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quarta-feira, fevereiro 26, 2014

Caso Riocentro, 33 anos depois


Félix Maier

Durante o programa do “Fantástico” da TV Globo, levado ao ar no dia 1º de maio de 2005, houve uma entrevista com o coronel Luís Antônio Ribeiro Prado, encarregado do Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as explosões no Riocentro ocorridas na noite de 30 de abril para 1º de maio de 1981.

Visivelmente emocionado, o coronel Prado disse ao jornalista que inicialmente julgou que se tratava de um atentado promovido por algum grupo terrorista de esquerda contra os militares de Inteligência que ficaram de campana próximo ao show em comemoração ao Dia do Trabalho.

Porém, à medida que os laudos apresentados foram elucidando o ocorrido, o coronel Prado não teve dúvidas de que a explosão dentro do Puma ocorreu devido à falha de manuseio da bomba que se encontrava no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário, que estava no mesmo veículo dirigido pelo capitão Wilson Luís Chaves Machado.

Pressionado pelas autoridades, que queriam incriminar as esquerdas com um IPM falso, o coronel Prado não se vergou às ameaças feitas contra ele e foi afastado do IPM por “motivos de saúde”. Não foi promovido a general, mas merece todo o reconhecimento dos brasileiros, por não ter traído os princípios que norteiam a ética militar.

O “atentado” do Riocentro


O coronel Job tentando explicar o inexplicável...

A imprensa trata do episódio do Riocentro como um “atentado terrorista”. Na verdade, foi um “acidente de serviço”, pois a bomba explodiu no colo do sargento Rosário, provavelmente enquanto manuseava o artefato. É mais correto tratar o assunto como “Caso Riocentro”, porque não houve um atentado que provocasse a morte de inocentes.

Na época eu servia como sargento fotocinegrafista do Exército, no Campo de Provas da Marambaia, no Rio de Janeiro. Eu tinha por costume ler o Jornal do Brasil (JB), e não O Globo, o qual eu julgo ser um jornal chapa-branca até hoje, por bajular vergonhosamente o governo de plantão, como se pode comprovar no recente episódio em que o jornal renegou um editorial escrito em 1984 por seu patriarca.

O JB era um jornal de oposição, que foi sendo destroçado a partir do governo Sarney, com cortes de verba publicitária, por fazer crítica sistemática contra o governo, e hoje é apenas um jornal virtual. O epíteto mais suave que o JB associava ao nome do presidente bigodudo era “sátrapa”.

Pois o JB, desde o início, estampou fotos e fez cobertura imparcial do caso Riocentro, não deixando dúvida de que se tratou de uma “barbeiragem” do sargento Rosário. Segundo disse um subtenente meu amigo, um oficial do Exército, engenheiro militar, participou de exames químicos do artefato, confirmando as reportagens do JB, que incriminavam os militares.

O Movimento Cívico-Militar de 31 de março de 1964, que as esquerdas chamam de “golpe”, foi na realidade um contragolpe contra os comunistas que pretendiam tomar o poder. Nesse sentido, foi um movimento legítimo, implorado e exigido pela população brasileira, como o visto na “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, organizada por mulheres em São Paulo, no dia 19 de março de 1964, que levou às ruas um contingente de 500 mil pessoas, para que os militares dessem um basta à desordem pública promovida pelo presidente João Goulart e pelo incendiário Leonel Brizola. No dia 2 de abril, mais de 1 milhão de cariocas foram às ruas agradecer a intervenção das Forças Armadas, ostentando bandeiras e cartazes condenando o comunismo.

Neste ano de 2014, annus petraliorum 12 (ano 12 [do governo] dos petralhas), em que se lembra o cinquentenário do Movimento Cívico-Militar, é natural que as esquerdas requentem matérias antigas em seu microondas do ressentimento e do revanchismo, como é o Caso Riocentro, pedindo a punição dos envolvidos. É natural, também, que neste ano a funesta Comissão da Verdade promova ataques cada vez mais ferozes contra os militares.

Afinal, em novembro de 1963, Castello Branco já afirmava”: “A democracia falta ao seu dever e o comunismo está no seu papel”. Assim, não causa nenhuma surpresa que os “comissários do povo bolcheniquim” em particular e os esquerdistas em geral estejam no seu papel de demonizar os militares e beatificar terroristas, a exemplo do caso do colégio baiano, que teve mudado seu nome, de Presidente Médici para o do terrorista sanguinário Carlos Marighella.

No início dos anos de 1980, militares considerados de “linha dura” não queriam a abertura política total, porque conheciam muito bem com que pessoas estavam tratando. Por isso, tentaram desestabilizar o governo João Figueiredo, promovendo mais de 40 atentados. Eles estavam certos em prever as pretensões futuras de seus inimigos, que ainda hoje querem comunizar o Brasil, utilizando a democracia para acabar com ela, porém estavam errados no modus operandi, de promover explosões. Faltou capacidade intelectual e de comunicação social dos militares nessa transição política, de entrega do poder a um civil, de modo a evitar no futuro uma nova ameaça comunista.

