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quinta-feira, junho 26, 2014

Olhos de mercador


Tenho muito medo de capiau. Aquele olho manso, a voz mole, o jeito bobo, discreto, modesto, humilde, caladão, para mim esconde a maior velhacaria, a maior dissimulação, do contrário não sobreviveriam neste mundo de espertos.

O arquiteto Renato Carneiro da Cunha, na Feira de Caruaru, se interessou por uns potes de barro expostos numa barraca.

Pegou um, examinou bem e esperou o mercador dos barros terminar de atender a uma freguesa.

Enquanto aguardava, reparou que, dentro de um dos potes iguais ao que ele queria, tinham esquecido uma outra peça menor.

Renato divisou o lucro fácil e tapou a boca do que estava premiado. Quando foi atendido, perguntou:

– Quanto custa essa peça aqui, companheiro? – e bateu com a mão espalmada no pote.

O feirante apontou para uma peça gêmea, exatamente igual, e respondeu:

– Esta aqui custa mil. Essa aí, que está com o senhor, a amojadinha, custa três mil.

Amojadinha significa prenha.

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