarizar com ele. Artur Virgílio faz que não vê. Paes insiste, Artur Virgílio não dá a mínima. Quando desceu da tribuna, Paes foi lhe cobrar:

– O que é isso, Virgílio? Como é que você me negou um aparte?...

– Paes, eu hoje não fiz um discurso, fiz um requerimento. Esse discurso é um requerimento de cassação. Você não tinha nada que entrar no meu requerimento. Cumpri meu dever de trabalhista e vice-líder da oposição e sei que eles vão me cassar. Estou indo embora, mas você precisa ficar para continuar lutando pela redemocratização do país.

Dito e feito. No mês seguinte, o senador foi cassado.

Catorze anos depois, o filho mais velho estava em Brasília dando continuidade à luta do pai.


Dono de um discurso fluente e vigoroso, Neto logo conquistou o Congresso e virou “arroz-de-festa” dos movimentos sociais.

Começaram a chover convites para ele fazer palestras em sindicatos e dar apoio político às greves de trabalhadores em todo o país.

Em 1984, ele estava em Fortaleza, participando de uma manifestação dos professores contra o governador Luiz Gonzaga Mota, o “Totó”, na frente do Palácio da Luz, quando o líder do governo na Assembleia, deputado estadual Ciro Gomes (PDS), veio tomar satisfações:

– O senhor não tem vergonha de vir lá do Amazonas participar dessa baderna?... – disparou Ciro, visivelmente irritado.

De cima do trio elétrico, Artur Neto não negou fogo:

– Vergonha devia ter o senhor, que serve com fidelidade canina a um ditadorzinho provinciano com nome de vira-lata. Quem esse Totó pensa que é pra fazer essa cachorrada com os briosos professores da terra de Iracema?...

A multidão aplaudiu ruidosamente Artur Neto, mas o bate-boca entre os dois logo enveredou pela baixaria e contribuiu para torná-los inimigos irreconciliáveis até hoje.

Em 1986, Artur Neto se filiou ao PSB e foi candidato a governador pela oposição. Perdeu para Amazonino (PMDB), apoiado por Gilberto Mestrinho.

Em 1988, foi candidato a prefeito de Manaus, de novo pela oposição, e derrotou Gilberto Mestrinho (PMDB), apoiado por Amazonino.

Em 1989, a pedido do senador Mário Covas, Artur Neto se filiou ao PSDB.

Em 1990, Ciro Gomes se elegeu governador do Ceará pelo PSDB.

No ano seguinte, o ex-vereador Robson Tiradentes, na época um dedicado aspone de Artur Neto na prefeitura, embarcou num avião em Teresina, com destino a Brasília, quando notou o governador tucano lendo um jornal, ao lado de um assento desocupado. Inocente, puro e besta, Robson sentou-se ao lado de Ciro e puxou assunto:

– Eu sou um grande admirador do seu trabalho, governador! – babou ele. “Acho que o senhor está fazendo um governo pai-d’égua!”.

Ciro, com aquele seu ar imperial, dobrou o jornal, virou-se para o desconhecido e o interpelou:

– É? E quem é você?...

– Ah, eu sou lá de Manaus e trabalho com um grande líder do seu partido...

– É? E quem é ele?...

– O prefeito Artur Neto, governador!

Ciro ficou olhando para Robson como se estivesse analisando um inseto. Aí, espumando de ódio, rodou a baiana:

– O senhor é muito atrevido! Muito folgado! Retire-se daqui agora mesmo! Retire-se agora mesmo ou vou perder a compostura!!!

Com medo de ser estapeado, Robson trocou de lugar.

Ele só foi entender a história quando contou o incidente para o prefeito. Que, claro, morreu de rir.

 Como deixar de votar em um senador com um senso de humor desse naipe? Nem morto, zifio, nem morto.

Artur Neto merece voltar ao senado - e, se depender de mim, ele já pode se considerar eleito. É isso aí!

quinta-feira, agosto 26, 2010

Declaração de voto para deputado federal: Pauderney 2525


 Existem bons motivos para a gente (eu e você, caro leitoro, caríssima leitora) votar em Pauderney e vou enumerar alguns deles.

Durante oito anos consecutivos, ele foi considerado pelo respeitado Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) como o melhor deputado federal do Amazonas e um dos 100 políticos mais influentes do país.

Em 2006, Pauderney ganhou destaque na imprensa nacional (Jornal do Brasil, Folha de São Paulo) ao ser citado como o parlamentar mais presente na Câmara de Deputados, participando ativamente de todas as votações de matérias de interesse do Amazonas.

Mas não é só isso. Em 16 anos de vida pública, com quatro mandatos seguidos de deputado federal (1990-2006), Pauderney nunca esteve envolvido em um único escândalo político de qualquer natureza. É um autêntico “ficha limpa”.

O que você talvez não saiba é que Pauderney também foi o parlamentar que mais trouxe recursos financeiros para o Amazonas. Vou só citar alguns exemplos desses recursos, obtidos durante o seu último mandato de deputado federal.
 Verbas do SUS – Até 2002, o Sistema Único de Saúde repassava para o Amazonas o valor de R$ 38,00 por habitante/ano. Em negociação na Comissão de Orçamento do Congresso Nacional com o Ministério da Saúde, Pauderney conseguiu elevar esse valor para R$ 68,00 por habitante/ano. Em sete anos, isso representou uma transferência adicional de mais de R$ 1,5 bilhão para o sistema de saúde do Amazonas.

Geração e Distribuição de Energia – Em 2003, em negociação na Comissão de Orçamento do Congresso Nacional com a então ministra de Minas e Energia, Dilma Roussef, Pauderney conseguiu fazer um remanejamento de verbas do orçamento do ministério, que resultou em R$ 330 milhões aplicados integralmente na modernização das usinas termoelétricas e na expansão da rede de distribuição elétrica no interior.

Pólo de Componentes – Em 2003, durante a reforma tributária, Pauderney negociou pessoalmente com a Receita Federal para que a produção de componentes do Pólo Industrial de Manaus tivesse alíquota zero na cobrança de PIS/Cofins. Ao longo desses seis anos, as empresas de componentes deixaram de pagar R$ 5 bilhões de impostos e geraram mais de 20 mil novos empregos.

Pólo de Duas Rodas – Durante a reforma tributária, foi elevada a contribuição do Pis/Cofins dos fabricantes de motocicletas de 3,65% para 13%, em todo o território nacional. Pauderney conseguiu aprovar pela Receita Federal uma Instrução Normativa em que os fabricantes do Pólo Industrial de Manaus continuariam recolhendo o mesmo valor anterior (3,65%). Ao longo desses seis anos, as empresas do pólo de duas rodas deixaram de pagar R$ 2,2 bilhões de impostos e geraram mais de 10 mil novos empregos.


Taxa da Suframa – Em 2000, Pauderney apresentou um projeto de conversão da medida provisória que criava a Taxa da Suframa, que resultou em uma arrecadação de cerca de R$ 200 milhões/ano para a autarquia. Esse dinheiro deveria ser aplicado na manutenção de ações administrativas e na promoção do desenvolvimento econômico da Amazônia Ocidental. De lá pra cá, a Suframa já arrecadou mais de R$ 1,5 bilhões estando, atualmente, com cerca de R$ 800 milhões contingenciados pelo governo federal.

Hospital do Câncer – Por meio de emendas ao orçamento, Pauderney conseguiu R$ 17 milhões para a construção do novo hospital da Fundação Cecon.

Infra-estrutura – Por meio de emendas ao orçamento, Pauderney conseguiu R$ 5 milhões para o recapeamento asfáltico da Ponta Negra, Darcy Vargas, V8 e estrada do Contorno até a Bola da Suframa.

Saneamento – Por meio de emendas ao orçamento, Pauderney conseguiu R$ 5 milhões para canalização de igarapés no Jorge Teixeira, Alvorada e Compensa.

 Mercado Adolpho Lisboa – Por meio de emendas ao orçamento, Pauderney conseguiu R$ 3 milhões para as obras de reforma e restauração do mercado Adolpho Lisboa.

Casas populares – Por meio de emendas ao orçamento, Pauderney conseguiu R$ 5 milhões para a construção de casas populares no interior do Amazonas.

Saúde – Por meio de emendas ao orçamento, Pauderney conseguiu R$ 8,5 milhões para a estruturação (compra de aparelhos médicos e equipamentos) de unidades de atenção especializada em saúde no Estado do Amazonas

Sanitários – Por meio de emendas ao orçamento, Pauderney conseguiu 16,7 milhões para implantação de melhorias sanitárias domiciliares para prevenção de controle de agravos nos municípios mais carentes do Amazonas.

Remédios – Em negociação direta com a Anvisa e a Receita Federal, Pauderney conseguiu a isenção de Pis/Cofins para os remédios comercializados no Amazonas. Esta conquista significou uma redução de 10% no preço final dos medicamentos. O valor desse benefício para o cidadão amazonense é simplesmente imensurável.

Bom, essas são apenas algumas das ações que credenciam Pauderney a receber um voto de confiança dos eleitores amazonenses.

Eu vou votar nele também por outros motivos: fomos companheiros de sala na ETFA, quando éramos adolescentes, companheiros de trabalho na Sharp do Brasil, quando éramos todos jovens, e somos amigos há mais de 40 anos. 

