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sexta-feira, março 16, 2012

De São Francisco para o mundo ver!


No próximo dia 22 de maio (dia de Santa Rita de Cássia), o bairro da Cachoeirinha completa 120 anos.

Para comemorar a efeméride, pretendo lançar dois livros.


No primeiro, intitulado Almanaque do Biotônico, tento contar a história da minha família, dos amigos que encontrei na Cachoeirinha e, para não soar muito cabotino, de todos os bairros que congregam a zona centro-sul (de Educandos a Adrianópolis, da Raiz à Praça 14).

É uma viagem sem escala pela minha época de curumim, jogador de futebol, feirante, estudante universitário, poeta marginal, sindicalista, candidato a vereador, jornalista diletante, espada matador registrado em cartório, DJ ocasional e o diabo a quatro.


No segundo, intitulado Almanaque Capivarol, relembro histórias de pessoas que se destacaram nesses bairros, de Mestre Tó (criador do bumbá Corre Campo) a Áureo Petita, eleito o primeiro grande craque do Peladão.

A bússola, entretanto, aponta para três assuntos primordiais: manguaça, carnaval e futebol.

Nessas memórias, o abnegado professor Waldemar Bahia terá um papel de destaque.

Eu só o conheci pessoalmente há duas semanas, no Bar do Manuel, ali nas imediações da escola municipal Villas-Lobo, em São Francisco.

Fiquei emocionado e surpreso ao descobrir que ele é irmão do Waldemir Bahia (aka “Mimi”, meu amigo desde os tempos do grupo escolar Getúlio Vargas).


Jocivaldo Lima, o “Pica-pau”, titular do Acsol, da Espanha, e o técnico Waldemar Bahia, que revelou e exportou o craque

Para quem não sabe, o professor Waldemar Bahia foi o fundador e único diretor técnico do Atlético Bahia Clube (ABC), o único clube oriundo de um bairro humilde chamado São Francisco, que conseguiu ganhar oito vezes o campeonato amazonense de futsal e revelar vários craques, depois exportados para a Espanha.

Falarei deles em outra oportunidade.

Por enquanto, curtam essa pequena história.

Fevereiro de 1986. Nascido em Codó (MA), mas morando em Manaus, no bairro de São Francisco, desde os dois anos de idade, um raquítico moleque procura o técnico Waldemar Bahia e pede para participar da “peneira” da escolinha de futsal do ABC.

O técnico não coloca muita fé naquele moleque mirradinho e cabeçudo, que mal completara dez anos, mas, ainda assim, o coloca para jogar de pivô.

Em menos de cinco minutos, o moleque mirradinho e cabeçudo já havia feito três gols e mostrava um repertório de dribles de tirar o fôlego.

Foi aprovado na “peneira” e virou titular absoluto no time infantil do ABC.

O moleque raquítico se chamava Francinaldo Sena de Souza, mas Waldemar Bahia o apelidou de “França” e foi com esse nome que ele entrou para a história do futebol brasileiro.


Com uma paciência infinita, Waldemar Bahia ensinou o moleque a cabecear de olhos abertos, treinar chutes com os dois pés, controlar a bola sem olhar pro chão e nunca se descuidar do treinamento físico.

Jogando de pivô, França foi campeão e artilheiro do campeonato amazonense infantil e juvenil de futsal, sempre jogando pelo ABC.

Ainda adolescente, decidiu deixar o futsal e se dedicar ao futebol de campo, já que pretendia se profissionalizar como jogador de futebol.

Waldemar Bahia o aconselhou a procurar o Nacional, um dos poucos clubes locais a investir nas divisões de base.

Em 1993, aos 17 anos, França foi fazer um teste no juvenil do Nacional e foi reprovado.


O rabugento técnico Leo Graúna o colocou pra jogar apenas cinco minutos, na posição de meia-armador.

“Eu nem toquei na bola e ele me tirou logo de campo. Não deu pra entender nada!”, relembrou.

O jogador chegou a confidenciar para Waldemar Bahia que não acreditava que tinha sido dispensado no Nacional naquelas circunstâncias.

Por sugestão de Bahia, ele resolveu voltar ao Nacional para fazer um novo teste.

Deu muita sorte porque o rabugento Leo Graúna estava comandando o treinamento em companhia de um auxiliar, Paulo Cézar Nogueira, mas, de repente, Graúna teve que abandonar o treino para resolver um problema na sede do clube.

Graças ao auxiliar Paulo Cézar Nogueira, França entrou em campo na posição de centroavante.

