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terça-feira, outubro 14, 2014

O que elas falam no banheiro feminino?


Quando elas vão juntas ao banheiro retocar a maquiagem, sua reputação está em jogo

Ricardo Coiro

Quando certa manhã Ricardo Coiro acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em uma cama metamorfoseado num inseto monstruoso.

Estava deitado sobre asas moles como cetim e, ao levantar um pouco a cabeça, viu-se refletido na lateral de um relógio cromado, que marcava 16h20.

O que aconteceu comigo – pensou.

Não era um sonho. Seu quarto, um autêntico quarto humano, só que um pouco pequeno demais, permanecia calmo entre as quatro paredes bem conhecidas.

Tudo estava igual, menos o Coiro que, devido a uma macumba feita pela ex-namorada, havia se transformado em uma mosca.

Essas merdas só acontecem comigo – pensou, antes de voar até a cozinha, em busca de migalhas de pão, gotículas de Coca-Cola e alguma explicação para aquela mutação.

Ele encontrou apenas restos de pão. Nada mais.

E depois de tentar se matar, diversas vezes, colidindo contra o vidro que separa a lavanderia do resto do mundo, resolveu aproveitar a nova condição para algo útil.

Mas para quê? – perguntou-se, enquanto tirava finas do lustre e tentava, com pouco sucesso, dominar a arte de voar.

Até que teve uma brilhante ideia: resolveu que aproveitaria o corpo de mosca para entrar, sem ser notado, em um banheiro feminino.

Coisa que ele sempre quis fazer, e, por motivos óbvios, nunca pôde.

Então voou sobre a Paulista, desviou de um ônibus lotado, escapou de um safanão e rumou em direção à Augusta; pois sabia que lá – em um boteco sujo que ele costumava frequentar – correria menor risco de ser esmagado por um garçom preocupado em manter o ambiente agradável para dondocas nascidas em meio à frescura.

Ele pousou sobre uma das paredes do banheiro, ainda vazio.

Porém, as fêmeas não demoraram a chegar.

Estavam bêbadas, estridentes e verborrágicas.

Como foi, amiga? – perguntou a moça que, equilibrando-se sobre o vaso sanitário e fazendo a pose de “O Pensador”, urinava mais no chão do que no local certo.

Acredita que ele tem pau pequeno e torto para a direita?

O Rodrigão?

É. Foda, né? Pintinho de criança e de direita.

Foi aí que algo surpreendente aconteceu.

Uma moça que há poucos segundos havia entrado no banheiro, do nada e enquanto abria a bolsa em busca de maquiagem, invadiu o papo:

O Rodrigão tem piroquinha?

Você o conhece?

Eu trabalho com ele. E ele já até comentou de você por lá. Priscila, Certo?

Paula! Mas o que ele disse?

Falou que parou de sair com você porque você não depila a perereca.

Filho da puta! Mentiroso! Vejam só como eu depilo – disse, e, como se já fosse íntima das outras, mostrou a pepeca, que de tão brilhosa, mais parecia um capô de fusca recém-polido.

Lisinha da Silva. Fantástica até para uma mosca.

E aquilo desencadeou uma “Expo Xoxota” memorável.

Quando vi, as três estavam de bacurinha de fora.

Eu prefiro deixar bem curtinho, mas sem tirar tudo. Olha!

Legal. Acho que vou aderir no próximo inverno.

Foi aí que algo inesperado aconteceu: uma mulher, visivelmente embriagada, entrou no banheiro aos prantos e toda borrada.

Está tudo bem? Precisa de alguma ajuda? – as moças de vagina livre perguntaram, ao mesmo tempo.

O Rodrigão, o cara com que eu namoro desde o colégio, está saindo com outra! – desabafou, com voz de quem havia misturado tequila com Lexotan.

O Rodrigão que tem pau pequeno e envergado para a direita? – perguntou uma delas.

Isso mesmo! Como você sabe?

Ela me contou.

Ah é? E COMO VOCÊ SABE? HEIN? – berrou a bêbada, antes de grudar no cabelo da acusada, e de começar uma sessão de esganadura.

As duas rolaram no chão sujo. Estapearam-se. Ninguém conseguiu separar.

Até que, estranhamente, elas pararam com aquele barraco, respiraram fundo e disseram, simultaneamente:

Foda-se. Ele tem pinto pequeno e ainda goza rápido.

Não acredito! Com você ele faz isso também?

Sempre.

E todas gargalharam, feito bruxas, antes de começarem a compartilhar um batom vermelho, como quem compartilha um baseado.

Fizeram uma selfie no espelho – com direito a biquinho de pato – , e saíram.

A versão mosca do Coiro também não demorou muito a sair.

Voou direito a um restaurante árabe, e, enquanto ainda tentava entender a maluquice que tinha presenciado, pousou sobre o resto de uma kafta abandonada.

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