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quarta-feira, junho 19, 2013

Ficção científica com pregação religiosa


Por que o blockbuster estrelado pelo membro da seita americana é um dos grandes fracassos do ano?

Harold Von Kursk

O mau cheiro do novo filme de Will Smith, Depois da Terra, permanece com você muito tempo de sua saída do cinema. Embora o filme em si seja uma ficção científica de terceira linha, há um subtexto sinistro na narrativa que é tão repelente quanto o sorriso manipulador de sua estrela.

Depois da Terra é um veículo de propaganda da chamada Igreja da Cientologia, a seita com sede na Califórnia de que Smith é um adepto de longa data.

Smith escolheu este filme como o seu projeto de culto à sua personalidade, explorando seu filho com o intuito de traficar as ideias da Cientologia para um público de massa.

Smith esperava que Depois da Terra o ajudasse a ressuscitar sua imagem, bem como servir de ponta de lança para seu filho Jaden, que é o ator principal de fato.

Em vez disso, o blockbuster de US$ 130 milhões terminou decepcionando na bilheteria na América do Norte.

No resto do mundo, a Sony calcula que a tendência não será diferente.

É uma espécie de versão de O Triunfo da Vontade, o documentário de Leni Riefensthal sobre o congresso do partido nazista em Nuremberg em 1935, só que piorado.

Depois da Terra funciona como um panfleto da Cientologia – mas, em vez de ser entregue em uma esquina por um de seus seguidores zumbis, é comercializado por um grande estúdio.

Do início ao fim, a trama se desenrola como uma sucessão dos mandamentos da paranoia inventada pelo criador da coisa, L. Ron Hubbard.

O público não familiarizado com a Cientologia não tem como saber que o roteiro foi baseado em seus preceitos chaves, numa tentativa planejada e consistente de pregar ao invés de entreter.

O clímax, por exemplo, se dá em um vulcão – uma imagem que está na capa de Dianética, o livro fundador do movimento. (De acordo com a Cientologia, a Terra foi destruída por aliens que recolhiam as almas humanas e as despejava em vulcões, que depois eram bombardeados por ogivas atômicas).

Embora negue qualquer relação oficial com a igreja, Smith notoriamente doou US$ 122 500 à Cientologia e estabeleceu, junto com sua esposa Jada Pinkett Smith, a New Leadership Academy Village, na Califórnia, uma escola particular “fundada sobre os ensinamentos de L. Ron Hubbard.”

Um de seus melhores amigos é Tom Cruise, o membro mais visível e supostamente de alto escalão do culto ao lado de seu líder, David Miscavige.

Manohla Dargis, escrevendo no New York Times, observa que o objetivo primordial do longa é transmitir a noção de pânico da Cientologia.

“Há cinco maneiras pelas quais um ser humano reage diante do perigo”, escreveu Hubbard em Dianética. “Estes são os cinco cursos que ele pode assumir diante disso: atacar, fugir, evitar, negligenciar ou sucumbir”.

No filme, o comandante de uma nave espacial, Will Smith, conta com a ajuda de seu filho (Jaden) para sobreviver a uma perigosa jornada, cheia de papos prepotentes sobre como suprimir os temores, enquanto combatem os ETs do mal.

Alienígenas homicidas são capazes de detectar a presença de homens medrosos e, portanto, Smith ensina ao garoto sua habilidade de dominar o próprio terror.

De acordo com L. Ron Hubbard e sua picaretagem, os seres humanos sofrem com os pensamentos negativos – essencialmente o medo e a dúvida –, produto de um trauma no inconsciente coletivo derivado de eventos que aconteceram há milhões de anos.

Está tudo na montanha de auto-ajuda barata de Hubbard, que também lida com a ideia de seres humanos inferiores e superiores, com poderes conferidos por Deus, e que são classificados em níveis (Tom Cruise e John Travolta são declaradamente Nível 7).

Adeptos da Cientologia pagam grandes somas de dinheiro para participar de sessões em que um aparelho primitivo conhecido como “E-meter” mede os impulsos elétricos no corpo, enquanto perguntas vão sendo feitas.

Não é exatamente como um afogamento simulado numa sessão de tortura da CIA, mas muitos comparam essas atividades a uma lavagem cerebral.

Mas tudo poderia ser eventualmente desculpado se Depois da Terra não fosse tão lento, tedioso e burro.


E o pior é que a seita não tem nem seguidores em número suficiente para tirar o filme do inferno em que um fanático a enfiou.

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