E a verdadeira amizade, conforme se sabe, não tem preço.

quinta-feira, agosto 19, 2010

O Manifesto Masculinista de Marcelo Mario de Melo


Masculinismo é a palavra nova que aponta o caminho da masculinidade sem machismo. A partir dela, e sob a forma de um manifesto, o autor satiriza os padrões asfixiantes que envolvem a condição humano-masculina nos dias atuais. Com humor ferino, sem vitimismo nem arrogância, são apresentadas reivindicações e propostas para uma convivência mais solidária entre os diversos segmentos sexuais.

Contra: o terror machista; a ditadura clitoriana; o autoritarismo gay.

Sarro inicial/prefácio

O Manifesto Masculinista tornou-se público em setembro de 85, nas páginas do “Rei da Notícia”, jornal de humor editado no Recife até 1988.

Posteriormente reproduzido no Pasquim (ed. 848, Rio 10/10 a 16/10/85), estimulou o manifesto do MMC – Movimento Masculinista Carioca.

Foi comentado em artigo da Playboy (ed. 34, set/86), transcrito com algumas alterações no jornal feminista Mulherio n° 25, SP, março-agosto/86, indicado no “TIL Notícias” n° 3, dezembro/86, das Edições Trote, resenha editada por Leila Miccolis no Rio.

Jean Claude Nahoum o transcreveu no livro “A Construção da Sexualidade Feminina”, da Eleá Ciência Editorial Ltda, Rio 89.

Em cidade sulista de que não me recordo, um vereador petista o imprimiu como instrumento de campanha eleitoral, em 88.

De vez em quando, sei da sua multiplicação em cópias xerográficas ou mimeografadas.

Quatro anos depois de ser lançado, o texto foi republicado no Jornal do Commercio, Recife, edição 4-9-89.

Na ocasião, assinalei em entrevista a inclusão da licença-paternidade na Constituição Federal de 88 e toquei na questão da AIDS, colocada em primeiro lugar nas paradas do sucesso mórbido e atribulando, particularmente, o segmento masculinista dos refratários ao preservativo.

Relendo hoje o manifesto, considero-o válido como documento de instigação e não me proponho a alterá-lo. Nesta edição, apenas, ligeiras novidades, como o esclarecimento de que a “opção fundamental” pelas mulheres é fundamental e exclusiva, a “liberação da lágrima masculina” posta em local mais adequado, a “Nova República do machismo” trocada pelo respectivo “neoliberalismo”, o acréscimo de que, “nas coisas de coração e cotovelo”, todo homem é igual a qualquer mocinha.

Além de se reivindicar: a plena igualdade de acesso homem/mulher, usando-se bermudas e camisetas sem mangas; a condição de “primeiros cavalheiros”, com direito à Legião Assistencial competente, caso companheiros de prefeita, governadora ou presidenta; o fim do serviço militar obrigatório e exclusivo para homens.

No texto se rejeita o modelo de masculinidade que nos é imposto desde criancinhas, propondo-se uma masculinidade sem machismo. O que não tem nada a ver com tiradas tipo: “lado feminino” do homem para qualificar suas expressões de leveza e ternura é tão primário e ridículo quanto se atribuir a um pretenso “lado masculino” da mulher, suas impulsões de combatividade e firmeza.

Masculinistas desumildes e desarrogantes, proclamamos que nossa condição humana é o melhor de nós e rejeitamos todas as fórmulas simplificadoras para interpretar o nosso gênero e equacionar as possibilidades do bem-estar humano-masculino.

Recusamo-nos a substituir a imitação mecânica do pai-herói machão pelo macaqueamento da super-mãe liberada. Negamos que a solução dos problemas dos homens venha a ser um resultado ou uma dádiva da luta das mulheres. Entendemos que só os masculinistas libertarão os masculinistas, em solidariedade suprema com as companheiras mulheres a abertos a todos os segmentos/movimentos libertários. Afinal de contas, trata-se de elevar a taxa de felicidade para todos.

Recife, outubro de 1991

Marcelo Mário de Melo

Cabecinha

Nas questões ligadas á discriminação e aos papéis sexuais, as mulheres já estão na sua, os homossexuais idem, os bissexuais também. E até machões se organizam esse solidarizam, como se viu no caso daquele cara que ferrou a mulher no rosto e teve o apoio da Associação dos Maridos Traídos, fundado no Ceará.

Todos os setores se mobilizam. E como focamos nós, que não somos mulheres, nem homossexuais, nem bissexuais, e rejeitamos o modelo machista que nos é imposto desde criancinhas como a marca da masculinidade?

A resposta está no masculinismo – uma movimentação crítico-autocrítica, reivindicativa, desfrutativa, solidarista e convivencial.

Sabemos que, de cartas de princípios e discursos generosos, a humanidade já está de sacos e ovários repletíssimos, colocamos os dedos nas feridas através de um manifesto e proclamamos, indicativamente, o que rejeitamos e pretendemos transformar para viver melhor.

Começo de Penetração

MMN – Movimentação Masculinista Nordestina.

Símbolo – um cacto ereto ou em repouso.

Observação – um cacto sem espinho.

- Contra o terror machista.

- A ditadura clitoriana

- O autoritarismo gay

- Pela reconciliação do espermatozóide com o óvulo.

Renunciamos a todas as prerrogativas do poder machista.

Que omem seja escrito sem “H”

Ao nos consideramos superiores bem inferiores ás mulheres, aos homossexuais e aos bissexuais: somos diferentes e iguais.

Rejeitamos todos os modelos prefabricados se sexualidade, caretosos ou vanguardeiros, partindo de três princípios: 1) carência não se inventa; 21) receita, somente de bolo; 3) vanguarda também é massa.

Somos solidários com qualquer saída ou entrada sexual que a humanidade venha inventar e curtir, desde que não haja imposição e violência.

Exigimos que se respeite a nossa opção fundamental e exclusiva: gostamos é de mulher.

Aprofundando a entrada

- Abaixo o guarda-chuva preto. Não somos urubus.

- Abaixo as exigências do paletó e da gravata.

- Contra o serviço militar obrigatório e exclusiva para homens.

- Contra o relógio-bolachão.

- Pelo direito de mijar sentado.

- Pelo respeito ao pudor masculino: mictórios privativos.

- Pelo amparo aos pais solteiros, abandonados pelas mulheres amadas desalmadas.

- Creches dos bares

- Queremos pensão por viuvez, auxílio-alimentação e licença-paternidade. Não amamentamos, mas podemos trocar fraldas

- Contra o fechamento do mercado de trabalho aos homens. Queremos ser secretários, telefonistas, babás e tiüos de escolinha.

- Não queremos ser “chefes-de-família”, nem regentes sexuais. Igualdade fora e em cima da cama.

- Queremos transar mais por baixo.

- Queremos ser tirados pra dançar.

- Queremos ser cantados e comidos pelas mulheres.

- Pelo direito de dizer “não” sem grilos nem questionamentos da nossa masculinidade.

- Pelo direito de broxar sem explicação. Mulher também brocha. Aquele ou aquela que nunca brochou, atire primeira pedra.

- Abaixo a máscara da fortaleza masculina!

- Pelo direito de assumir nossas fragilidades.

- Pela liberação da lágrima.

- Proclamamos que nas coisas de coração e cotovelo todo homem é igual a qualquer mocinha.

- Abaixo o complexo de corno. Por que mulher não e corna? Fidelidade ou infidelidade recíproca.

- Cavalheirismo é cansativo e custoso. Delicadeza é unissex. Que seja extinto o cavalheirismo ou se instaure, também, o damismo.

- Queremos receber flores.

- Pela igualdade de acesso homem/mulher, quando usa bermudas ou camisetas sem mangas.

- Queremos ser “primeiros cavalheiros”, com direito à Legião Assistencial competente, caso companheiros de prefeitas, governadoras e presidenta.


Empurradinha Final

- Exigimos a modificação do Pai Nosso: a) Pai e Mãe nosso que estais no céu...; b) Bendito o fruto do vosso ventre, do nosso sêmem.

- Pela capacitação dos homens, desde a infância,para as tarefas tidas como “essencialmente femininas”. Reciclagem geral. Queremos aprender corte e costura, culinária, cuidado de crianças, etc. em contrapartida, ensinaremos ás mulheres: trocar pneu de carro, bujão de gás, lâmpada e fusível; dar porrada, atirar e espantar ladrão; matar barata e rato.

- Pela paternidade de responsável e contra a gravidez e os filhos serem utilizados como elementos de chantagem sentimental sobre nós.

- Pelo respeito à intuição masculina.

- Denunciamos a utilização depreciativa das expressões “cacete”, “caralho”, “pra cacete”, “pra caralho”. Exigimos que cada um ou cada uma se posicione: cacete/caralho é bom ou não é? Se é bom, respeitem como ao seu pai ou à sua mãe.

- Protestamos contra o fato do nosso órgão do amor ser representado por espadas, canhões, porretes e outros instrumentos de agressão e guerra. Só aceitamos a simbolização a partir de coisas gostosas e sadias: chocolates, biscoitos, bananas, picolés, pirulitos, etc.

- Denunciamos como principais vias condutoras do machismo: as vovozinhas cândidas, as mulherzinhas dondocas, as mãezinhas possessivas e as professoronas assexuadas.

