Pesquisar este blog

sexta-feira, maio 13, 2011

Aula 89 do Curso Intensivo de Rock: Green Day e Offspring


O Green Day, se você não lembra, foi o grupo que pôs o punk rock no primeiro lugar da parada americana, na capa da Rolling Stone, nas rádios e na MTV.

A histeria dos fãs encontrou outros objetos de afeição desde 1994, quando o grupo entrou no vácuo do Nirvana como catalisador do ideário punk de canções de três acordes, destruição de guitarras, angústia juvenil e refrões memoráveis.

Green Day perdeu a primazia para Alanis Morissette e uma sucessão de estrelas pop sem carisma.

Se o punk sumiu das rádios, a banda emplacou uma balada, “Good Riddance”, que ficou entre as mais tocadas do ano.

O grupo ainda vivia seus dias de glória quando o vocalista Billie Joe Armstrong disse que o pop estava na UTI.

“Tínhamos músicas incríveis, feitas por Nirvana e Weezer, no rádio, mas agora só rola a porra de Hootie e Alanis”, detonou.

Ele também previa uma enxurrada de baladas e um crescimento da música eletrônica na ausência do rock.


Era 1996. A forma como o cantor avaliava a meteórica passagem da banda pelos primeiros lugares das paradas e aquele momento atual do rock americano merecia reflexão: “O punk? A indústria percebeu que é melhor investir e trabalhar com bons meninos”, ironizou.

Muita gente ainda considera a banda traidora do movimento.

Mas Green Day apenas concretizou o potencial pop da música punk.

Em resumo, foi o Ramones que deu certo.

Antes do estouro de “Dookie”, o álbum punk mais vendido de todos os tempos, Billie Joe Armstrong entregava pizzas.


Seus primeiros discos foram lançados por uma gravadora independente, a Look Out, de São Francisco.

Em 1992, quando lançou o segundo disco “Kerplunk”, o Green Day abria shows para o Operation Ivy, venerável banda californiana que deu origem ao ska punk e ao grupo Rancid.

Quando se tornou popular, tratou de convidar colegas do selo independente, como os Riverdales, para abrir suas turnês.

Não foi, em suma, um grupo fabricado por executivos de uma multinacional.

Eles conquistaram seu espaço com a cara e a coragem.

Sua música não é revolucionária nem conservadora.

O rótulo punk pop, grudado por conta da rotação intensa de seus vídeos na MTV, não faz justiça às pauladas embutidas na interpretação iconoclasta dos moleques.



Se hits como “She”, “Walking Contradiction”, “Basket Case”, “Welcome To Paradise” ou “When I Come Around” parecem enjoativos de tanto que tocaram entre 1994 e 1996, é porque os gostos mudaram.

Green Day é punk por opção e pop por circunstância.

Três anos após capturar as paradas de sucessos, dois após seu disco mais cínico, Green Day surpreendeu com o melhor álbum de sua carreira.

Encontrando o equilíbrio entre as melodias pegajosas de “Dookie”, o CD que colocou a banda na história, e a agressividade desiludida de “Insomniac”, de reafirmação punk, “Ninrod”, o terceiro álbum multinacional, marcou a maturidade de Billie Joe Armstrong (vocalista e guitarrista), Mike Dirnt (baixista) e Tre Cool (baterista).

Ao mesmo tempo, era o disco mais juvenil do trio.

Green Day amadureceu sem perder o pique.

Maturidade não significa que Armstrong, então papai, estivesse cantando sobre fraldas ou os infortúnios de um rockstar milionário.

Mal entrado nos 30 anos, ele estava longe da crise da meia-idade, embora a indústria não soubesse bem se seu punk pop se tornou obsoleto.



No estranho mundo da Billboard, um CD que não vende 2 milhões de cópias é considerado um fracasso.

Quando “Insomniac” (1,6 milhão de discos nos EUA, 4 milhões no mundo) ficou a menos de um quarto da vendagem do hypado “Dookie”, o punk pop entrou na lista dos modismos ameaçados de extinção.

Sem a responsabilidade de ser o campeão de vendas do ano, Green Day gravou um dos raros CDs decentes do rock americano em 97.

Com duração de 50 minutos e com 18 faixas, “Ninrod” é o mais longo e mais diverso lançamento da banda.

Embora seja, em suma, pop acelerado com clara inclinação pela fase “I Wanna Hold Your Hand”, dos Beatles, pela primeira vez há violinos, harpas, sopros, harmônicas, violões e uma surf music instrumental.

A combinação funciona sem distrair o ouvinte das melodias, ainda básicas e grudentas.

Há uma familiaridade agradável nas canções, mas, graças ao produtor Rob Cavallo (o “quarto Green Day”), também causa estranheza.



