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quarta-feira, abril 30, 2014

Uma imprensa para chamar de minha


Mauro Pereira

Eu tenho sido um crítico severo do PT provavelmente desde a fundação do partido, não só por sua capacidade de conviver pacificamente durante décadas a fio com a mentira, com a arrogância, com o cinismo e mais recentemente com a corrupção, mas, sobretudo, por sua concepção vesga de democracia. Porém, há que se fazer justiça, a agremiação estrelada não é um deserto de virtuosos. Olhados sem as lentes do preconceito, é possível perceber que os petistas têm uma virtude: eles são praticantes da praticidade! Pelo menos é o que indica a solução prática a que sempre recorrem quando um dos seus está envolvido em algum escândalo. Fiéis ao virtuosismo solitário, juram que é muito mais prático silenciar a imprensa do que se livrar dos seus corruptos.

Nesse atribulado universo convivem numa paz infernal petistas, peemedebistas e outros lulistas menos importantes, mas, nem por isso, menos predadores. Embora seja quase impossível destacar quem é o melhor pior entre tantos políticos e servidores públicos abaixo de qualquer suspeita, duas personalidades chamam minha atenção. O ex-ministro de comunicações do governo Lula, Franklin Martins, e o deputado federal eleito pelo PT do Ceará, José Guimarães. Não que eles sejam os melhores piores, até porque, querer determinar quem é o mais imoral nesse reduto onde valores e preço quase sempre têm o mesmo significado seria uma temeridade e, certamente, eu premiaria a injustiça.

Na verdade, o que os destaca de seus companheiros de partido e de seita é a defesa intransigente da mesma causa: A imposição da censura à imprensa, obscenidade edulcorada pelo pomposo codinome Regulação Social da Mídia. Um é o criador da excrescência, enquanto o outro é o seu defensor e propagador mais entusiasmado.

Apontado como mentor e executor de um dos planos mais sórdidos para amordaçar a imprensa brasileira e de lambujem garantir um espaço mais amplo para difundir a campanha exigindo que Lula seja laureado com o Prêmio Nobel da paz e reconhecido internacionalmente como o maior estadista que a humanidade pariu, definitivamente, a intimidade de Franklin Martins com o núcleo gerador das vontades do governo federal não só o desabilita como regulador do que quer que seja, como, também, avisa que não é ele o democrata mais apropriado para emitir conceito ou opinião sobre o tema imprensa livre. Sua corrompida visão de liberdade padece de confiabilidade e se exauri ante ao quanto o estado estaria disposto a avançar sobre as liberdades individuais para amoldá-la às suas necessidades.

O livre exercício da informação, e como decorrência também o da opinião, é uma das faces mais civilizadas da democracia, portanto, não pode, e nem deve, ser regulado. Nesse aspecto a sociedade deve ser intransigente. Abre-se uma concessão aqui outra acolá e, quando menos se percebe, o nó da mordaça está consumado!

Por mais bobagem que a imprensa livre faça, ainda assim, ela sempre será muito menos imoral do que a pretendida pelo ex-ministro. Idealizada pelas mentes mais brilhantes a serviço da causa petista e concebida nas profundezas das vicissitudes governamentais, a essência da “progressista” regulação se desmoraliza na sua origem. Dificilmente a imprensa sonhada por Franklin Martins escaparia de ser reduzida a um fuleiro balcão de negócios formatado para intermediar os interesses do Executivo Federal e as necessidades dos departamentos financeiros de órgão informativos. A lisura da notícia seria mero detalhe. Ademais, cabe à justiça penalizar os maus profissionais, não ao governo. A este, cabe vigiar para que seus gestores inescrupulosos não tenham acesso às chaves do cofre.

Um jornalista capaz de afirmar que “a liberdade de imprensa só garante uma coisa: que a imprensa é livre. Que a imprensa é boa, não garante. A imprensa livre faz muita besteira, faz bobagem, desinforma”, convenhamos, não repousa seus princípios libertários na naturalidade que o convívio com o contraditório exige e tampouco formou-se para ilustrar a profissão. Quando muito, nasceu talhado para fabricar mitos de araque e vagar pelas redações dos Grammas da vida. Nada além isso.

