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quarta-feira, setembro 29, 2010

Marcelo D2 mostra homenagem "de coração" a Bezerra da Silva

Osmar Portilho

A tão procurada batida perfeita de Marcelo D2 pode estar no samba. Em um ano que poderia ser "ocioso" em sua carreira, o rapper colocou em prática um projeto antigo: homenagear o sambista Bezerra da Silva, morto em 2005.

Dono de uma tatuagem no braço com o rosto do sambista, D2 abandonou as rimas do rap, optou por deixar os scratches de lado e, "intimado" pelo produtor Leandro Sapucahy, decidiu colocar em prática o projeto, que resultou no álbum: Marcelo D2 Canta Bezerra da Silva.

Com catorze faixas conhecidas na voz de Bezerra, Marcelo D2 se focou mais no samba nesta empreitada para não mexer na obra de Bezerra. "Ele era um cara tão preocupado com essa parada dele que eu e o Leandro entramos num acordo de mexer o mínimo o possível", disse em entrevista ao Terra.

O músico ainda falou sobre a preocupação de mostrar aos fãs de Bezerra que esta é uma homenagem de "coração" e exaltar o lado malandro do sambista. "Ele falava de política de uma maneira que poucas pessoas falaram. Esse sarcasmo dele é uma coisa que me influenciou muito. Ele sacaneava todo mundo. Isso é a cara do brasileiro", contou.

Confira a entrevista

Terra - Como surgiu esse projeto? Era uma ideia antiga?

Marcelo D2 - Tinha essa ideia desde que o Bezerra morreu. No dia que ele se foi ficamos conversando e pensamos que seria uma boa. O tempo vai passando e as coisas vão acontecendo. Acaba não sobrando tempo pra isso com toda a carreira. Em 2007 quando fizeram uma homenagem para ele e me convidaram pra participar eu achei que ainda não era hora. A hora aparece quando é apropriado.

E como soube que essa era a hora?

Esse ano eu estava de bobeira e o Leandro Sapucahy me ligou falando "E aí? Vai fazer o que esse ano?". Conversando, nós lembramos dessa ideia e falei "vamo embora". Estava meio sem tempo com turnê na Europa, mas como trabalho há muito tempo com o Leandro eu tinha total confiança nele. Fizemos as bases em dois dias depois de uma reunião. Depois disso fui pra Europa e voltei quatro vezes gravando em todos os intervalos. Ia, voltava, ia pro estúdio, gravava alguns vocais, percussão. Não foi nada planejado. Rolou. O Leandro foi o cara que me de confiança pra isso.

Fazia muito tempo que o projeto estava na gaveta. Com isso as ideias já estavam meio "engatilhadas"?

Só faltava um empurrão mesmo. O lance foi que ele falou: "cara, vamos fazer esse disco agora". Estou em um momento tão do samba. Ando e canto com gente do samba. Isso acabou me dando mais vontade. Fazia mais sentido.

E como que foi na hora de estudar os arranjos?

Nesse vai e volta que foi, a gente acabou fazendo muita coisa por telefone. Uma coisa que decidimos logo no começo foi não mexer muito nos arranjos do Bezerra. Ele era um cara tão preocupado com essa parada dele que eu e o Leandro entramos num acordo de mexer o mínimo o possível. Não queríamos mexer na obra dele.

Achou perigoso?

Eu faço minhas experiências de rap, samba, hardcore, mas na minha obra. Essa coisa de scratch, beatbox e tudo ia ficar muito agressivo, principalmente para os fãs do Bezerra. Não era isso que queria. Queria um disco para que os fãs dele ouvissem e soubessem que é uma homenagem de coração mesmo. E para a molecada mais nova que não conhece a obra do Bezerra.

Isso influenciou na hora de escolher as músicas?

Também não queria fazer um trabalho arqueológico. Tenho todos os discos do Bezerra. O primeiro compacto dele. Queria mostrar o lado carioca malandro dele.

Foi difícil chegar nas 14 faixas finais?

Basicamente a gente escolheu as que eu cantei melhor (risos). Gravamos todas as músicas e você vai percebendo o que fica melhor. É natural. Tem músicas como Pai Véio 171 que era uma que eu não botava fé. Adoro, mas não levava fé. Hoje é uma das preferidas no disco. Gostei de toda a onda que a música ganhou. Elas foram crescendo e ganhando espaço. Tem outras também que gente já gravou. O Rappa, Diogo Nogueira e eu falei pra tirar. Também não queria que ficasse muita música de favela, muita música de droga, muita de samba. Pegamos alguns temas e fomos escolhendo uma ou duas de cada.

Foi difícil pra você encarar esse projeto como cantor? Leandro Sapucahy te ajudou nisso?

A gente trabalha junto há muito tempo. Como produtor, ele me ajudou muito nessa parada. A gente já sabia o que queria. Da galera que tocou com a gente no disco, metade tocava com o Bezerra e metade tocava comigo, sendo assim foi fácil entrar no estúdio e gravar.

Como define a importância do Bezerra na música?

Ele é único. Ele falava de política de uma maneira que poucas pessoas falaram. Esse sarcasmo dele é uma coisa que me influenciou muito. Ele sacaneava todo mundo. Isso é a cara do brasileiro. Preocupado com as coisas, mas que zoa. É um cara único na música brasileira. Falando em samba do morro ele é o maior.

Também com um papel social?

Ele era a voz da favela. O que hoje o rap e o funk carioca fazem, ele já fazia há muito tempo.

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