Pesquisar este blog

quinta-feira, outubro 20, 2011

Causos de Bambas: Nunes Pereira


Maio de 1976. Chegando a Manaus para rever os amigos, o antropólogo Nunes Pereira está sendo ciceroneado na cidade pelo poeta Anthístenes Pinto.

Embora maranhense de nascimento, Manuel Nunes Pereira era uma das figuras exponenciais da nossa literatura tendo sido, inclusive, um dos fundadores da Academia Amazonense de Letras.

Quando da sua morte, em 1985, sua biblioteca de cinco mil livros foi comprada pelo Governo do Amazonas e hoje faz parte do acervo do IGHA.

Em 1993, o jornalista Arlindo Porto lançou o belíssimo livro Nunes Pereira: o cavaleiro de todas as madrugadas do universo, onde mostrava algumas facetas do autor do clássico A Casa de Minas.

Durante o passeio com o poeta, o pajé Nunes Pereira, do alto dos seus 83 anos bem vividos, cismou que queria rever o pessoal do Clube da Madrugada, para tomar umas “branquinhas” e atualizar as fofocas.

Anthístenes Pinto resolveu levá-lo ao Bar do Alfredo, no cruzamento das ruas Ferreira Pena com Monsenhor Coutinho.

Todos os intelectuais presentes (Artur Engrácio, Jorge Tufic, Aloísio Sampaio, Van Pereira, Carlos Genésio, Garcibal do Lago e Silva, Rômulo Gomes e Afrânio de Castro, entre outros) fizeram a maior festa ao ver o morubixaba cada vez mais lúcido e saudável.

Quer dizer, todos menos um.

Sentado sozinho a uma mesa nos fundos, preparando-se para detonar a segunda garrafa de uísque Vat 69, o vereador Fábio Lucena fez questão de não se manifestar.

Intrigado, Anthístenes Pinto pegou Nunes Pereira pelo braço, levou-o até a mesa do vereador e tentou quebrar o gelo:

– Êi, Fábio, o que está havendo? Esse aqui é o autor de Moronguetá – um decameron indígena e de Panorama da alimentação indígena, dois livros fundamentais sobre a Amazônia. Este aqui é o nosso grande Nunes Pereira!!!

Fábio Lucena ajeitou os óculos, limpou a boca com a manga do paletó, olhou para aquele sujeito com fisionomia de índio e vasta cabeleira branca, que fazia um belo contraste com sua tez escura, aí, escandindo bem as sílabas, sem levantar-se da cadeira, disparou à queima-roupa:

– Nunes Pereira? O senhor, por acaso, não seria tio da matinta-pereira?...

Foi a primeira vez na vida que o pajé perdeu as estribeiras.

E só não deu um tabefe no insolente vereador porque foi resgatado a tempo pela turma do “deixa-disso”.

Nenhum comentário: