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quinta-feira, outubro 20, 2011

Everything But The Girl


Via email, o maragato brizolista e engenheiro José Teomário Nunes (aka “Teo Macanudo”), lá da distante Passo Fundo (RS), faz algumas indagações pertinentes:

Carálio, Simon People, mas fiquei com vontade de me acolherar com os guris na festança do teu irmão caçula.

Bah, que deve ter sido trilegal, tchê!

Não sabia que aí se faz creme de murici, apesar de sempre ter achado o técnico santista meio frutinha.

Só não entendi o seguinte: que diabo é piracuí? É parente do pirarucu?

E que diabo de entrevero foi esse que leva o nome da minha banda favorita?

Ficou parecendo coisa de RPG para iniciados, caro poeta!

Tem mãe no meio? Ou tem no meio da mãe?

Pelo sim, pelo não, eu, no seu lugar, teria sacado a guasca e dado umas relhadas no matungo pra ele não confundir tareco com tererê!

Grandiabraço do brodão de sempre e lembranças para a indiarada

Teo Nunes


Caríssimo Teo Macanudo, faz tanto tempo que não tenho notícias suas (15? 20? 25 anos desde nosso último porre no Bar Calígula?) que nem imaginava você usando uma roupinha de escafandrista, lenço vermelho no pescoço e vindo mergulhar nesse humilde blog, tendo mais de 200 milhões de similares a sua disposição na nossa imensa blogosfera.

Mas abarque-se e sinta-se em casa, bagual.

Para ter ideia do imbróglio, imagine a seguinte cena.


No decadente saloon de uma empoeirada cidadezinha do velho Oeste, a mocinha está no palco cantando alguma antiga balada, sendo acompanhada por um sujeito idoso em um piano do tempo do Onça.

Alguns dos presentes prestam atenção na música, mas a maioria está concentrada no carteado que rola nas mesas.

Num canto do balcão gorduroso, um sujeito de chapéu enfiado até os olhos, com aspecto de vaqueiro, alheio a tudo e a todos, bebe solitariamente seu copo de leite (de tigre, evidentemente), de costas para o palco.


De repente, fazendo o maior escarcéu, adentra no saloon uma corja de vagabundos, dando tiro nas garrafas expostas nas prateleiras, virando mesas de jogos, derrubando quem estiver na frente, enfim, tocando terror.

O mais abusado deles grita para o saloon inteiro ouvir alguma coisa que, mal traduzindo, seria:

– Nós vamos pegar tudo e botar fodendo!

O sujeito solitário levanta um pouco a aba do chapéu e, enquanto se vira lentamente para encarar o bonde sem freio da urubuzada, avisa ao motorneiro:

– Tudo, menos a garota!

E antes que o desordeiro pudesse abrir a boca, ele já recebe uma descarga de chumbo na cara, porque o vaqueiro solitário atirava bem pra caralho e era rápido no gatilho.

O resto do bando sai correndo apavorado.


A mocinha desce do palco e dá um beijo na boca do vaqueiro.

The End.

Pois então, caro Téo, foi mais ou menos isso que aconteceu.


Um convidado de um convidado, que nem eu nem o Simas conhecíamos, entrou na festa como se estivesse com o rei na barriga, se sentou em minha mesa na maior sem-cerimônia e resolveu se engraçar da Madame Butterfly.

Minha moleca estava comigo desde o início do fuzuê e era a única presença feminina em uma mesa onde só estavam espadas matadores.

A Madame Butterfly não bebe, não fuma e nem sabe contar piadas de sacanagem, de forma que ela estava se sentindo meio deslocada no ambiente.

Quando suas amigas chegaram, ela me pediu para ficar na mesa delas e concordei.

A partir daí, o penetra começou a não tirar os olhos da mesa onde Madame Butterfly conversava com sua turma.

Não dei a mínima: reconheço que ela é meiga, bonita, carinhosa e gostosa.


Muito gostosa.

De repente, o penetra se levantou de nossa mesa e sumiu.

Achei que ele tivesse ido pegar bebidas.

Porra nenhuma.

O aloprado praticamente invadiu o banheiro feminino tentando obter o número do telefone celular da minha garota.


Foi contido na entrada do banheiro pela invocada Paloma:

– Qualé, porra? Deixa a menina em paz que ela é namorada do irmão do aniversariante!

O sujeito voltou para a minha mesa com a cara mais lambida do mundo, como se nada tivesse acontecido.

Só fui saber da presepada umas duas horas depois, quando Madame Butterfly veio se despedir de mim com um beijão de língua na frente do otário.

Achei estranho, já que nenhum de nós dois é dado a esses arrebatamentos em público.

Enquanto esperávamos pelo seu táxi em frente de casa, a minha princesa me falou sobre a tentativa de assédio sexual sofrida no banheiro.

Meu colhões, obviamente, foram parar na garganta.


Depois que a moleca foi embora, voltei pra mesa e paguei geral para o aloprado galã de subúrbio.

– Meu irmão, você pode beber, comer, dançar e pegar tudo, até os meus cigarros, que está tudo liberado. A casa é farta e a hospitalidade não tem preço. Agora tem o seguinte: você pode pegar tudo, menos a garota, entendeu?

Ele riu meio sem graça, o Simas, totalmente emputecido com a presepada, já quis lhe dar um couro, mas acabamos tirando por menos.

Se a alcateia avançasse em cima do infeliz, a gente ia acabar a nossa festa de confraternização na Delegacia de Homicídios.

Meia hora depois, o penetra foi embora. Pode?

Na verdade, só não parti para o pugilato explícito porque estava usando o meu boné vascaíno, o que sempre me transforma em um pacifista radical.

Se estivesse usando meu chapéu de Indiana Jones, a história teria sido outra.

Afinal de contas, não custa nada lembrar de vez em quando – mesmo para os aloprados – que respeito é bom e conserva os dentes.


Mas falando na sua dupla inglesa favorita, aí vai uma dica do Carlinhos, do supimpa andnowblog.blogspot.com, publicada no ano passado:

Depois de três anos sem gravar, Tracey Thorn volta com um disco de dez inéditas e dois covers: “Come On Home To Me” e “You Are a Lover” dos obscuros Lee Hazlewood e The Unbending Trees, respectivamente.

O álbum “Love And Its Opposite” sai dia 17 de maio, e segundo Tracey é “um registro sobre a pessoa que sou agora e as pessoas ao meu redor, sobre a vida real depois dos quarenta”.

Casada com Ben Watt – a outra metade do Everything But The Girl – desde 2009, o casal tem três filhos e uma vida mais do que privada ao norte de Londres.

O Everything But The Girl existe desde 1982, mas foi só em 1995 que a dupla experimentou o sucesso planetário quando o DJ americano Todd Terry remixou a faixa “Missing”, que foi relançada e se tornou o primeiro single a permanecer um ano ininterrupto na parada Hot 100 da Billboard.

A música acabou mudando o direcionamento musical da dupla, que passou do pop jazzístico sofisticado dos seus trabalhos anteriores à injeção de fartas doses de eletrônica nos seus trabalhos seguintes, “Walking Wounded” (1996) e “Temperamental” (1999), ambos ótimos.

Não espere, entretanto, ouvir qualquer resquício de drum’n’bass ou house em “Love And Its Opposite”.

Aqui o sentimentalismo bate forte nas interpretações cristalinas de Thorn, uma das vozes mais abençoadas da história.

Nota: 6

Recomendado pra quem gosta de Burt Bacharach, dias chuvosos, Annie Lennox.

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