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segunda-feira, junho 11, 2012

Morte de Ivan Lessa é lamentada no Brasil



Uma das principais formações do Pasquim com Millôr Fernandes em pé, no centro, e Jaguar, Ziraldo, Ivan Lessa e Sérgio Augusto, sentados

Recluso devido à doença pulmonar, o escritor e jornalista Ivan Lessa se afastou de boa parte dos amigos no último ano. Sua morte foi recebida com tristeza no Brasil e lamentada pela presidente Dilma Rousseff.

“Éramos amigos desde 1980. Ele foi a pessoa mais importante da minha vida”, afirmou à BBC Brasil o jornalista Diogo Mainardi.

“No último ano ele se afastou, falei com ele pela última vez em 9 de maio, no aniversário dele. Eu mandei uma declaração de amor (em uma mensagem de e-mail) e ele respondeu de forma lacônica”, afirmou.

A última vez que os dois se encontraram pessoalmente foi em 2006, quando Lessa foi à casa de Mainardi na Itália.

“Passeamos muito e ele se queixava da perna, dizia que a doença o impedia de andar”.

Depois dessa visita, Lessa seguiu para o Brasil, para onde não voltava há 34 anos. Ele pretendia escrever uma reportagem para a revista Piauí.

Na ocasião encontrou os amigos jornalistas Mário Sérgio Conti – com quem Lessa escreveu o livro de correspondências "Eles foram para Petrópolis" – e Danuza Leão.

“Foi a última vez que eu vi o Ivan. Ele e o Mário Sérgio Conti apareceram de surpresa na minha casa”, disse Danuza à BBC Brasil.

Lessa monitorava o Brasil à distância, de seu auto-exílio em Londres, onde morava desde 1978.

Porém, segundo Mainardi não foi a distância que forjou sua visão crítica sobre o Brasil. “Ele foi embora porque já tinha essa visão de mundo”, disse.

De acordo com Mainardi, Lessa usava em suas crônicas a figura de um Rio de Janeiro dos anos 1950 extremamente idealizado e a colocava em conflito com o Brasil atual.

“Ele ficou com um Rio idílico na cabeça, que servia na literatura dele para se contrapor ao Brasil real”.

O jornalista afirmou que ainda se lembra de quando conheceu Lessa em 1980, em Londres.

Mainardi conseguiu o endereço de Lessa por meio de uma empregada doméstica brasileira e foi bater em sua porta.

“Ele me recebeu primeiro aos chutes e pontapés. Mas insisti e acabamos nos tornando amigos. Mas não era uma relação igual, eu tinha muito mais admiração por ele do que ele tinha por mim. Depois nós envelhecemos”, disse.

Já Danuza lembra do Lessa que frequentava sua casa, e de seu então marido Samuel Wainer, nos anos de 1950, para jogar pôquer com Paulo Francis e Millôr Fernandes.

“Ele era um jogador excelente e imprevisível. Blefava mas também ficava aflito e ansioso”, disse ela.

A morte de Lessa foi lamentada no país pela presidente Dilma Rousseff – para quem o Brasil perde “um de seus cronistas mais talentosos”.

Em telegrama divulgado pela Presidência, Lessa é descrito por Dilma como “irônico, mordaz, provocador, iconoclasta e surpreendentemente lírico – acima de tudo brilhante com as palavras”.

A morte dele foi divulgada nos principais veículos de imprensa brasileiros.

O jornalista da TV Globo Geneton Moraes Neto escreveu em seu blog Dossiê Geral que “o Brasil deu um novo passo em direção à mediocrização ampla, geral e irrestrita: o coração de Ivan Lessa parou de bater”.

Para Mainardi, Lessa pode ser descrito com todos os sinônimos das palavras inteligência, graça, deboche e cultura.

“Para conhecer o Ivan basta reler o que ele fez. Vale a pena procurar e reler”, disse.

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