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sexta-feira, março 30, 2012

Amigos e admiradores se despedem de Millôr


Dezenas de amigos e admiradores estiveram no velório do desenhista, jornalista, tradutor e escritor Millôr Fernandes nesta quinta-feira, no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju, zona portuária do Rio.

“Foi o amor da minha vida, é tudo que posso dizer”, comentou, emocionada, a escritora Cora Rónai. “Foi a melhor pessoa que conheci, a única que posso dizer que realmente foi um gênio sem medo de achar que estou falando bobagem”.

O irmão, Hélio Fernandes, também jornalista, disse ter sido o mais antigo amigo e fã de Millôr.

“Quando ele nasceu eu tinha 2 anos. Fui seu primeiro amigo. Era um gênio completo e insubstituível, um dos mais ecléticos que já conheci, pois não teve um setor que ele não descobrisse no qual não fosse verdadeiramente fantástico”.

Para o escritor Ruy Castro, os textos e ideias de Millôr sempre iluminavam uma conversa que o ajudava a compreender o Brasil e o mundo.

“Todos os pensadores internacionais juntos em um liquidificador não dariam meio copo do Millôr. Era um idealista e queria que o mundo funcionasse direito”.


O cartunista Chico Caruso chamou o amigo de batalhador e competitivo e elogiou o fato de Millôr ter usado ferramentas da internet, como o Twitter, para se comunicar até o ano passado quando adoeceu.

“Ele não admitia que ninguém fosse mais inteligente que ele, inclusive o computador, então ele brigou muito com o computador e se tornou um especialista”.

Segundo a atriz Marília Pêra, Millôr era um homem livre.

“Não tinha time de futebol, não era ligado a nenhuma religião, era muito culto e engraçado”.

A atriz Cristiana Oliveira postou em seu perfil uma foto com o artista.

“Vai com Deus mestre, filósofo, transgressor, polêmico, gênio, homem de luz!”, escreveu ela.

O ator Mateus Solano também lamentou a notícia, e postou frases atribuídas a Millôr, “um dos mais geniais pensadores que o Brasil já teve”.

A apresentadora Eliana também postou uma frase para relembrar Millôr: “viver é desenhar sem borracha” #R.I.P (Rest in Peace - Descanse em Paz).

“Ah Millôr... que pena... está ficando sem graça aqui na Terra! Sorte no Céu”, escreveu o ator Mateus Carrieri.

O cantor inglês radicado no Brasil, Ritchie, o apresentador José Luiz Datena, da Band, e a atriz Ingrid Guimarães relembraram a proximidade com a morte do humorista Chico Anysio, no último dia 23: “perder Chico e o Millôr numa semana só é uma baita falta de humor”, comentou o cantor.

“Em menos de uma semana mestre Chico Anysio e, agora, Millôr nos deixaram. Só podemos lamentar e reconhecer que foram verdadeiros gênios!”, escreveu Datena.

“Queria ser uma mosquinha pra ver o encontro de Millôr com Chico Anysio”, disse Ingrid.

Internautas anônimos também prestaram suas homenagens; poucos minutos após o anúncio da notícia, seu nome já era o mais comentado no Twitter.


Carioca nascido em 1923, Millôr iniciou sua carreira de jornalista na revista O Cruzeiro.

Mais tarde dirigiu a revista em quadrinhos O Guri e Detetive, de contos policiais e colaborou em inúmeras revistas como colunista.

Quando troquei e-mails com ele, há dois anos, Millôr já vivia em uma cadeira de rodas há pelo menos três anos, por conta de uma permanente crise de insuficiência renal.

Apesar de tudo, ele jamais parou de trabalhar.

Millôr Fernandes havia recebido alta em novembro passado, após passar cinco meses internado em um hospital da zona sul do Rio, devido a um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico.

Ele morreu na noite de terça de falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca em sua casa em Ipanema, na zona sul do Rio.

Millôr deixou dois filhos, Ivan e Paula.


Nascido no bairro do Méier, Zona Norte da cidade, o escritor gostava de contar que o sonho de sua mãe, de ter um filho chamado Milton, foi transformado por um erro do tabelião, no cartório, quando o pai foi registrá-lo.

Em vez de Milton Viola Fernandes, ele foi registrado como Millôr.

Milton Viola Fernandes nasceu no dia 16 de agosto de 1923 e foi registrado apenas em 24 de maio de 1924 como Millôr por conta de uma caligrafia incerta do tabelião.

Começou a carreira muito cedo, quando foi trabalhar como contínuo na revista O Cruzeiro aos 14 anos, em 1938.

No mesmo ano, ganhou um concurso de contos da revista A Cigarra, onde foi trabalhar.

Nesse período, criou o pseudônimo Vão Gogo, que só abandonou em 1962.

Voltou a trabalhar na revista O Cruzeiro em 1941, onde criou a coluna Pif-Paf ao lado do cartunista Péricles.


Autodidata, fez sua primeira tradução em 1942, para o livro Dragon seed (A estirpe do dragão), da escritora americana Pearl S. Buck.

Foi considerado o principal tradutor de William Shakespeare.

Traduziu também obras de Anton Tchekov, Bernard Shaw, Dario Fo, Luigi Pirandello, Molière, Mario Vargas Llosa, Samuel Beckett, R. W. Fassbinder e Tennessee Williams.

Seu primeiro livro, Eva sem costela, foi lançado em 1946.

Ao longo de sua carreira, lançou mais de 40 obras literárias, entre peças, coletâneas de contos e textos curtos, reuniões de aforismos, livros de poesia e peças de teatro.

Entre suas principais obras estão as peças Liberdade, liberdade, escrita em parceria com Flávio Rangel, e Pigmaleoa, ambas de 1965, o livro Fábulas fabulosas, de 1964, e a grande coletânea Millôr definitivo - A bíblia do caos, de 1994.

Foi um dos principais membros da redação do jornal O Pasquim, em 1969, que ficou conhecido pela oposição ao regime militar.

Trabalhou também em alguns dos mais importantes jornais do país, como Folha de S. Paulo, Correio Braziliense, Jornal do Brasil e O Estado de S. Paulo.

Mantinha um site desde 2000, que reunia textos publicados ao longo de sua carreira e produções recentes.

Sua conta no Twitter tinha mais de 325 mil seguidores.

A Globo News está reapresentando o programa Almanaque, em que ele foi entrevistado pela jornalista Maria Beltrão.

Curtam, que é simplesmente imperdível.

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