Orgasmo Total

Consideramos que muitos masculinistas trabalham dois expedientes, estudam e freqüentam um milhão de reuniões e eventos, sem falar das poligamias possíveis, não iríamos incorrer na atitude fascistóide de inventar mais uma reunião pra a comunidade masculinista. Portanto o nosso princípio de organização é o seguinte: grupos de um e cada grupo obedece a seu chefe. Assembléias gerais com ego, id e superego. Voto de minerva para ego.

Convencidos de que a perfeição não é uma meta e é um mito, procuramos fazer um esforço no sentido de romper com 70% do nosso machismo atual e acrescentar sempre novos itens neste Manifesto, aceitando a contribuição crítica e propositiva de todos os masculinistas e outros segmentos sexuais, preservada a nossa opção fundamental e exclusiva pelas mulheres.

Denunciamos os machões enrustidos que, utilizando o discurso masculinista, pretendem, apenas, dar os anéis para não perderem os dedos. Recuam em 30% de machismo para manterem os 70%. É o neoliberalismo do machismo.

Somos todos oprimidos. E sendo os homens, estaticamente, minoritários diante das mulheres. Nós, homens masculinistas, sofremos a pressão dos machões, das feministas sectárias e dos homossexuais autoritários mais oprimida. Requeremos, portanto, o apoio extremo e a solidariedade máxima por parte da sociedade inservil.


Tirando de Dentro

Com o objetivo de recolher elementos críticos, este Manifesto foi enviado ao Movimento dos Machões-ões-ões, à Federação das Feministas-Istas, Istas, e a Irmandade dos Homossexuais-Ais-Ais, infelizmente, somos obrigados a publicá-lo sem os pronunciamentos destas entidades, devidos aos contratempos que as atingiram.

No Movimento dos Machõed-ões-ões, o presidente tinha ido a um motel com moça e brochado pela primeira vez. Entrou em profunda crise psíquica e foi internado na clínica psiquiátrica mais próxima, depois renunciar o mandato. Na diretoria do MMOO irradiaram-se a insegurança as brochações e internações generalizadas, não havendo clima para a discussão do nosso Manifesto.

Na Irmandade dos Homossexuais-Ais-Ais, a maioria dos diretores conjugava o verbo na voz passiva e, nas transas de sexta para sábado, só topou com parcerias que tinham ejaculações precoce, instalando-se, também aí, um clima impropício aos eventos analíticos.

Na Federação das Feministas-Istas-Istas chegou a ser convocada e iniciada a reunião, mas, quando o Manifesto ia ser lido e debatido, irrompeu de surpresa na sala um tremendo guabiru, que subiu pelas pernas da presidente e galopou sobre a mesa. Predominando o subconsciente tradicional, houve correria e pânico generalizado – e a Movimentação Masculinista Nordestina deixou de contar com mais essa contribuição.

(Edição do Autor, outubro de 1991, 3 mil exemplares. Capa, programação visual e editoração eletrônica, Paulo Santos. Revisão, Lamartine Morais. Impressão, Gráfica Pernambucana LTDA)

Comentários

“Julguei enriquecer nossa discussão sobre o feminismo um discurso masculino e não-machista, que se intitula “Masculinismo” e foi estampado no Jornal Mulherio, n° 25”. (Jean Claude Nahoum in “A Construção da Sexualidade Feminina”)

“Li um manifesto maculinista que, em meio à galhofa, diz coisas lúcidas e curiosas, dando boas pistas para as mulheres que querem chegar mais perto do homem.” (Edith Elek Machado – Playboy 154/86)

“Foi o último Rei da Notícia que transcrevemos um dos mais inteligentes textos publicados sobre a chamada Guerra dos Sexos. Eu diria – uma vez que ridiculariza o absurdo das colocações machistas – que é um dos melhores textos feministas escritos por um homem” ( Mara Teresa Jaguaribe – Pasquim 848/85)

“Está é sem dúvida um momento histórico: os homens deixaram de se considerar a humanidade e descobriram-se outra metade, com gostos, preferências, carências. Como todo início de movimento, a MNN (Movimento Masculinista Nordestina) é um tanto radical, queixosa e a acusatória. Temos certeza que, com o passar do tempo, algumas de suas afirmações serão revistas...” (Jornal Mulherio 25/86)

“O Manifesto Masculinista é um texto de leitura ‘obrigatória’ por parte de todos os que lutam em prol de uma sociedade mais justa e libertária” (Leila Miccollis)

Volta às aulas

José Dantas Cyrino Junior

As aulas só reiniciarão na segunda-feira, mas a ansiedade lhe vem corroendo os nervos há quase duas semanas. A cada dia que passa a tensão aumenta. É grande a expectativa por conhecer novas pessoas, aprender coisas novas.

Os nervos se assanham. A insônia vai ficando cada dia mais frequente. Nada pode dar errado no primeiro dia de aula. Nem com as coisas práticas, aparentemente banais. Por isso a preocupação com a compra de material novo, como cadernos com cheiro de tinta fresca, a troca de um livro muito usado e até uma renovação no visual – quem sabe uma ou duas camisas novas, talvez um sapato novo porque aquele já está com o couro enrugado.

A cada dia que se aproxima a ansiedade aumenta. A véspera é um vespeiro de adrenalina. Tudo gira em torno do primeiro dia de aula. Não há mais espaço para conversas sobre futebol, o mais novo escândalo político ou sobre uma tragédia anunciada. Nenhum assunto desvia o interesse sobre o dia seguinte, quando se estará diante de tantas e novas vivências.

A noite anterior se reveste de um ritual próprio de quem se prepara para viajar pela primeira vez. Toda a família é mobilizada para a tarefa de conferir e arrumar tudo: sapato bem engraxado, ao lado da cama, com o par de meias limpas dentro; sobre a cadeira, a calça no vinco, e no cabide, a camisa bem engomada. Despertador acionado para chamar duas horas antes da saída de casa, afinal o engarrafamento é previsível. Chegar atrasado seria uma grande frustração.

De manhã cedo, tudo pronto. Um banho frio para despertar ainda mais, um perfumezinho atrás das orelhas, um desjejum possível para quem está com o apetite exclusivo para a volta às aulas, material didático conferido e pronto.

Parte-se finalmente para o primeiro dia de aula. O frio na barriga é intenso, mas a alegria é muito grande, afinal está chegando a hora de fazer o que mais gosta e o que escolheu há mais de 30 anos quando entrou pela primeira vez numa sala de aula para iniciar sua carreira de magistério.

Todos os primeiros dias de aula são sempre assim: ansiedade frente ao novo, tolerância com as diferenças, desafios cognitivos e emocionais e muita crença no que faz. Uma vez na sala, resta torcer para que seus alunos percebam o quanto gosta de lecionar, o quanto é feliz com o magistério, o quanto acredita na força da palavra. E se conseguir contaminar seus alunos com esse élan, estará confirmada sua hipótese de que a paixão pelo magistério é a metodologia mais eficaz que existe, mais eficaz do que qualquer outra que as ciências da educação possam vir a elaborar.

Aposentar-se é um ato puramente administrativo, indiferente para os educadores. Importa conhecer a si mesmo, o suficiente para perceber se num primeiro dia de aula qualquer lhe faltar aquele frio na barriga. Se lhe faltar, independentemente da idade ou do tempo de serviço, você já está aposentado e não precisa mais voltar às aulas.



José Dantas Cyrino Junior – Professor de Filosofia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Amazonas, advogado e poeta nos ócios necessários. Iniciou sua vida profissional no magistério no dia 15 de março de 1976, no ensino fundamental e médio. Na Universidade do Amazonas ingressou por concurso público e iniciou suas atividades em 08 de setembro de 1980.

terça-feira, agosto 17, 2010

Prendam suas cabritinhas, que vem CACETA por aí!

O Centro Apologético Confraria de Espadas e Terçados do Amazonas (CACETA) é uma associação profissional ortodoxa de machos que gostam de fêmeas, cujo objetivo principal é defender os verdadeiros machos da extinção.

Ela é livremente inspirada na Antiga e Mística Ordem dos Abatedores de Lebres (AMOAL), mas não guarda nenhum vínculo oficial com a mesma - apesar de defender os mesmos valores.

Confundir um irmão da CACETA com um irmão da AMOAL seria mais ou menos como confundir um irmão rosacruz com um irmão maçon.

Depois de uma reunião preparatória no Pina Chope para discutir os estatutos da entidade, Francisco Mendes, esse escriba, Moacir Andrade, Simas Pessoa, Edlucio Castro e Jorge Herrán devem convocar uma assembléia geral para oficializar a fundação da mesma. O Newy York Times informará.

Importante: como se trata de uma associação profissional criada para defender os interesses dos machos ortodoxos, para fazer parte do corpo social da mesma é necessário ter abatido, no mínimo, 100 lebres diferentes, com comprovação do fato. Caceta!

Da série "Vale a pena ler de novo": Frank Miller - Trevas em Quadrinhos

Marcel Plasse

Super-herói não é um conceito moderno. A crise da meia-idade abate a maior parte dos superseres consagrados. Os tempos mudaram e com eles os quadrinhos. Novas séries como Watchmen de Alan Moore estão mexendo fundo na questão crucial: o que aconteceria se, de fato, existissem super-heróis no mundo real?