“O nosso time ganhou de 6 a 1 e eu fiz todos os gols. Daí o auxiliar falou para o Graúna o que eu havia feito em campo e ele me deixou jogar no outro treino, onde eu fiz mais dois gols. Depois disso, não teve jeito: ele teve que se render ao meu bom futebol e me inscreveu para disputar o campeonato juvenil”, recorda França.


Em 1994, França foi campeão juvenil pelo Nacional disputando a final contra o Fast Clube, que tinha como destaque o badalado centroavante Garanha (ainda na ativa, ele fez os dois gols do Nacional contra o Princesa do Solimões na primeira partida decisiva do 1º turno do campeonato amazonense deste ano, ocorrida no sábado passado, em Manacapuru).

O Nacional ganhou de 2 a 0, com dois gols de França.

Aliás, naquele ano, ele foi o artilheiro absoluto do time e da competição: fez 28 gols dos 31 marcados pelo Nacional em todo o campeonato.

Foi logo convocado para participar do time profissional do Leão Azul.

O cabuloso centroavante não chegou a ser titular do Nacional: no começo de 1995, ele foi vendido para o XV de Jaú e, no final do ano, foi revendido ao São Paulo Futebol Clube.

Em 1996, mesmo na reserva de Muller durante o campeonato paulista daquele ano, França, que sempre entrava quase no fim do segundo tempo, marcou oito gols, sendo que um deles foi um golaço de bicicleta contra o Rio Branco, em pleno estádio do Pacaembu.

O moleque de 20 anos acabou conquistando a torcida tricolor.


Em 323 partidas pelo São Paulo, França fez 182 gols, marca que o registra como o 4º maior artilheiro da história do clube e a 11ª melhor média de gols do clube (0,56 gol por jogo).

Ele está atrás apenas de Serginho Chulapa (242), Gino (232) e Teixeirinha (184), mas à frente de Mueller (158), Leônidas da Silva (140), Raí (128) e Pedro Rocha (121).

Entre outros títulos, França conquistou dois campeonatos paulistas, em 1998 e 2000 – sendo artilheiro em ambas as competições, com 12 e 18 gols, respectivamente – e um Torneio Rio-São Paulo, onde foi novamente o artilheiro, com seis gols.

Os seus muitos gols, sua explosão em campo (era um atacante raçudo, que não tinha medo de cara feia), sua habilidade com a bola nos pés e suas preciosas assistências lhe renderam algumas convocações para a seleção brasileira, entre os anos de 2000 e 2001.

Em um amistoso entre Brasil e Inglaterra, em maio de 2000, França fez o gol brasileiro no empate de 1 a 1, no histórico estádio de Wembley.


Em 2002, França continuou marcando muitos gols pelo São Paulo, sendo mais uma vez artilheiro do Torneio Rio-São Paulo com 19 gols (o São Paulo ficou com o vice-campeonato).

No entanto, em uma partida contra o Corinthians pelas semifinais da Copa do Brasil, França sofreu uma grave lesão, que fez com que ele acabasse não sendo convocado para a Copa do Mundo de 2002, no Japão.

Depois de um tratamento intensivo, França assinou contrato com o Bayer Leverkusen, da Alemanha.

O valor da sua transferência para o clube alemão foi de 12 milhões de dólares.

Infelizmente, no Bayer Leverkusen, França não repetiu as atuações que fazia pelo São Paulo, chegando a amargar o banco de reservas durante várias partidas.

Ele fez 71 jogos e apenas 21 gols no total, uma média baixíssima para um centroavante respeitado no mundo inteiro.

Apesar de tudo, França foi considerado um dos melhores assistentes da Bundesliga pela imprensa alemã.


Em maio de 2005, França realizou sua última partida pelo clube alemão.

Em agosto daquele ano, ele não renovou o contrato com o Bayer Leverkunsen e foi jogar no Kashiwa Reysol, do Japão.

Sua chegada, entretanto, não ajudou a equipe a escapar do rebaixamento para a segunda divisão japonesa.

No ano seguinte, França permaneceu no Kashiwa Reysol e, por meio de seus gols (foi o artilheiro do campeonato da segunda divisão, com 32 gols), ajudou sua equipe a voltar à elite de futebol japonesa.

Após cinco anos no Japão, ele rescindiu contrato com o clube em julho de 2010 e retornou para o Brasil.

Atualmente, França mora em São Paulo.

É provável que ele venha a Manaus, em junho, para a festa de 36 anos do ABC.

Noblesse oblige.

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