A prova cabal daquilo que os militares temiam é a condução política do atual governo petista, já fascista-gramscista na prática, que tenta implantar um sistema totalitário nos moldes de Cuba, dentro dos princípios estratégicos do Foro de São Paulo, para se eternizar no poder.

A antiga terrorista Dilma Rousseff, hoje mais comunista do que nunca, só estampa alegria na cara, com um largo sorriso, quando vai prestar contas políticas e contábeis a seus chefes na Ilha, os abutres Fidel e Raúl Castro. A capital política do Brasil, hoje, é Havana, com sucursais em Brasília, Caracas e Buenos Aires.

Mas vamos aos fatos do Caso Riocentro:


“Na noite de 30 de abril de 1981, durante um show de música popular para 20 mil jovens, uma bomba explode dentro de um automóvel que manobrava no estacionamento do Riocentro, na Barra da Tijuca. Morto no seu interior o Sargento Guilherme Pereira do Rosário; gravemente ferido abandona o veículo semidestruído o Capitão Wilson Luís Chaves Machado, ambos do Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército sediado no Rio de Janeiro.

Minutos depois outra bomba, mais poderosa, é lançada e explode próximo à casa de força do Riocentro. Como não atinge o seu alvo, não provoca a escuridão geral que certamente ocasionaria o pânico no recinto fechado do show, com consequências fáceis de se imaginar” (major do Exército Dickson Melges Grael, in Aventura, Corrupção e Terrorismo – à sombra da impunidade, pg. 81 e 82).

Vinte e cinco minutos depois da explosão, o capitão Machado foi levado ao hospital pela neta do senador Tancredo Neves, Andréa Neves da Cunha, que chegava ao show com o noivo Sérgio Valle. O capitão é levado ao Hospital Lourenço Jorge, depois ao Hospital Miguel Couto. O perito Humberto Guimarães (“Cauby”) disse aos repórteres que foram recolhidas outras 2 bombas no interior do Puma (placa OT-0279), uma delas destruída pela polícia.

Já no dia 1º de maio, por volta de 1 hora da madrugada, um homem dizendo pertencer ao “Comando Delta” telefona para vários jornais, assumindo a autoria das explosões no Riocentro.

Às 2 horas da madrugada, o corpo do sargento Rosário é levado para o IML e em seu corpo são encontradas peças de um mecanismo de relógio. Fotos mostrando o estado do Puma e o arrancamento das vísceras do sargento comprovam que o mesmo manuseava uma bomba por ocasião da explosão, provavelmente em cima da perna direita.

Pela manhã, o general Waldyr Muniz, Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, em entrevista, afirma que os 2 militares foram vítimas de atentado e que os “terroristas fugiram em três carros”.

À tarde, o general Gentil Marcondes Filho, Comandante do então I Exército (hoje Comando Militar do Leste), e o coronel Job Lorena de Sant’Anna comparecem ao enterro do sargento Rosário – com honras de herói – e ajudam a carregar o ataúde.

O general Gentil nomeia o coronel Luís Antônio Ribeiro Prado presidente do IPM, para apurar as explosões no Riocentro. Cinco dias antes do prazo para conclusão do IPM, o coronel Prado renuncia por “motivos de saúde” e é substituído pelo coronel Job.

No dia 30 de junho, o coronel Job apresenta o resultado de suas investigações à imprensa, afirmando que os militares “foram vítimas de um atentado e a bomba havia sido feita com um quinto de uma lata de 2,5 litros de óleo Havoline e colocada entre a porta e o banco direito do Puma”.

“O problema do DOI-CODI, da sua sobrevivência, da sua missão especial, das suas prerrogativas – ele mantém prerrogativas que foram negadas ao Congresso Nacional – e que é crucial dentro do processo de democratização a que se devota o Presidente da República. Organismos de emergência, criados para articular as diversas forças empenhadas na repressão à subversão esquerdista e unificar o seu comando, eles sobreviveram à subversão a ponto de abrigar em seus quadros agentes de uma nova subversão, a que pretende impugnar a democratização do país e criar problemas ao Presidente da República e à nação”

(Jornalista Carlos Castello Branco, em sua coluna no Jornal do Brasil – 06/06/1981).

No dia 30 de abril de 2001, 20 anos após o “acidente de trabalho”, o crime prescreveu e nenhum dos envolvidos poderá ser processado, ainda que algum juiz aceite denúncia do “Petistério Público” contra os militares.

