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sexta-feira, agosto 22, 2014

Não é milagre. É ciência


Melo pode levar o jogo pra prorrogação. Ou, no mínimo, recuperar as melenas perdidas

Carlos Pastoriza

Propércia! Essa a palavra mágica! Os marqueteiros baianos do governador Zé Melo deveriam, antes de iniciar qualquer trabalho, reunir-se e pronunciar três vezes: Propércia! Propércia! Propércia! Mas pronunciar com fervor. Com fé autêntica e determinada. Como a desses pastores que evangelizam as massas pela TV e com um copo d’água espantam o diabo do couro. A esta altura do campeonato, com apenas 40 dias para o primeiro turno, só um milagre poderia fazer os índices de Melo levar a disputa para o segundo turno. Pois eu acrescentaria: um milagre sim, mas milagre científico.

Assisti apenas ao primeiro capítulo da insossa maratona que transcorrerá durante o chamado horário gratuito da televisão. Aliás, no Sul, ele se chama assim. Aqui no Norte ele é conhecido como “guia eleitoral”. Por razões óbvias, suponho. É que aqui na Terra de Ajuricaba o voto dito popular sempre foi mais dirigido pelas mãos das elites. Quem dirige, guia. Daí a expressão “guia eleitoral”. Mas isso são tergiversações. O que eu queria dizer é que, assistida à estreia do “horário” (ou do “guia”), senti que os “zemelistas” ainda vão lutar muito, pelo menos até o dia 5 de outubro, para virar o jogo ou forçar uma prorrogação. E com essa produtora Ginga, periga o governador levar um couro de criar bicho...

Mas voltemos à Propércia e seus poderes mágicos. Em primeiro lugar esclareço ao prezado leitor que se trata de um remédio para a calvície. O que no caso de Melo (e do autor dessas linhas), tem tudo a ver. É mais um remédio contra o fim das aflições das pessoas que, diante do espelho, vão contando os números fúnebres: um... dois... três, ao todo 28 cadaverezinhos entre os que ficaram agarrados ao pente ou que se precipitaram em direção ao ralo da pia.

O médico Richard Selzer, escrevendo sobre essa dramática situação, comparou-a a dos soldadinhos de Napoleão, caindo, um a um, sobre as estepes geladas da Rússia.

Há 30 anos, num artigo que entraria para a história, produzido para a revista Esquire, Selze bradava: “Oh! escalpo, escalpo, não vais sangrar nem gritar? Vê, és ceifado pela raiz e não emites um som. Apenas um silêncio tenebroso da nuca à sobrancelha”.

Bebi com atenção cada palavra do texto de Selzer e enviei uma xerox para o Zé Melo. Fomos vizinhos, certa época, no Palácio do Governo. Ele, o já influente secretário de Educação. Eu, um discreto assessor de imprensa do governador Amazonino Negão.

Infelizmente, quando descobri sobre a Propércia já estávamos separados pelas encruzilhadas da vida. Depois, no nosso caso, conhecer mais um remédio para a calvície já de nada adiantaria. Não haveria vestígios dos soldadinhos de Napoleão sobre as nossas estepes.

Além disso, o que saiu publicado na imprensa brasileira sobre a Propércia foram rápidos registros. Uma página de Veja e um comentário, que considerei insultuoso, num texto do suplemento Mais, da Folha: “No futuro, só vai ser careca quem quiser, como os múltiplos imitadores do jogador de futebol Ronaldinho”.

Quanto distanciamento do redator dessa frase da realidade trágica de uma calvície que se alastra! Imagine comparar os nossos padecimentos com pessoas que raspam o cocoruto por modismo.

Segundo a Veja, em testes feitos com a Propercia, um dos efeitos colaterais constatados (muito desagradável, diz a revista) foram relacionados com a diminuição da libido. Chegou-se em alguns casos à impotência temporária.

A própria bula da Propércia esclarece que em apenas 2% tais efeitos foram constatados. Hoje, com o Viagra, tudo tem conserto.

Claro que a simples presença de mais testosterona, um hormônio masculino, no organismo não garante uma cabeleira farta. Só a castração tem eficácia. Por isso, Aristóteles, que era careca, contemplava com tanta inveja as madeixas esvoaçantes dos eunucos atenienses.

A recente adoção da técnica de transplante de cabelo e do autotransplante de cabelo retirado das laterais da cabeça (um tufo reimplantado cresce na incrível velocidade de 4 décimos de milímetro por dia e seus fios são eternos, não caem nunca) mostram, na realidade, que a ciência sabe muito pouco sobre os fenômenos que pairam sobre nossa cabeça.

Imaginem vocês que existem ali, em baixo do couro cabeludo, os chamados folículos, e que seu comportamento define quem vai ser ou não careca. Mas seu funcionamento é um mistério. Os tais folículos nunca morrem. Apenas adormecem e isso, esse sono folicular, faz os cabelos caírem.

Em todo careca que se preza, como o governador Zé Melo, o que ocorre é uma desproporção entre os folículos acordados e os adormecidos. No caso de Melo, essa desproporção deve ser de 90% de folículos sonolentos, 10% de folículos lépidos, acordadinhos, com insônia.

Por favor, não pensem que estamos especulando, isso é CIÊNCIA!!!

Os mais recentes tratados sobre o assunto admitem, inclusive, a possibilidade de, sem motivo aparente, os folículos adormecidos despertarem de um sono prolongado. Assim, uma careca que durou décadas de repente se transforma num bosque frondoso. Insisto. Isso não é milagre, É CIÊNCIA!

Portanto, Egberto Batista, Nelsinho Biondi, Zé Lopes, Jefferson Coronel, Jorge Bastos e demais marqueteiros importados de Salvador (BA) tenham fé, corram atrás da Propércia, consigam o produto. Pelo menos pensem sempre nela com fé e devoção. Repitam em voz alta três vezes ao dia: Propércia... Propércia... Propércia!

Vocês podem não ganhar a eleição. Mas o Melo pode se transformar num cabeludo de dar inveja aos concorrentes.

E o que é melhor? Administrar essa crise permanente chamada Amazonas, ou recuperar as melenas perdidas, que, na sua idade, poderiam apresentar dissonantes e atraentes mechas cinza-azuladas ou simplesmente grisalhas.

Ele ficaria irresistível e, pessoalmente, eu fico com a segunda opção.

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