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quarta-feira, novembro 24, 2010

A orquestra do paquete Arlanza

Gambinus, o rei lendário de Flandres, segundo a crença alemã, foi o inventor da cerveja, líquido do qual são os campeões mundiais de consumo.

A presença de Gambinus no Brasil configurava-se num famoso bar de Recife, instalado na zona portuária – uma espécie de Praça Mauá do Rio – e era lá que se reunia a intelectualidade boêmia local.

Além desses freqüentadores, a tripulação elegante de maior escalão dos navios que aportavam na cidade também encontrava no Gambinus sua terra firme predileta. E as prostitutas, naturalmente.

Era no famoso bar que se reuniam intelectuais igualmente famosos, como Ariano Suassuna, Gilberto Freire, Murilo Costa Rego e o usineiro Zé Ricardo Carneiro da Cunha, uma espécie de grande arruaceiro de luxo.

Comia-se no Gambinus em quantidade sensivelmente menores do que se bebia e a mistura frequentemente era explosiva: marítimos, boêmios, pernambucanos, álcool e putas. E assim, em certos dias incertos, serviam-se trágicos tiroteios e peixeiradas na casa, não raro com baixas graves.

Um belo dia lança âncoras nas águas pernambucanas o transatlântico Arlanza, um elegantíssimo navio sob bandeira inglesa, e o maestro da banda de bordo, acompanhado de seus músicos, vai devorar o smongas borg – mesa de frios – do Gambinus e, se possível, uma das moças da casa.

Zerados os pratos e zerados vários copos, o nível etílico do bar chegou a um ponto crítico da escala Richter e começou o terremoto, findo o qual a orquestra do Arlanzo está morta, com exceção do maestro.

Desesperado, ele partiu em uma busca frenética pelos músicos da terra, pois, sem orquestra, o fantástico transatlântico não podia ficar. Disseram ao pobre homem que o Zé Ricardo Carneiro da Cunha seria o único a resolver o problema.

De fato, Zé Ricardo resolveu a questão e no mesmo dia apresentou-se a orquestra de músicos brasileiros, amigos do aliciador.

Não se sabe qual foi a conversa do usineiro com o grupo nem com o maestro, mas horas depois, estavam al mare. Destino: Rio de Janeiro.

Nenhum dos músicos sequer conhecia um instrumento musical e, após um dia de grossa bebedeira, foram convocados para o baile da meia-noite. Foi quando souberam do problema.

Chegaram ao Rio a ferros.

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