Se o rockabilly “Hitchin’ A Ride” lembra Stray Cats, ao mesmo tempo faz uso, de forma original, do violino de Petra Haden (do grupo That Dog).

As participações especiais incluem ainda os sopros do grupo No Doubt – no ska/polka “King For A Day”, que fala sobre as alegrias da vida de uma drag queen adolescente.

A maturidade não se resume aos arranjos.

Billie Joe Armstrong parecia estar alternando humor com revelações pesadas.

“Hitchin’ A Ride” é a atormentada confissão de seu alcoolismo.

Em “The Crouch”, um desabafo contra a apatia adolescente inspira a metáfora do “six pack” de cervejas, enquanto o cantor prevê a transformação do assim chamado “jovem idealista” num velho barrigudo.

Sem grandes truques de marketing, “Ninrod” soa honesto como a banda nunca foi acusada de ser.

Tudo é direto, simples e eficiente como um yeah-yeah-yeah.

Ou, como na maior parte das faixas, um palavrão.



É verdade que “Worry Rock” recicla a melodia de “Nowhere Man”, dos Beatles, “Scattered” sugere The Hollies em 45 rpm, “Haushinka” chupa o fim de “My Generation”, do Who, e “Walking Alone” repete The Jam até no vocal clonado de Paul Weller.

Mas esta familiaridade tem propósito.

“Ninrod” sintetiza todas as gerações do rock rebelde, do rockabilly ao punk rock convencional, enfatizando o mod e a beat music dos anos 60.

Gêneros que, ao longo das décadas, foram alinhados na mesma tradição dos acordes básicos e com três minutos de duração defendidos pela geração hardcore.

A impressão que temos é de que o Green Day descobriu a trilha da eterna juventude.

No embalo das boas vendagens de “Ninrod”, os primeiros discos do Green Day (os chamados “independentes”) acabaram chegando às lojas, em edições remasterizadas.

Nem tanto pelas músicas, mas pela camaradagem criada na época de “1.039/Smoothed Out Slappy Hours” e “Kerplunk!”, Green Day fez do selo Look Out o centro do punk pop.

No auge da fama, já como contratado da Reprise (do conglomerado Warner), o trio levou seus ex-colegas de selo, Riverdales e Mr. T Experience, para abrir suas turnês.

Foi o boom do gênero que, a médio prazo, acabou dando ao No Doubt uma chance de chegar ao estrelato.



O álbum de estréia, em 1990, eram canções de amor mal tocadas.

Mike Dirnt e Billie Joe Armstrong, que estavam juntos desde os 14 anos, não tinham a menor expectativa de formar uma banda importante.

A versão em CD reúne o álbum “39/Smooth” e os EPs “Slappy” e “Hours”.

Já é possível ouvir as influências do rock alegre e inconseqüente dos anos 60, mas nenhuma composição de Armstrong sugere o potencial do grupo, tanto que o destaque é “Knowledge”, do Operation Ivy.

O disco “Kerplank!”, de 92, mostra um grupo mais promissor.

“Welcome To Paradise”, “One Of My Lies” e “80” tinham a universalidade que o álbum posterior, “Dookie”, provaria.

Mesmo limitado ao circuito independente, o disco experimentou um sucesso que nenhum outro lançamento underground da época igualou, abrindo a temporada de investimento no novo punk.



Green Day já fazia, independente, o que hoje tem apoio da MTV e das FMs.

À frente de seu tempo – e não o contrário, como nostalgia punk –, o trio estabeleceu novas regras: o pop não precisa ser suave, porque o público atual cresceu ouvindo Clash e Sex Pistols.

O fato é que, desde “Dookie”, nenhum medalhão do pop açucarado voltou a gozar o velho sucesso.

E o nome “Green Day” era uma gíria californiana para designar um dia ensolarado e convidativo para fumar maconha.


Na trilha aberta pelo Green Day, surgiu um outro grupo seminal, cuja história pode ser assim resumida.

Era uma vez uma das bandas mais legais da Califórnia.

Contratada pelo selo punk Epitaph, ela atualizou “Amor Sublime Amor” e “Juventude Transviada” em canções sobre violência gratuita e baixa auto-estima.

Era tão legal que muita gente começou a prestar atenção e seu disco independente se tornou um dos mais vendidos da história.

É, estamos falando do Offspring, que na era jurássica se chamava Manic Subsidial.

O novo nome foi sugestão do primeiro baterista, James Lija, que “descobriu” o termo num programa de tevê chamado Media Blitz.

Offspring é sinônimo de prole.

A mesma história pode ser contada de outro jeito.


Em 1984, os adolescentes Dexter Holland e Greg Kriesel, que eram colegas de ginásio em Huntington Beach resolveram formar uma banda após saírem de um concerto da banda de projeção local Social Distortion.