No centro de toda esta controvérsia está uma minissérie de quatro capítulos (lançada no Brasil pela editora Abril) que se prepara para voltar às bancas sob a forma de uma edição única encadernada: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight). Estrelando um envelhecido e ultraviolento Batman, que volta à ativa num futuro à beira do colapso, dominado por gangues de rua sanguinárias, mísseis nucleares, políticos decadentes e uma mídia sensacionalista. Uma visão de expressionismo urbano com o dramático impacto do melhor film noir.

O homem por trás desta obra-prima - ele não se esconde sob nenhuma identidade secreta - chama-se Frank Miller. Sua carreira começou aos 20 anos, como desenhista da revista Twilight Zone, da Gold Key Comics. Logo passou a desenhar episódios da revista Weir War (histórias de terror) para a D.C.. Mas foi na Marvel que seu nome começou a brilhar. Não com seus primeiros trabalhos, dois números do Homem-Aranha, mas com um herói com a vida comprometida pela pouca vendagem: O Demolidor.

A princípio como desenhista e logo também como roteirista, Miller não só impediu o cancelamento da revista como a tornou uma das mais cultuadas publicações dos quadrinhos americanos. O coroamento deste sucesso se deu com a criação de seu primeiro personagem, Elektra, uma ninja assassina que, contudo, era o verdadeiro amor do herói. Esta saga acabou lhe rendendo, aos 24 anos, um bom indício da celebridade que agora, aos 30 anos, desfruta. Hoje, sua obra pode mesmo ser comparada às de seus ídolos Will Eisner (o criador de Spirit) e Hugo Pratt (Corso Maltese).

Frank Miller ao telefone (ligação noturna para Los Angeles), contrastando com a ambientação fria e depressiva de suas histórias, soa maroto e sorridente. Nossa conversa começa justamente com a ponta do iceberg, a melhor história em quadrinhos escrita em anos: O Cavaleiro das Trevas.


BIZZ - Como você teve a idéia deste velho e ultraviolento Batman?

Miller - Eu tive essa idéia olhando os quadrinhos que estavam sendo publicados. Eles me pareciam um pouco pobres e envelhecidos... O envelhecimento de Batman é um mito. E como eu estava trabalhando nele, fiquei me divertindo com isso. Tentei torná-lo um pouco mais realista. E tentei reintroduzir a idéia do super-herói como um fora-da-lei, um foragido.

BIZZ - Um jornal em Nova York chamou seu Batman de neoconservador...

Miller - (risos) Eu próprio não sou neoconservador. E não vejo Batman como um tira ou um direitista. Como eu disse, eu o vejo como um dissidente, um transgressor!

BIZZ - E o conflito entre Batman e Super-Homem em sua história? Você vê Super-Homem como uma espécie de herói da era McCarthy?

Miller - Ele é o genuíno direitista da história. Ele é a direita americana... ou o neoconservadorismo americano. Um cachorrinho de Donald Reagan. Há muito de neoconservador em sua atitude de manter as coisas como estão, sob controle.

BIZZ - E Batman é um sádico?

Miller - (pausa) Eu acho que ele é alguém que ama o seu trabalho (risos).

BIZZ - Na minissérie Cavaleiro das Trevas, Robin é uma garota...

Miller - Esta foi uma idéia que eu tive olhando seu uniforme, really! O uniforme de Robin sempre me pareceu melhor numa garota!

BIZZ - Você começou a escrever histórias com o Demolidor, não? E ele se tornou superviolento. Você criou Elektra, uma assassina mortífera adorável! (Frank ri) E trabalhou com o mais violento X-Men, Wolverine... Você gosta de violência?

Miller - Eu certamente fiz muitas histórias violentas. Q que costumo fazer é escrever histórias sobre combatentes do crime. E eles não fazem qualquer sentido a menos que os criminosos estejam cometendo crimes reais. E, você sabe, se um dos meus heróis veste um uniforme e vai à luta, ele precisa ser tão violento quanto os criminosos.

BIZZ - Você também tem bastante atração por artes marciais, ninjas e Lâminas orientais. Elektra, Wolverine e Ronin estão cheios destas coisas...

Miller - Elas são o grande ideal da minha vida. São as coisas que eu estudo.

BIZZ - As minisséries de Elektra e Ronin vão ser lançadas no ano que vem no Brasil. Você pode nos adiantar algo sobre as histórias?

Miller - Elektra, eu desenvolvi com Bill Sienkiewich. Ela é engraçada, a seu modo!

BIZZ - Engraçada?

Miller - É puro humor negro ainda inocente e violenta. É a história de uma ninja assassina que decide assassinar o presidente dos Estados Unidos - na verdade, o homem que está concorrendo ao cargo. Ele é uma criatura muito maligna...

BIZZ - Como o candidato de A Hora da Zona Morta (filme de David Cronenberg)?

Miller - Hmm! É diferente daquilo, embora você possa comparar. O candidato presidencial trabalha para um monstro (a besta apocalíptica)... Na história, há um agente da CIA (na verdade, da SHIELD, organização fictícia dos quadrinhos, comandada por um ex-veterano da Segunda Guerra e amigo do Capitão América. Miller trata a SHIELD em sua história como se fosse, de fato, a CIA) que é parte robô. A arte de Bill Sienkiewich na série é extraordinária! (nova pausa)... E Ronin foi o primeiro livro que eu fiz com Lynn Varley (pintor original da série Cavaleiro das Trevas). Eu escrevi e desenhei em 1984. E é um trabalho do qual eu tenho muito orgulho. É a história de um samurai reencarnado na América do século 21.


BIZZ - Você também trabalhou com o Homem-Aranha...

Miller - Eu fiz uma ou duas histórias, yeah!

BIZZ - E que tal? O Homem-Aranha é o herói mais tradicional da Marvel...

Miller - Sim. Quando Steve Ditko e Stan Lee o criaram, ele era um novo tipo de personagem, muito excitante. Mas, com o passar dos anos, como Super-Homem, ele ficou cansado.

BIZZ - O que você está fazendo agora?

Miller - Estou trabalhando em novos personagens. Um deles com Dave Gibbons. Ele criou Watchmen - você já viu Watchmen?

BIZZ - De Alan Moore? É um grande trabalho. Vai ser lançado em 1988 por aqui também.

Miller - Yeah! O desenhista é Dave Gibbons. Nós estamos fazendo uma nova série sobre um agente do governo: uma mulher no século 23.

BIZZ - Pela D.C. também?

Miller - Oh, não! Nós ainda não temos um editor. (Pausa) Outra coisa que eu estou fazendo é uma Graphic Novel da Elektra para a Marvel. Estou escrevendo e desenhando e Lynn Varley está colorindo.

BIZZ - Você tem um herói favorito?

Miller - Hmm... Suponho que é Ronin.

BIZZ - Ainda há lugar para super-heróis na cultura contemporânea?

Miller - Eu não acho que os super-heróis que nós conhecemos - Super-Homem, Homem-Aranha, Batman... - realmente tenham algum futuro. Eu acredito que o futuro são os novos personagens que estão sendo criados por novos artistas.

BIZZ - Por exemplo...

Miller - Eu adoro Alan Moore, Bill Sienkiewich... Minha revista favorita, não sei se você já viu, é a independente Love and Rockets.

BIZZ - Você também está trabalhando como independente agora, não? A última notícia, aqui no Brasil, era que você tinha abandonado a D.C. por causa da adoção do uso de selo de impropriedade em certas revistas da editora... A censura é muito dura nos Estados Unidos?

Miller - Ela é muito ruim. Sério. Há campanhas públicas envolvendo o candidato neofundamentalista à presidência, Pat Robertson.

BIZZ - E os papais? São um pé no saco?

Miller - (risos) Certamente são! Assim como os editores de quadrinhos na América. Eu e outros artistas tentamos barrá-los nos recusando a trabalhar com eles.

BIZZ - O que você acha de super-heróis legais, bonzinhos, como o Super-Homem interpretado por Christopher Reeve no cinema?

Miller - Eu não gosto dos quadrinhos das crianças. Eu prefiro heróis um pouco mais assustadores.

BIZZ - E o Super-Homem reestruturado por John Byrne?

Miller - Ele se parece com um Super-Homem que eu nunca li antes. Mas não é tão diferente quanto podia ser.


BIZZ - Os quadrinhos que você cria são completamente cinematográficos. Dá para ver sombras de fim noire Hitchcock. São suas influências?

Miller - Eu sou um grande fã de Hitchcock e estudo muito film noir dos anos 40 e 50. Também amo os livros de Jim Thompson e as novelas que inspiraram o cinema noir.

BIZZ - Você não tem planos de fazer filmes?

Miller - Nada que eu possa realmente dizer. De qualquer forma, eu amo quadrinhos. Eu estou próximo de trabalhar com filmes. Mas o que eu realmente quero é fazer quadrinhos, mais do que qualquer coisa.

BIZZ - Você prefere escrever ou desenhar?

Miller - Ambos.

BIZZ - Você nunca mudou de idéia sobre coisas drásticas em seu trabalho, como a morte de Elektra?

Miller - Eu não mudei de idéia.

BIZZ - Mas Elektra é um de seus personagens favoritos. Você está trabalhando nela agora... mesmo morta?

Miller - Isso é uma história estranha. Uma história de terror.

BIZZ - Como é a história?

Miller - A história é sobre Mau Murdock, o Demolidor, que é assombrado por Elektra.

BIZZ - Hmm... Você gosta do Demolidor? A última vez que você escreveu suas histórias, colocou-o na sarjeta... Praticamente o destruiu!