O jornal Folha de S. Paulo, em 16/04/2001, fez uma reportagem sobre o assunto, apresentando o desdobramento do caso:

Entenda o caso Riocentro

30 de abril de 1981 - Duas bombas explodem no Riocentro, centro de eventos no Rio, durante show comemorativo do Dia do Trabalho. Uma das bombas explode dentro de um Puma no estacionamento do Riocentro. O sargento Guilherme Pereira do Rosário morre. O capitão Wilson Luiz Chaves Machado tem o abdome dilacerado

Jun/81 - Relatório sobre o atentado inocenta o sargento e o capitão. O inquérito sobre o caso é arquivado

Nov/96 - João Baptista Figueiredo, presidente na época das explosões, admite que houve participação de militares no atentado

Jun/99 - A procuradora da República Gilda Berger afirma, em parecer, que o caso não está prescrito, e o Ministério Público Militar estuda a reabertura do inquérito

Jul/99 - O Exército abre novo IPM (Inquérito Policial Militar) para apurar a responsabilidade pelas explosões

Out/99 - O IPM indicia quatro pessoas: o general reformado Newton Cruz, ex-chefe da Agência Central do SNI (Serviço Nacional de Informações), Wilson Machado, o sargento Guilherme Pereira do Rosário e o coronel Freddie Perdigão

Mar/2000 - Cruz é acusado de falso testemunho sobre o caso. O STM (Superior Tribunal Militar) aceita a denúncia e marca o depoimento de Cruz

Abril/2000 - O STF (Supremo Tribunal Federal) concede liminar suspendendo o depoimento e suspende a tramitação do processo

Maio/2000 - O Supremo decide manter arquivado o processo contra Cruz

Antecedentes

Antes do Caso Riocentro, nos anos de 1980 e 1981, durante 16 meses, houve cerca de 40 atentados contra bancas de jornais e órgãos que faziam oposição ao governo Figueiredo. Nenhum desses atentados foi elucidado. Abaixo, segue a cronologia desses fatos apresentada pelo major Dickson M. Grael em seu livro:

1980:

18/01 – desativada bomba no Hotel Everest, no Rio, onde estava hospedado Leonel Brizola.
27/01 – bomba explode na quadra da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, no Rio, durante comício do PMDB
26/04 – show 1º de maio – 1980 – bomba explode em uma loja do Rio que vendia ingressos para o show.
30/04 – em Brasília, Rio, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Belém e São Paulo, bancas de jornal começam a ser atacadas, numa ação que durou até setembro.
23/05 – bomba destrói a redação do jornal ‘Em Tempo’, em Belo Horizonte.
29/05 – bomba explode na sede da Convergência Socialista, no Rio.
30/05 – explodem duas bombas na sede do jornal ‘Hora do Povo’, no Rio.
27/06 – bomba danifica a sede da Casa do Jornalista, em Belo Horizonte.
11/08 – bomba é encontrada em Santa Teresa, no Rio, num local conhecido por Chororó. Em São Paulo, localizada uma bomba no Tuca, horas antes da realização de um ato público.
12/08 – bomba fere a estudante Rosane Mendes e mais dez estudantes na cantina do Colégio Social da Bahia, em Salvador.
27/08 – no Rio, explode bomba-carta enviada ao jornal ‘Tribuna Operária’. Outra bomba-carta é enviada à sede da OAB, no Rio, e na explosão morre a secretária da ordem, Lyda Monteiro. Ainda nesta data explode outra bomba-carta, desta vez no prédio da Câmara Municipal do Rio.
04/09 – desarmada bomba no Largo da Lapa, no Rio.
08/09 – explode bomba-relógio na garagem do prédio do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, em Viamão (RS).
12/09 – duas bombas em São Paulo: uma fere duas pessoas em um bar em Pinheiros e a outra danifica automóveis no pátio da 2ª Cia. De Policiamento de Trânsito no Tucuruvi.
14/09 – bomba explode no prédio da Receita Federal em Niterói.
14/11 – três bombas explodem em dois supermercados do Rio.
18/11 – bomba explode e danifica a Livraria Jinkings em Belém.
08/12 – o carro do filho do deputado Jinkings é destruído por uma bomba incendiária em Belém.

1981:

05/01 – outro atentado a bomba em supermercado do Rio.
07/01 – na Cidade Universitária, no Rio, uma bomba explode em ônibus a serviço da Petrobrás.
16/01 – bomba danifica relógio público instalado no Humaitá, no Rio.
02/02 – é encontrada, antes de explodir, bomba colocada no aeroporto de Brasília.
26/03 – atentado às oficinas do jornal ‘Tribuna da Imprensa’, no Rio.
31/03 – bomba explode no posto do INPS, em Niterói.
02/04 – atentado a bomba na residência do deputado Marcelo Cerqueira, no Rio.
03/04 – parcialmente destruída, com a explosão de uma bomba, a Gráfica Americana, no Rio.
28/04 – o grupo Falange Pátria Nova destrói, com bombas, bancas de jornais de Belém. (Dickson M. Grael, op. cit., pg. 79 a 81)

O General Golbery do Couto e Silva, o “bruxinho que era bom”, devido às resistências dentro do próprio SNI para punir os responsáveis pelo Caso Riocentro, afirmou que havia criado um “monstro” e entregou o cargo de chefe do Gabinete Civil. Golbery havia criado o SNI em 1964 e foi o seu primeiro Chefe (1964-67). Não há como negar que o governo Figueiredo acabou prematuramente, junto com o Caso Riocentro.

Em tempo: o coronel Prado não foi promovido a general, mas o coronel Job Sant’Anna, sim.

Nota:

GRAEL, Dickson Melges. Aventura, Corrupção e Terrorismo - à sombra da impunidade (2ª. edição). Editora Vozes, Petrópolis, 1985.

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