Com Dexter na guitarra e vocal, Kriesel no baixo e James Lija na bateria, eles começam a ensaiar e fazer pequenas apresentações nas casas de amigos.

Mais tarde, Kevin “Noodles” Wasserman foi chamado para ser o segundo guitarrista do grupo pelo seu infame talento de conseguir bebidas alcoólicas para os integrantes da banda, na época todos menores de idade.

Tocando sob o nome de Manic Subsidal, em 1985 a banda decide trocar de nome para The Offspring.

Seu primeiro single em vinil foi lançado pela gravadora independente Black Label, fundada pelos próprios integrantes da banda, teve tiragem de mil cópias e continha as canções “I’ll Be Waiting” e “Blackball”.

Para testar sua sonoridade junto a molecada, o Offspring tocou no refeitório do colégio em plena hora do jantar.


“Foi ridículo!”, recorda Noodles. “A gente tentando botar pra foder e as pessoas olhando para os pratos, aquele barulho de talheres entre as músicas, neguinho procurando aos gritos pelo creme amendoim...”

Mais tarde, o baterista original resolve sair da banda para dedicar-se mais aos estudos, sendo trocado por Ron Welty, com 16 anos na época.

Seu álbum de estréia, “The Offspring”, foi lançado pela gravadora independente Nemesis/Cargo, produzido por Thom Wilson (responsável por álbuns de outras bandas como Dead Kennedys), vendendo três mil cópias desta estréia em vinil.

Até então, o público que ia aos shows da banda era apenas a “grande molecada do bairro” e seus parentes mais próximos, mas após o lançamento do disco uma nova galera passou a agitar as apresentações e dar grande prestígio ao grupo.

Dois anos depois, uma de suas canções é inserida numa coletânea da Epitaph Records (selo pertencente ao guitarrista do Bad Religion e produtor Brett Gurewitz), que contrata os moleques.


Em 1992, eles lançam o seu primeiro disco pela nova gravadora, “Ignition”, que ganhou disco de platina pelas suas vendas ao redor do mundo.

O álbum saiu com um aviso, que horrorizou os pais de adolescentes: “Êi, ainda não acabamos não! E eu quero mais é que você se foda!”

Destaque para “Session”, primeiro sucesso da banda e considerada a “música Offspring”, aquela que definiu o estilo do grupo (Ron Welty é quem grita “fuck, fuck, fuck” no início da música).



Outras punkadas em “Kick Him When He’s Down”, “Take It Like A Man”, “Get It right” e “L.A.P.D.” ajudaram bastante a promover este album que, sem querer offender ninguém, “botava em alguns traseiros”.

Em 1994, eles lançaram o álbum “Smash”, que vendeu 11 milhões de cópias, e deram um grande salto para o sucesso com os hits “Come Out And Play” e “Self Esteem”, músicas que por muito pouco não ficaram de fora do disco.



Em 1997, já contratados pela Columbia/Sony, eles lançam o disco “Ixnay On The Hombre”, dividindo os fãs no assunto “sell-out” (“vendidos”) por terem saído de uma gravadora independente para uma multinacional (a expressão mexicana “ixnay on the hombre” significa, em bom português, “fodam o sujeito”).

O disco tem boas faixas, mas nada do calibre de “Come Out And Play” ou “Self-Esteem”.

Nenhum refrão permanece no inconsciente e acorda clássico no dia seguinte.

Embora seja o quarto álbum do grupo, “Ixnay On The Hombre” sofre da síndrome do disco seguinte ao reconhecimento.



Acuada pelo sucesso, a banda tenta se justificar o tempo todo.

Começa com um discurso de Jello Biafra, o punk que vem com selo de credibilidade, e termina atacando o público (agora) inconseqüente que lhe deu força no início – a música “Change The World” é um tapa na cara dos punks revoltados.

A letra diz: “Você não quer mudar o mundo como dizia”.

Não se deve dar dinheiro aos punks.

“Ixnay On The Hombre” prova que os discos do gênero precisam soar toscos e mal produzidos.

O Offspring pegou Dave Jerden, famoso por seu trabalho com Jane’s Addiction, e acabou soando como Jane’s Addiction em duas faixas – pior: como U2 antigo em outras duas.



O disco tem até “faixa escondida”, aquele barulho que, desde “Nevermind”, do Nirvana, acontece em todos os CDs após a última música oficial.

Como o rock americano andava mesmo caído, “Ixnay On The Hombre” não era um desperdício completo.

Quem conhecia a carreira inteira da banda sabe que “Smash” foi uma exceção.

O novo CD de título chicano é superior aos dois primeiros álbuns.

As canções “Motga”, “Cool To Hate”, “Way Down The Line” e o ska “Don’t Pick It Up” se destacam do punk genérico da maioria dos artistas do gênero.