Miller - Yeah! (risos) Eu adoro trabalhar! Eu adoro fazer histórias!


BIZZ - E se o Batman e o Demolidor se encontrassem?

Miller - Oh, eu acho que seria emocionante! Infelizmente, Marvel e D.C. não se amam; Marvel possui o Demolidor. E a D.C., Batman.... Assim, eles nunca vão poder se encontrar!

BIZZ - Mas já aconteceram crossovers juntando Super-Homem e Homem-Aranha, Batman e Hulk...

Miller - Yeah. Mas isso foi antes. Agora as editoras se odeiam!

BIZZ - E a outra heroína/namorada do Demolidor, a Viúva Negra? Você tem planos pra ela?

Miller - Não. Eu só trabalho com novos personagens agora, exceto Elektra.

BIZZ - Elektra é a única coisa que você planeja fazer para a Marvel ou D.C.?

Miller – That’s right!

BIZZ - Vai ser difícil, então, acompanhar seu novo trabalho, já que não há representantes das pequenas marcas no Brasil.

Miller - Eu acharei meios de ter meus livros publicados aí. Apenas no ano passado meu trabalho começou a chegar ao Brasil e a outros lugares do mundo. Eu tenho certeza de que eles vão continuar a chegar. Não são necessárias grandes editoras para arranjar isso... Eu posso arranjá-lo! (Pausa) A propósito, que tipo de quadrinhos vocês fazem no Brasil? Eu gostaria de conhecer. Você poderia me mandar alguns?


(publicado na revista Bizz de dezembro de 1987)

Nani: "Espero que o PT não dê o Ministério do Humor ao PMDB"


Claudio Leal

Deu encrenca com os demônios do humor. Ex-"Pasquim", "Jornal do Brasil" e "Bundas" (epa!), o cartunista Nani comparou o controverso programa de governo da candidata Dilma Rousseff (PT) a um programa de esquina - bem entendido: com posições heterodoxas.

"O programa quem faz são os fregueses: PMDB: barba, cabelo e bigode; PDT: papai e mamãe e por aí vai...", anuncia o cartum.

Com 37 anos de jornalismo, Nani enfrenta ataques de petistas e internautas por ter usado uma metáfora sexual para caricaturar a sisuda Dilma. Presidente do PT, José Eduardo Dutra reclamou da "baixaria".

Em entrevista a Terra Magazine, Nani defende-se com o mesmo salvo-conduto do Barão de Itararé, de Millôr e de Jaguar:

- Eu usei uma metáfora. Pode ter sido ruim, mas eu simplesmente fiz humor.

Publicado na página pessoal do desenhista (http://www.nanihumor.com/), o cartum foi reproduzido pelo blog do jornalista Josias de Souza e provocou imensa polêmica no Twitter e na blogosfera. Para alguns críticos, houve machismo.

Se a encrenca aumentar, e nascer algum processo judicial, Nani tem um pedido a mais:

- Só espero que o PT não crie o Ministério do Humor e entregue ao PMDB!

Confira o bate-papo.

Terra Magazine - Como você encara a reação à sua charge sobre Dilma?
Nani - Não discutiram o conteúdo, a mensagem da charge. O cartunista usa uma metáfora pra falar do assunto. Hoje, eu usei a panela do programa da Dilma. O cozido, o pirão dela. É a mesma metáfora: todo mundo tá querendo, os outros partidos querem interferir no programa. O humor usa metáforas...

No caso, você brincou com a palavra "programa".
A metáfora que eu usei foi um pouco violenta. Mas já botei o Fernando Henrique com peitos, ACM com o vestido de Tiazinha, o Lula pelado, com uma lingerie. São artifícios que o humor tem a liberdade de usar.

Teme censura?
A única censura que eu tive foi na ditadura. Nosso limite era o "Maomé" (refere-se à reação muçulmana contra o chargista dinamarquês Kurt Westergaard, que retratou Maomé). Não sei se Dilma será a nova "Maomé" (risos)

O brasileiro se deseducou em relação ao humor?
Eu acho que sim. As charges são muito palatáveis, perderam um pouco a crítica, ficam ilustrando assuntos nos jornais...

O Estadão nem charge tem, é uma caricatura.
Pois é. Faço charge como sempre fiz. Meu tipo de humor é esse, desde a ditadura, a luta pela Anistia, explicando como era o movimento sindical. Cada coisa tem sua época. Eu brigo pela alternância de poder, acho que o Estado não deve estar aparelhado por um partido. No próprio programa de governo, ela fala em controlar a mídia, e isso é mais um sintoma do que pode advir. Essa indignação pela charge já demonstra a predisposição pra abafar tudo quanto é crítica. Eu não sou do petismo nem do peessedebismo. Sou do humorismo. Como diz o Millôr, o humorismo é o "ismo" que ri por último (risos).

A esquerda não costuma aceitar o humor?
Nem acho que o PT, do jeito que está, é muito de esquerda. O próprio Collor dizia que não se briga com o humor. Não adianta calar. Melhor fazer uma piada pra responder. Nesse início de campanha, eles não sabem direito das coisas. E tem isso do partido, só podem racionar dentro da Igreja. Todo mundo tem que pensar como o partido, não aceitam crítica. Gramsci até dizia que você tem que pensar como o partido. Fora da igreja, não pode.

Mas algumas pessoas veem machismo em sua charge, por Dilma ser mulher e estar retratada como uma garota de programa. Que tal?
Machismo é essa reação das mulheres. Quando eu fiz com os homens, ninguém se importou... Ninguém se importou com ACM de Tiazinha, FHC de peitos de fora... Homem nenhum se incomodou. Por que a mulher tem essa sensibilidade? Ela é uma pessoa pública, não é dona da sua imagem. Tem que ser criticada. Eu usei uma metáfora. Pode ter sido ruim, mas eu simplesmente fiz humor.

Espera algum processo judicial do PT?
Não, não. Nunca, desde 1973 - tenho 37 anos de profissão -, tive problema com charge alguma. Não se sei se vou ter pela primeira vez com o PT...

Vai ser bom pro seu currículo?
É bom, mas é ruim pro PT. Foi o humor que ajudou a eleger o Lula. Todos os humoristas fizeram charge a favor. Nós ajudamos o Lula. Sou pela alternância de poder. É um tipo de humor. Nada partidário, não.

O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, atacou sua charge no Twitter. Vou ler aqui a mensagem: "Bons tempos aqueles em que os chargistas políticos brasileiros eram reconhecidos pela inteligência e não pela baixaria preconceituosa". O que você diria ao Dutra?
Ah, eu não acho... É o humor...

Crumb e Jaguar também fazem humor bizarro.
Eu digo o seguinte: só espero que o PT não crie o Ministério do Humor e entregue ao PMDB!

Temer será o ministro?
Temo isso. Que eles entreguem ao PMDB (risos).


Ziraldo diz que se Nani for processado vai depor a favor dele

Em 1974, ao tomar posse na presidência da República, o ditador Ernesto Geisel citou a Arena, partido de sustenção do regime militar, em seu discurso. Piscadela.

No Congresso, correram de enxurro mais de 50 discursos de parlamentares, em comemoração ao afago presidencial.

Diante da prancheta, Ziraldo pensou: "Essa Arena é uma prostituta!". E desenhou uma eufórica rameira na rua, com o nome da Arena escrito na saia, gritando: "Ele sorriu pra mim... Ele sorriu pra mim...".

Deu M... para Ziraldo.

"Foi a minha charge que mais repercutiu. Chamei a Arena inteira de prostituta. E a Arena não me processou", recorda-se o cartunista, fundador do legendário "Pasquim".

De volta à esquina. O PT estuda entrar com um processo contra o cartunista Nani, depois da publicação de uma charge que compara a montagem do programa de governo de Dilma Rousseff a uma negociação de prostituta.

"Charge canalha merece repúdio geral. Humor e crítica nada tem a ver com ofensa moral", atacou o coordenador de comunicação da campanha petista, Rui Falcão.

Terra Magazine apurou que o PT consultou advogados para processar Nani por danos morais, na área criminal. O presidente do PT, José Eduardo Dutra, não atendeu aos telefonemas da reportagem, na noite desta quinta-feira, 8.

Mestre do cartum brasileiro, Ziraldo defende o direito do humorista de criticar a candidata, mas avisa: "Mineiro não mete a mão em cumbuca".

- Achar que ele está chamando a Dilma de prostituta é querer caçar chifre em cabeça de cavalo. Segundo eu sei, Nani é do meu time. Nós podemos achar a Dilma esquisita, mas nós gostamos do Lula. Eu diria: fazer piada com todos os candidatos é um direito de todos os chargistas. O político não deve passar recibo. Ninguém quer desrespeitar a figura hierática da Dilma. É piada, porra. Amo o Nani. Acho de mau gosto, mas, se houver o processo, vou depor a favor do Nani.

José Eduardo Dutra viu "baixaria" no desenho. "Bons tempos aqueles em que os chargistas políticos brasileiros eram reconhecidos pela inteligência e não pela baixaria preconceituosa", declarou o petista no Twitter.

Em seu microblog, a ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina (PSB) acusou o chargista de "machismo": "Nós, mulheres, nos sentimos profundamente desrespeitadas com a grosseria machista postada no blog contra a candidata Dilma Rousseff".

