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quinta-feira, setembro 02, 2010

Estréia histérica

Aldir Blanc

Uma estréia é uma estréia é uma estréia, como dizia a Gertrude antes de ir dar uns Tokles na Alice B., mas também pode ser um estrago, um ataque histérico. Tomado de natural ansiedade pela responsa, vi-me, de repente, envolto pelas brumas do saldo negativo, não aquele do Vila-Matas, mas o de meu prosaico balanço bancário. O miúra, crivado de bandarilhas antes da estocada final, suspira: diante do vermelho, olé, é preciso caprichar.

Penso na Rua dos Artistas, casas simples, cadeiras na calçada, Natais faraônicos aos olhos do menino, aniversários cujo emblema de prosperidade era a cascata de camarão, o Ano Novo saudado com pauladas no poste, o quentão e o melaço ao redor das fogueiras nas festas de São João. Os festejos juninos ainda estão por aí, cooptados por políticos sem escrúpulos, mas, caramba, e o frio, que fim levou o frio - a não ser aquele do bolero, cada dia mais presente, en el alma? Mudou Vila Isabel ou mudei eu?

Estréia. Dei uma repassada nos modismos que nos assolam. O que fazer? Apelar para um rap, periférico feito fimose estrangulada? Dissecar o passado cinzento do Papão na artilharia nazista? Plantar à lisboeta sorrateiras perguntas em entrevistas com respostas prontas desancando desafetos? Contar que fui assistente do ginecologista de Camilla Parker 61 Bowles? Chorar sobre as chacinas nossas de cada dia? Esmiuçar casos de pedofilia no Senado? Resolvi transformar o pepino em cenoura e abri, gilete azul na jogada, a veia mística. Aqui vai, de folha seca, a parábola.

O Apagão do Guerreiro da Luz e a Princesa Persa Acesa

Ah, é de manhã, é de madrugada, é de manhã. Acordo, com a habitual verve guerreira, e não enxergo chongas. Tateio sob a seda em busca da espada: recolhidinha. Grito por meu fiel Ackel el-Akhar (Ackel, o ácaro), joalheiro, despachante e almoxarife do serralho:

- Vai agora no Mini Max e compra lanternas, candeeiros, velas, fósforos, pilhas, isqueiros Bic e marca uma consulta com meu oftalmologista. Por via das dúvidas, passa na farmácia e arrebata o estoque de Viagra e Celides.

Expedidas as ordens, deitei-me de novo com uma faixa púrpura sobre os olhos. Ouvi um gaiato na rua gritar:

- Cabô o eclipse!

Isso não vai ficar assim. Vou botar toda essa despesa inútil na conta do Rocco.

Dirigi-me ao serralho para dar uma relaxada. A princesa persa, minha favorita, ateava fogo aos sete véus, armando a maior quizumba.

- Eu quero zahir de caza, zohar boraí com o Zuenir, zanzar com o Ziraldo, dar pro Szafhir, tocar o zaralho, armar uma zorra, ô zura!

Assim não há Guerreiro da Luz que agüente.

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