Menos ilustre na hierarquia petista, porém, não menos perigoso, José Guimarães não dispõe de probidade suficiente para ser o avalista e o garantidor de que essa abjeção jamais se ocupará de pautar os conteúdos originados na área da informação e produzidos no campo do pensamento. O episódio envolvendo seu assessor flagrado com a cueca abarrotada de dinheiro não o recomenda. Aliás, vivêssemos em um país medianamente sério esse senhor estaria em qualquer outro lugar do planeta, menos perambulando pela Câmara dos Deputados.

Lulista empedernido, avisa à nação que, quer ela queira, ou não, “após a reeleição de Dilma” o PT irá implantar o famigerado controle social da mídia. Pouco chegado a ruborizar-se, não procura esconder que, além de impedir que as malandragens de seus companheiros robusteçam as páginas político-policiais, o motivo mais relevante de sua cruzada é blindar o chefe da seita que professa. “A mídia e a elite querem criminalizar Lula e isso o PT não irá permitir”, ameaça, deixando claro que o deus de marta está acima de irrelevâncias como legislação eleitoral e Código Penal e que a sociedade brasileira deve vassalagem inquestionável ao seu mentor. Os rigores da lei é dedicado somente à oposição invejosa, à elite golpista e, principalmente, à direita entreguista e lacaia do império ianque.

Entusiasmado, propaga aos quatro ventos que “Lula é patrimônio da democracia brasileira e merece respeito!”. Aí depende do ponto de vista de cada um. Eu, por exemplo, acredito que Lula é, no máximo, patrimônio do desvario petista, portanto, eles (os petistas) que lhes dê a dose de respeito que acharem adequada. A democracia não pode ser usada como cúmplice da inconsequência política e ideológica.

A despeito da arenga ordinariamente vassala do deputado cearense, eu creio que não estaria sendo injusto nem mentiroso se considerasse que uma significativa parcela de nossa sociedade acredita piamente que pelo menos parte do patrimônio de Lula é que seria patrimônio do povo brasileiro.

Transpirando o cinismo que hidrata seu organismo alulado, debocha de nossa inteligência e convida: “Vamos debater, sem medo, o controle social da mídia”. Debater com quem?, com democratas da estatura de Franklin Martins, de Marilena Chauí, de Emir Sadler, de José Sarney, de Fernando Collor de Melo, de Paulo Maluf? Debater aonde? No Congresso Nacional, antro dominado por deputados e senadores que depositam no silêncio da imprensa a certeza da impunidade? Ou nas universidades, sabidamente devastadas pela ideologização do ensino e reduzida a um vagabundo centro de doutrinação dos estudantes? O debate proposto é tão desatinado, que nem mesmo o pátio da penitenciária da Papuda deve ser descartado.

Alunos aplicados, os petistas e seus companheiros de falcatruas aprenderam na escola da calhordice como esconder por detrás da valentia que nunca tiveram a paúra que sempre os acompanhou. Dissimulados, alardeiam que topam debater qualquer tema, desde que sejam eles os vencedores do debate. Na deformidade conceitual que baliza a moral do lulismo, o mais bem intencionado dos fiéis tem certeza de que a melhor definição de imprensa livre é se ver livre da imprensa.

A volúpia que Franklin Martins, estrela de altíssimo brilho do pensamento governista, e que José Guimarães, lídimo representante da pior safra de deputados e senadores que já passaram pelo Congresso Nacional, dedicam à tresloucada jornada ao centro da censura escancara a pouca fé depositada na divindade de Lula para ao menos amenizar as agruras que diariamente atormentam o planeta PT.

Devota, mas não idiota, a horda petista despe-se de qualquer vestígio de constrangimento e deixa transparecer a realidade que sempre procurou escamotear: ter uma imprensa só para ela é mais do que um sonho de consumo. É uma necessidade premente e vital. Para alguns, é a certeza da tomada definitiva do estado. Para a imensa maioria, é a garantia de liberdade incondicional.

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