Eles não sorriam pra Nani.

"O humorista não atira para matar. Precisamos ter humor pra lidar com os fatos. O brasileiro ama fazer isso. A charge não tem essa importância. O humor vai mal no Brasil. Estamos aprendendo a rir", avalia Nani. "Como diz o escritor mineiro Wander Pirolli, 'quem não ri, não presta'".


(publicado no portal Terra Magazine, em 8 de julho de 2010)

sexta-feira, agosto 13, 2010

Causos de Bambas - Ziraldo

Ziraldo e sua mulher, Wilma, estavam hospedados em um hotel grã-finíssimo, no centro de Nova York.

De manhã cedo, Ziraldo, devidamente munido do cardápio, foi pedindo seu breakfast à pressurosa telefonista da copa:

– Two cups of tea with lemon, coffe, milk, two three minutes eggs, orange juice, bread, butter, toasts, jelly…

Findo o rol, Ziraldo ouviu a moça afirmar:

– Yes, sir, I remember.

Ziraldo comentou com Wilma, desligando o telefone:

– Tudo bem. Ela disse que se lembra de tudo que eu disse.

Passaram-se vinte minutos, meia hora e nada do breakfast. Quarenta e cinco minutos. Ziraldo insiste: e fala em “inglês” com a mesma moça da copa.

– O breakfast está muito atrasado. Já pedi há quase uma hora.

– Yes, sir – disse a moça com convicção. “I remember!”.

Ziraldo desligou satisfeito:

– É, ela não esqueceu.

Uma hora e meia e nada da encomenda. Wilma se adiantou:

– Espera, Ziraldo. Deixa que eu falo.

Ligou. Falou com a moça. Desligou, satisfeita. O Ziraldo:

– Afinal o que houve? Ela continuou dizendo que se lembra?

Wilma, com paciência:

– Ela não dizia “I remember”, Ziraldo. Ela dizia “your room number?”, querendo saber o número do quarto.

Causos de Bambas - Jovelina Pérola Negra

Zeca Pagodinho e Jovelina Pérola Negra estavam fazendo uma apresentação musical em um clube de Cascadura e ela não tinha dinheiro para voltar pra casa.

Alguém sugeriu que a cantora pegasse uma grana adiantada no caixa do clube para pagar o táxi e Jovelina não se fez de rogada.

O rapaz da bilheteria lhe deu a grana pedida e avisou:

– Olhe, dona Jovelina, eu estou lhe dando esse valor na maior confiança, mas depois vou descontar tudinho no seu borderô...

A cantora subiu nas tamancas:

– Rapaz, se oriente e me respeite! Se nem meu marido bolinou no meu borderô quando ainda estava vivo, não vai ser você, um zé ruela que estou vendo pela primeira vez, que vai bolinar agora! Eu sou viúva, mas sou direita, seu cabra safado!

A partir daí, a cantora começou a xingar o bilheteiro de tudo quanto é palavrão.

Foi um cu de touro explicar pra mulata que borderô não era sinônimo de buzanfã.

Causos de Bambas - Maury Gurgel Valente

No início da carreira, o embaixador Maury Gurgel Valente, então casado com a escritora Clarice Lispector, servia junto à representação brasileira em Paris.

Numa recepção que promoveu nos salões da Embaixada, Maury convidou, entre outras pessoas, o escultor Alfredo Ceschiatti que estava de passagem pela cidade, e um major do Exército brasileiro que visitava a França em missão bélico-comercial, ou seja, comprar máquinas de extermínio.

Meio à festa povoada de ilustres personalidades, o major aproximou-se de Ceschiatti e sabendo-o escultor, perguntou-lhe:

– O senhor prefere mulheres brancas ou pretas como modelos?

Ceschiatti esquivou-se como pôde. Afinal, pouco importava a cor do modelo.

– Pois eu – declarou o major, enfático, num tom de voz que o fez ouvido por todos – não dispenso uma boa negra!

Percebendo o constrangimento que semeara em torno, corrigiu, diligente:

– Com exceção, naturalmente, das senhoras aqui presentes.

Causos de Bambas - Di Cavalcanti

Di Cavalcanti para a gerente de um rendez-vous (como se dizia) em Paris:

– O que temos para hoje?

Madame informou:

– Temos uma úmbria glabra, uma coreana de treze anos e um grumete norueguês virgem.

O Di, com ar de enfado:

– E em matéria de peixe?

Causos de Bambas - Paulo Cesar Pereio

Após cruel desavença com um feroz desafeto de ocasião, na cidade de São Paulo, o ator Paulo César Pereio teve alguns dentes abalados – a maioria entre os mordedores frontais.

Faminto e com numerário deficiente, foi em busca de um restaurante de meia estrela que lhe mitigasse o apetite.

Encontrou-o no “Salada Paulista”, uma casa de pasto popularíssima pela qualidade e pelo preço da comida, desprezíveis ambos.

Pereio aproximou-se do caixa e, como era muito conhecido na cidade e querendo esconder sua qualidade de pré-desdentado, para livrar a imagem cochichou-lhe o comando, a mão tampando a boca:

– Me vê aí um prato-feito, companheiro. Pede pra caprichar no molho e diminuir a carne. Sabe, estou com uns dentes meio frouxos.

O caixa berrou para a cozinha no outro lado da casa apinhada:

– Ô Bixiga! Solta aí um PF pro ruço aqui! Carrega no molho que o freguês é só gengiva!

Causos de Bambas - Cícero Carvalho

O produtor de televisão Cícero Carvalho encontra na rua um amigo animadíssimo, alvissareiro:

– Cícero, meu velho, não tem erro! Chegou a hora de você lavar a burra! Amanhã, domingo, você vai no Jóquei e põe toda a grana que tiver em casa no cavalo Foge Daí, no quarto páreo. É mutreta dos caras. Um primo meu, que é jóquei, faz parte da armação. O cavalo é o maior azarão do mundo e vai pagar uma nota preta pra quem apostar nele. Vai lá, que com a grana que você tem em casa, tu podes quebrar a banca!

O Cícero, que odiava mexer com corrida de cavalo pois conhecia a fama do jogo, resolve ir ao hipódromo, atraído pelos zeros anunciados.

Esperou com paciência o quarto páreo e foi jogar. Consultou o programa para saber o número do tal animal eleito para a roubalheira e não encontrou. Procurou nos outros páreos. Nenhum Foge Daí. Fugiu dali.

Encontrou o amigo barbadeiro na segunda-feira, contentíssimo da vida, aos berros:

– Matei a pau! Matei a pau! Lavei brabo mesmo! E você? Quanto ganhou?

– Nem um puto. Você está é ficando maluco, cara. Não tinha nenhum cavalo com aquele nome correndo no domingo.

O ganhador meteu a mão no bolso, tirou o programa da véspera, exibiu-o triunfante, apontando no nome do cavalo ladrão:

– Não correu não, é? Não correu não, é? Você é analfabeto? Olha aqui! Quarto páreo!

O nome do cavalo era Foggy Day.

Causos de Bambas - Armando Nogueira

Ano 1984. Armando Nogueira – o mais machadiano e emocionante dos cronistas sobre futebol, na sua inesquecível coluna “Na Grande Área”, publicada no JB, e presidente do CEU (Centro Esportivo de Ultraleve) – fazia um voo com o empresário da construção civil Moacyr Gomes de Almeida, que experimentava a emoção pela primeira vez.

O Armando, no maior entusiasmo, subia aos céus, descia à terra, dava rasantes sobre o mar, fazia piques, desenhava curvas sobre os verdes campos da Barra da Tijuca, quase tocava a crista das ondas, as copas das árvores, sobrevoava as construções do Moacyr, em suma, fazia tudo que o ultraleve dava direito.

Num certo momento, quando estava a uns dois metros do chão, o motor pifou, o pequeno avião caiu e virou de cabeça pra baixo.

Os dois, piloto e passageiro, ficaram igualmente de cabeça para baixo, pendurados pelos cintos de segurança.

Comentário do Armando para o assustado companheiro:

– Também tem dessas coisas...

sábado, agosto 07, 2010

Causos de Bambas - Clarice Lispector

Elevador. Entram duas mulheres, uma jovem, outra idosa. A jovem é a futura escritora Clarice Lispector, nascida na pequena aldeia de Tchetchenillk, na Ucrânia.

Diz a idosa:

– Minha filha, me faça o favor de apertar o botão do sexto andar. Estou sem óculos, não enxergo quase nada.

– Com prazer – respondeu Clarice. “Mas como a senhora adivinhou que eu falo russo?”.

– Eu não adivinhei, minha filha. Eu não falo outra língua.

Causos de Bambas - José Lewgoy

José Lewgoy, o ator oriundo de Veranópolis, destruiu seu carro e quase se destruiu numa batida na avenida Niemeyer.

Do acidente restou uma pequena sequela na perna, o que o obrigava, um pouco também por charme, a se apoiar física e moralmente numa bengala elegantíssima, de castão de mogno lavrado.

Numa fila de postulantes a um táxi no aeroporto, foi agraciado com um obséquio do PM encarregado do embarque dos passageiros.

Berrou o soldado, apontando para ele:

– Deixem primeiro passar esse aleijado aí!