Quando cada vez mais bandas tentam soar como Bad Religion, Offspring pelo menos tenta seu próprio caminho – ainda que “Don’t Pick It Up” seja descaradamente influenciado por Operation Ivy, a melhor banda de ska punk da Califórnia (seu núcleo, hoje, é o Rancid, grupo que recusou todos os contratos com multinacionais para permanecer na Epitaph e manter a credibilidade até o fim do milênio).



A banda The Offspring foi, ao lado do Green Day, o rosto da nova revolução punk.

Depois de nove milhões de discos, com o CD “Smash” (1994), tornou-se a banda independente mais popular de todos os tempos, transformando o punk em música pop, cantarolada atualmente até por executivos de multinacionais.

O punk pop deixou de ser o assunto favorito da mídia musical há mais de dois anos.

Mas, também é verdade, como disse Kevin “Noodles” Wasserman, que existe mais punk no rádio e na MTV hoje do que no começo da década.

A responsabilidade, sem dúvida, é do Offspring.

A banda tem algumas das melhores letras do rock contemporâneo.

Talvez porque o compositor Bryan “Dexter” Holland tenha formação universitária – é Ph.D. em Microbiologia.

Isto não impediu acusações dos punks radicais na época em que o Offspring começou a aparecer em videoclipes e a vender discos como nenhuma outra banda.

Os ataques pioraram mais quando o grupo rompeu com o selo independente Epitaph para assinar com a Columbia, de propriedade da corporação Sony.

Traidores do movimento?

Dexter tem uma gravadora independente, a Nitro, que está lançando novas bandas punks graças ao contrato milionário fechado com a referida multinacional.



Os integrantes do Offspring amam o punk.

A banda estava devendo um álbum tipo “Americana”, lançado em 1998.

Claro que o conglomerado Sony, que a contratou por uma fábula, tinha motivos imediatistas para cobrar esforço maior de Dexter Holland, a voz e o cérebro do grupo.

Foi um dos contratos mais falados da década, assinado enquanto o grupo ainda rendia capas de revistas, teses sobre o retorno comercial do punk e o disco independente “Smash” batia o recorde de vendas do segmento.

O álbum “Americana” só teve o produtor em comum com o álbum anterior – o já citado Dave Jerden, que viveu seu momento Kodak dirigindo o grupo Jane’s Addiction.

O repertório alterna punk pop acessível com hardcore de credenciais californianas.

Trata-se do Offspring clássico, marcado por guitarras estridentes, o esganiçado inconfundível de Holland e o humor peculiar capaz de produzir um cover de “Feelings”, baba romântica que o brasileiro Morris Albert costumava cantar nos programas do Chacrinha.



O CD vem cheio de refrões melodiosos que parecem ter sempre existido.

Alguns existem desde ao menos 1994, caso da faixa de trabalho.

A música “Pretty Fly (For A White Guy)” recria quase nota a nota o megahit “Come Out And Play”, que fixou o grupo na MTV há seis anos.

Mas até esse exercício de preguiça traz alguma criatividade, ao samplear o grupo de metal progressivo Def Leppard e satirizar os gangstas suburbanos – referência a Korn, talvez?

As músicas “She’s Got Issues”, “The End Of The Line” e “No Brakes” trazem como novidade influências da new wave.



Pratos cheios para as rádios especializadas levantarem a questão da viabilidade da banda após o equívoco anterior.

Será que a gravadora iria promover o disco com a mesma vontade, agora que o modismo punk passou?

Promoveram, com muita garra, e o disco se transformou no mais vendido da banda, com mais de 10 milhões de cópias no planeta.

Lançado em 2001, “Conspiracy Of One” era uma boa oportunidade para se conferir o rumo tomado pelo estilo.

Todo mundo concorda que o Offspring faz o punk rock mais pop e nonsense dos Estados Unidos na atualidade.



Desde o multiplatinado “Americana”, eles tentam se diferenciar de grupos como Ramones e Bad Religion, que parecem fazer sempre a mesma música.

Sem fugir do barulho e dos vocais berrados, o grupo lembra B-52’s em “Original Prankster” (que segue a fórmula de “Come Out And Play” e “Pretty Fly (For A White Guy)”, desta vez “homenageando” o rapper Ice-T), faz uma quase balada em “Denial Revisited” e usa um corinho tribal em “Special Delivery”.

Ao contrário do Green Day, o Offspring tenta fazer variações de sua sonoridade, sem perder a essência.

A banda também comprou uma briga feia com a Sony, quando decidiu colocar o álbum inteiro na Internet, para downloads gratuitos.

O grupo teve de recuar, mas decidiu organizar um concurso oferecendo US$ 1 milhão ao vencedor.

Todos os fãs que fizeram o download de “Original Prankster” (cerca de 500 mil) estavam concorrendo.

Coisa de banda punk multimilionária.

Assim caminha a humanidade. Giants.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom...