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segunda-feira, outubro 31, 2011

Arte e Ciência de Entrar no Canavial sem se Machucar (Parte 2)


Para você entender porque essas poções mágicas emocionavam os escritores (e se empolgar como eles), selecionamos alguns coquetéis clássicos, com sua receita e sua história.

Mas não é para fazer em casa ou na casa de amigos nem pedir em bares, que coquetel é coisa de viado.

Como insigne membro da AMOAL, você só pode lançar mão desses truques baratos quando quiser impressionar uma mulher que realmente valha a pena comer.

As informações seguintes servem apenas como cultura geral e para lhe ajudar a ter assunto nas mesas de botecos.

Como todo mundo sabe, as frutas sempre foram parte importante da dieta mediterrânea, consumidas in natura, como doces, conservas ou em forma de bebidas.

Um grande exemplo é a uva, que desde os primórdios é transformada em vinho, e mais recentemente também em destilados como o cognac, o armagnac, a grappa ou a bagaceira.


Na Antigüidade, o vinho raramente era bebido puro, por ser considerado forte e pesado, sendo quase sempre diluído e misturado.

O ato de adicionar água ao vinho era chamado de sangria.

A referência a “sangre” (sangue em espanhol), implícita em seu nome, não é gratuita: deve-se à cor do vinho tinto e ao fato de a bebida ser “aliviada”, enfraquecida, pela água, da mesma forma que o tratamento de saúde homônimo supostamente alivia a pressão sangüínea do paciente.

O tradicional ponche, nome pelo qual também se conhece a sangria, nasceu nas casas humildes espanholas antes de chegar aos grandes salões e se transformar em um dos drinques mais populares do planeta.

Segundo o “The Oxford Companion to Wine”, sangria é simplesmente “a mistura de vinho tinto, limonada e, às vezes, destilados e frutas frescas, servidos tipicamente na Espanha”.

Dependendo dos ingredientes usados, a sangria pode ser um leve refresco ou um coquetel mais potente.


O “Mr. Boston Official Bartenders Guide” (63.ª edição) tem como fórmula oficial a seguinte mistureba: ¼ xícara de açúcar, 1 laranja e 1 lima fatiadas, 1 garrafa de vinho tinto, 1 litro de água gasosa, frutas à vontade e bastante gelo.

Na Espanha, contudo, cada família ou restaurante tem sua receita própria.

No Brasil, o drinque sofre por causa de alguns equívocos básicos: embora seja benéfico preparar a mistura horas antes, para que os ingredientes se tornem homogêneos, as frutas só devem ser adicionadas pouco antes do consumo sob pena de oxidarem e escurecerem.

Pelo mesmo motivo, deve-se usar sempre ao menos uma fruta cítrica (limão, laranja, abacaxi fresco), pois mantém a boa acidez da fórmula, que deve se contrapor ao açúcar adicionado, e ajuda a manter o frescor e a cor das demais frutas.

Além dos cítricos, os pêssegos, morangos, cerejas, maçãs, pêras, kiwis, manga, cerejas e uvas são igualmente bem-vindos.

As bananas, figos, ameixas, melões ou qualquer fruta amarga se tornam dispensáveis.

Economize no açúcar para não tornar a mistura enjoativa.

O principal é manter o espírito popular e informal da bebida, improvisando a própria receita.


Esta pode, por exemplo, levar especiarias como cravo e canela, ser adoçada com mel ou licores como o Cointreau e o Amaretto, temperada com algo picante como o Tabasco e até decorada com hortelã fresca.

Fica a critério de quem vai pilotar a poncheira.

Só não se pode esquecer do vinho, o ingrediente principal.

Não se deve usar um exemplar que seja caro, pois seria um crime diluí-lo.

Por outro lado, utilizar uma bebida intragável seria o mesmo que destruir a receita.

Se for assim, não vale a pena nem começar.


Recomendo vinhos jovens e de boa acidez, como boa parte dos vinhos brasileiros, os italianos “vino da tavola”, Valpolicella, Bardolino, Lambrusco, Dolceto, Barbera, Chiantis comuns, os franceses “vin de table” ou “vin de pays”, Beaujolais e quaisquer outros exemplares da uva Gamay, Pinot Noir, Vinho Verde, e, tradicionalmente, os vinhos espanhóis “de mesa”.

Evite os vinhos tânicos ou com paladar marcante de carvalho, pois estes tendem ao amargor.

Não se limite aos tintos: experimente brancos e espumantes para conseguir ótimos resultados.

Descarte os Chardonnays barricados e dê preferência a vinhos mais ácidos como os Sauvignon Blanc, Riesling, Trebbiano, Pinot Grigio, Tocai Friuliano, Frascatti.

Os espumantes levam vantagem por sua grande acidez.

Uma mistura de espumante com pêssegos, morangos ou cerejas, uma gota de mel e bastante gelo seria uma boa companhia para um canapé de frutos do mar com lulas ou camarões fritos.

Lembre-se de que a sangria é apenas um alívio para o verão e não uma bebida para se levar a sério.


Trata-se, no máximo, de uma diversão para embriagar e depois comer uma vadia, além de ser uma maneira eficiente de usar aquele vinho de qualidade média que está ocupando precioso espaço em sua adega.

As receitas não devem ser rígidas, mas adaptáveis ao que estiver disponível no momento e ao humor dos que bebem.

Acima de tudo, a sangria é coquetel que se adapta perfeitamente ao nosso clima quente, nossa variedade de frutas e notável capacidade de improvisação.

Também conta pontos a favor o fato de que depois que enche a cara de sangria, toda mulher quer entrar na vara.

Aí, é só sangrar o burrinho. Ou a potranca, o que dá no mesmo.

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