Causos de Bambas - Ciro Monteiro

Ciro Monteiro, o saudoso cantor, foi visitar o amigo Lúcio Schneider e chegou alegríssimo, festivo, eufórico, alvissareiro:

– Mas, ô Schneider! Eu não sabia! O Rio de Janeiro é lindo! Botafogo, a Glória, o Flamengo! Que lugares mais deslumbrantes!

O Lúcio, achando aquela explosão esquisitíssima:

– Você ficou doido, Formigão? Tem anos que você passa por esses lugares e nunca notou?

– Mas é que eu só passava de noite. Hoje passei de dia, pela primeira vez...

Causos de Bambas - Oswaldo Sargentelli

Nos tempos magérrimos, na pré-história da carreira luminosa feita com a ajuda das “mulatas que não estão no mapa”, Oswaldo Sargentelli morava num apartamento desses catre-penico-bico-de-gás.

O contrato de locação era meio de boca e o senhorio, aproveitando-se disso, aumentava o aluguel todo mês, sem que o inquilino pudesse fazer algo para evitar a exploração.

Mas um dia pôde. Sargentelli ficou na calçada em frente ao prédio olhando interessado um ponto qualquer da fachada. Foi juntando gente.

– O que houve? – perguntou um popular ao Sargento.

– Não está vendo? Olha lá, bem naquele canto. Uma fissura. E o prédio está meio inclinado, reparou?

– É mesmo, rapaz! Esse troço pode cair a qualquer hora!

Meia hora depois chega a polícia. Inteirada do perigo, isola o quarteirão. Chamam a Defesa Civil, os engenheiros do Estado, o Corpo de Bombeiros.

Comprovam, mesmo sem maior investigação, que o prédio corre sério risco de desabar e deve ser evacuado e interditado imediatamente.

“Prédio pode ruir a qualquer momento”, diz a manchete do jornal O Dia. As primeiras páginas dos outros jornais gritavam mais ou menos o mesmo.

Famílias ao desabrigo, reunião de emergência com o secretário de Obras, que garante não haver perigo iminente.

– Os engenheiros estão estudando o assunto com o maior cuidado! – disse a autoridade.

– Isso é um descalabro! Um desaforo! – berrava Sargentelli. “E os preços extorsivos dos aluguéis que pagamos? Só funciona um elevador, imagine! Vou processar o condomínio!”.

E se mudou do cabeça-de-porco, deixando o caos instaurado.

Causos de Bambas - Agildo Ribeiro

O ator Agildo Ribeiro estava andando de táxi em Nova York. Os motoristas de praça de lá são obrigados a afixar no painel retrato, nome e número de inscrição no departamento de trânsito local.

Agildo olhou a foto do homem e teve de conferir com o original para se certificar.

O sujeito usava aqueles bigodes de Salvador Dalí – longos, pontiagudos e quebrados para cima como dois chifres finos de touro miura.

Em suma, um cara estranho e que, ainda por cima, ouvia Vivaldi solenemente no toca-fitas do carro.

– Isso é coisa de viado! – comentou com o companheiro de viagem.

– Só pode ser! – concordou o outro. “Esse cara, além de esquisitísão, também ouve música de boiola. Com certeza deve gostar de agasalhar croquete...”.

Num dado momento, o carro desembocou numa praça – a Washington Square – e o ex-parceiro do recalcitrante Topo Gigio fez uma observação:

– Parece a praça da República, em São Paulo.

O motorista abaixou o volume das “Quatro Estações”, de Vivaldi:

– Absolutamente! – disse em português do Bixiga. “Esta praça é muito mais bonita. Até quando neva”.

E voltou a aumentar a música com igual solenidade.

Causos de Bambas - Coronel Feliciano

Princesa Isabel, cidade do alto sertão da Paraíba, terra onde se aquartelava a tropa cangaceira do temido Zé Pereira, berço da saga biográfica do coronel Feliciano, homem de muita fé, mas só em si mesmo. Homem de truculência e bizarrice. Homem para homem nenhum botar defeito mode continuar vivo.

Homem que só saiu de Princesa Isabel uma única vez para visitar a Feira de Caruaru, de onde partiu para sempre uma hora depois de arribaldo voltando pro lombo do trem. “Chega de tanta grandeza”, ele disse.

Homem que não acreditava que a Terra fosse redonda e se mexia. “Coisa de padre pra contar história. Se fosse redonda e se mexesse ia ter indecência. Os home tudo por cima das muié”.

Homem que odiava padre e santo e que negava esmola a cego. “Vá pedir dinheiro pra quem te cegou, peste!”.

Homem que negava a existência da Arca de Noé com uma argumentação imbatível:

– Uma vez teve um circo aqui. O elefante comeu sozinho umas cinquenta arrobas de resto de cana. Imagine um barco cheio de bicho por quarenta dias e quarenta noites! Onde o velho ia guardar a comida dos animais?

E concluía:

– Só de piolho conheço umas dez raças diferentes e uma vez quis pegar um casal de rolinhas, só peguei macho.

A mulher do coronel Feliciano, ao contrário do marido, era beata de ralar joelho, vivia na missa, vivia rezando.

Na grande seca de 1936, toda a população se reuniu numa procissão para pedir água ao céu abrasador.

O coronel pediu a seu modo: pegou uma imagem de São Judas Tadeu – um “calunga”, como ele chamava –, amarrou no talo de um rojão – na “taboca”, como tratam o rabo de foguete por lá – e disparou a peça de artilharia que se espatifou, junto com a imagem, a uns cem metros de altura.

Coincidência ou milagre, no dia seguinte desabou o maior pé-d’água do sertão. Explicação prática do coronel:

– Uai! E não era pra chover, cabra? Já imaginou um pipoco do pé de ouvido a duzentos metros de altura! Tinha mais é que tomar providência!

E não parou mais de chover, o açude estava por estourar. O coronel encheu um saco de santo, foi no açude e, segundo ele, “pipinou os calungas de metro em metro” e avisou pras santificadas imagens:

– Agora é com vocês! Se estourar desce tudo por água abaixo. E vocês descem junto.

Dia seguinte parou de chover.

Da série 'Vale a pena ler de novo": Stan Lee, o Pai dos Quadrinhos Modernos


Marcel Plasse

Capitão América, Thor, Hulk, Homem Aranha, Demolidor, Surfista Prateado, mais o Quarteto Fantástico, X-Men e o Homem de Ferro estão ao seu lado, aguardando ansiosos pela fala do criador. Você soltou um grito? Duvidou?

Pois pode começar a tremer, porque você não se enganou: BIZZ falou com Stan Lee.

“Alô? Não, você discou o número errado. Aqui é da Escola para Jovens Superdotados do professor Xavier.” OK, obrigado. “Não, aqui é a portaria do edifício Baxter.” Tudo bem. “Indústrias Stark...”

Hmm...

“Isto é uma gravação. Você discou para a mansão dos Vingadores. Sentimos não poder atendê-lo no momento, pois estamos ocupados tentando salvar o mundo. Deixe seu recado após o bip...”

Incrível. Tudo estava acertado para uma entrevista telefônica com Stan Lee, mas seu número parecia estar enfrentando uma barreira mística. Pelos veneráveis poderes de Hoggoth! isso me sugeriu alguma artimanha dos inimigos do Dr. Estranho.

Nova tentativa. “Nelson e Murdock, advogados.” Droga!

Talvez fosse um trabalho de Loki, o Príncipe do Mal, tentando se vingar do criador de seu odiado meio irmão.

De repente, um relâmpago risca os céus, iluminando um funesto personagem num canto sombrio da saia. Ele disse: “Eu sou o Dr. Destino”.

Outro relâmpago sublinha sua apresentação teatral. Ele se aproximou: “Eu estou aqui para eliminar a existência do criador do Quarteto Fantástico”.

Minha memória biônica começa a funcionar: Quarteto Fantástico, grupo criado em 1961 por Stan Lee e Jack Kirby. Os primeiros heróis Marvel.

Sinto o toque metálico do Dr. Destino em meu pescoço. “Disque!”, ele ordenou. Desta vez, não houve enganos: “S-Stan Lee?”, perguntei. A recepcionista do escritório da Marvel Entertainment Group em Los Angeles pediu um instante. Não precisava mais do que isso para a vida passar diante dos olhos.

A vida de Stanley Martin Lieber, nascido na cidade de Nova York em 1922. Aos 20 anos, ele já era editor de quadrinhos (da Timely, a empresa que depois viraria Atlas e finalmente Marvel).

Durante os anos 40, ele escreveu diversas histórias do Capitão América e de vários personagens que não se tornaram tão populares, como Young Aliens, Black Marvel etc. Mas foi a partir de 1961, com os artistas Jack Kirby e Steve Ditko, que o criador Stan Lee virou lenda.

Dentre os personagens que surgiram de sua criativa imaginação estão o Quarteto Fantástico, os X-Men, Os Vingadores, Thor, Hulk, Homem-Aranha, Dr. Estranho, Homem de Ferro, Demolidor, Surfista Prateado etc.

Foram mais de dez anos escrevendo roteiros para mais de dez revistas simultaneamente, sobre super-heróis frágeis, com problemas com garotas e considerados ameaças para a humanidade. Por tudo isso, ele é tido como o pai dos quadrinhos modernos

“Stan Lee falando.” O Dr. Destino ri. “Faça sua entrevista”, ordena, conectando um estranho aparelho ao telefone. “Isso é uma arma capaz de seguir os impulsos telefônicos através do globo e... destruir!” explica. Eu não perguntei nada. O que eu pergunto agora? “Comece pelo início”, explica Dr. Destino.
BIZZ - Vamos começar pelo início. Como você se apaixonou por quadrinhos?

Lee - Well... Na verdade, eu lia muito quando era criança. Eu adoro ler. Nunca pensei que fosse entrar no ramo dos quadrinhos por trabalho. Isso aconteceu por acidente.

BIZZ - Como foi isso?

Lee - Eu comecei a trabalhar numa empresa chamada Timely. Pensei que o emprego fosse temporário, embora eu realmente quisesse estar lá e escrever. Acabei permanecendo na companhia e ela se transformou na Marvel. Na verdade, eu ainda estou na empresa que me contratou quando eu era garoto.

BIZZ - Você criou uma nova espécie de super-herói, que destoava completamente do universo de superseres da época (1961-63). Essas histórias são clássicas, renderam vários prêmios... O que você acha das mudanças no seu trabalho original feitas pelos novos artistas da Marvel? Você acredita que o espírito continua o mesmo?

Lee - Well... O espírito nunca é exatamente o mesmo. Quando um novo escritor assume um personagem, quer usar suas próprias idéias e seu próprio estilo. Se eu começasse a trabalhar sobre a criação de outra pessoa provavelmente faria o mesmo.

BIZZ - Qual é o seu herói favorito?

Lee - É difícil pra mim ter um favorito. Eu me divirto com todas as coisas que criei. Eu provavelmente ache melhor o Surfista Prateado, porque acabei de fazer uma nova história dele. Mas geralmente eu costumo dizer que é o Homem-Aranha.

BIZZ - O Homem-Aranha é realmente um herói especial. Você sabe melhor do que ninguém o que o faz especial: sua fraqueza, azar... Suas primeiras histórias ainda parecem novas e de fato muito melhores que as atuais. Você não concorda?

Lee - Eu certamente gosto das minhas histórias (risos) mais talvez seja difícil manter um personagem interessante o tempo inteiro. Depois de um tempo não resta nada mais para escrever. Eu não sei. You know, as histórias que são publicadas hoje tem um tipo de graça diferente das de anos atrás.

BIZZ - Existe alguém que você possa chamar de “o novo Stan Lee”? Quem está Trazendo novas idéias e personagens aos quadrinhos?

Lee - Eu... não... sei. Eu realmente não sei. A DC teve algo chamado The Watchmen, uma boa história, da qual gostei, com conceitos novos. Há novas idéias. Mas eu não vi ninguém que trouxesse tanta coisa nova quanto eu nesses últimos anos. Eu gostaria de poder responder a você (risos). Mas eu não conheço ninguém que tenha criado tantos personagens novos e tenha obtido tanto sucesso. Não sei quem citar.

BIZZ - OK, esta é a resposta... E o que você acha do Novo Universo?

Lee - Eu receio que não foi tão bem-sucedido, foi?

BIZZ - Não era uma tentativa de resgatar a velha substância da Marvel?

Lee - (seco) Só que não funcionou.

BIZZ - Quais são suas atuais funções na Marvel?

Lee - Estou aqui na Califórnia (o escritório central é em Nova York) desenvolvendo filmes, desenhos animados e projetos para a TV. Eu ainda escrevo algumas histórias ocasionalmente. Como disse, eu acabo de escrever uma aventura do Surfista Prateado, mas na maior parte do tempo eu estou envolvido com filmes e televisão.

BIZZ - Você não gostaria de voltar a produzir mais quadrinhos e criar mais personagens?

Lee - Eu adoro escrever quadrinhos e criar personagens. Mas depois de passar tanto tempo fazendo isso, estou gostando de fazer algo novo. Mas acredito que em breve volte a lazer novos quadrinhos. Porque eu sinto falta disso.

BIZZ - Em que filmes você está trabalhando agora?

Lee - O primeiro a chegar nos cinemas é baseado num personagem chamado Justiceiro. O segundo será sobre o Homem-Aranha. Eu espero fazer um sobre o Homem de Ferro, Quarteto Fantástico e alguns outros. (Os olhos do Dr. Destino brilham. Ele blasfema alguma coisa na língua latveriana.) É difícil dizer, porque muitas coisas podem dar errado. Nós tínhamos um número de filmes que pensávamos que íamos produzir, mas que no último minuto foram cancelados... Então, agora, eu não gosto de falar sobre eles até que estejam finalizados.

BIZZ - OK... Qual é seu artista favorito?

Lee - Eu não posso responder isso, não é justo, porque eu posso esquecer alguém importante. Posso mencionar os artistas com quem trabalhei: John Romita, John Buscema, Jack Kirby e Steve Ditko, of course. Hoje, há um artista francês chamado Moebius (Jean Giraud)... Ele fez a arte da minha história do Surfista Prateado. Eu trabalhei com tantos artistas! E realmente difícil ter favoritos.

BIZZ - Como está a disputa entre Marvel e DC?

Lee - Não há realmente disputa. A maioria das pessoas são amigas.

BIZZ - Então, nós podemos esperar outros crossovers como aquele entre Super-Homem e Homem-Aranha?

Lee - Yeah, podem haver outros. Nós não realizamos muitos crossovers, mas sempre é divertido fazê-los.

BIZZ - Aqui no Brasil há uma boa torcida pela realização de um crossover entre Batman e Demolidor, assinado por Frank Miller. Isso é possível?

Lee - Oh! (risos) Eu não sei se DC ou Frank Miller gostariam de fazer isso, mas certamente é possível.

BIZZ - Miller fez um ótimo trabalho com o Demolidor e especialmente com Elektra. Ele voltará para a Marvel?

Lee - Yeah, eu gosto muito da minissérie de Elektra e espero ver mais trabalhos dele na Marvel. Mas eu não estou exatamente atualizado com o que está acontecendo no perímetro editorial. E não sei o que Miller está fazendo agora.

BIZZ - Você criou os X-Men. E agora os mutantes do professor Xavier se multiplicaram por seis revistas (Classic X-Men, The Uncanny X-Men, The New Mutants, X-Factor, Excalibur e a minissérie X-Terminators). Qual é a razão de tanto sucesso?

Lee - Well... Eu acho que fazemos tantas revistas porque os fãs querem comprá-las (risos). Acho que o sucesso atual dos X-Men vem das histórias de Chris Claremont. Ele tornou todos os personagens muito interessantes, desenvolvendo suas personalidades de forma assustadora.

BIZZ - O que você acha dos quadrinhos adultos?

Lee - A idéia de quadrinhos não é apenas para crianças, mas isso não significa que nós queremos torná-los terrivelmente sexys e violentos. Adultos vão ao cinema, e quadrinhos são uma espécie de filme. A única diferença é que eles não possuem movimento. Pouco a pouco, estamos conquistando leitores mais velhos. Quadrinhos agora são encontrados em livrarias, coisa que não acontecia antes.

BIZZ - Você tem lido o Quarteto Fantástico? (Dr. Destino desconfia de algo e me aperta a garganta).

Lee - Não. Eu vejo as capas e é só. É muito frustrante pra mim lê-los, porque se eu ler e ver algo que não está certo ou algo que deveria ser consertado, eu não me sentiria confortável. Eu não quero começar a dizer às pessoas o que eu acho que está errado, especialmente por não trabalhar mais no escritório de Nova York.

BIZZ - Ainda há lugar para o Capitão América dos dias de hoje?

Lee - Eu lembro quando trouxemos o Capitão América de volta, 20 anos atrás, e todo mundo dizia que não havia mais lugar pra ele. E ele se tornou popular. Eu penso que sempre haverá lugar para o Capitão América nos Estados Unidos.

BIZZ - O que você curte mais nos quadrinhos?

Lee - Well... Eu gosto da inovação. Eu odeio ler sempre a mesma coisa. É como ver os mesmos filmes na TV, isso me deixa doente. Basicamente, o que eu gosto é o que todo mundo gosta: novas histórias, boas idéias e personagens interessantes. (pausa) O Brasil é um grande mercado para histórias em quadrinhos?

BIZZ - Sem dúvida. Quando você começou com a Marvel, pensou em ter, algum dia, histórias publicadas no Brasil?

Lee - (risos) Não. Eu só pensava em escrevê-las boas o suficiente para manter o meu emprego.

BIZZ - E como você se sente agora?

Lee - Eu ainda tenho o meu emprego! (risos)

Olho Dr. Destino e vejo que seu aparelho está pronto para um grande desfecho. De repente, a parede da sala se derrete. Chamas atacam o vilão, que ri sarcasticamente. “Eu esperava vocês”, ele diz.

A mesa onde está o telefone voa sem motivo. O telefone cai no chão. Súbito, o prédio começa a tremer, como se alguém superforte estivesse erguendo sua estrutura.

O aparelho mortal do Dr. Destino está em pedaços. Agarro o telefone. Stan está falando: “I enjoy it”.

Dr. Destino: “Vai ser a última coisa que você apreciará!” E detona sua engenhoca. Estaria realmente quebrada? Alô, alô? Stan desligou. Ou...?

Então, um braço elástico arrasta Dr. Destino para fora do prédio. Corro até o rombo na parede, mas ele já sumiu. O que houve? Será que...? Não percam o desfecho nas bancas. Quanto a mim, ninguém vai acreditar nesta história.


(publicado na revista Bizz de outubro de 1988)