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segunda-feira, junho 15, 2015

A palavra ‘corrupção’ não aparece entre as mais de 9 mil desperdiçadas por Jô Soares e Dilma na conversa de comadre ufanista


Augusto Nunes

Pelos padrões da TV, 70 minutos são uma eternidade — e foi essa a duração da conversa entre Dilma Rousseff e Jô Soares. Sobrou tempo até para o diálogo de hospício reproduzido abaixo, transcrito da íntegra da entrevista publicada pelo Portal do Planalto:

Jô Soares: Presidente, a gente não falou ainda, mas é fundamental que a gente fale. Em 2012 você mudou o comando da Petrobras. É que você já pressentia que havia algo de podre no reino do petróleo?

Presidenta: Olha, ô Jô, quero te dizer o seguinte: eu não tinha…Não eram pessoas da minha confiança. Quando você sobe ao governo, você coloca as pessoas da sua confiança. Bom, a Petrobras não é um barquinho que você vira rapidamente, não é? Então, passou um ano e eu troquei a diretoria toda e coloquei uma diretoria da minha confiança, foi isso que eu fiz.

Jô Soares: Agora, o pré-sal, eu cheguei a lamber uma pedra do pré-sal…

Presidenta: Eu te mostrei ela.

Jô Soares: É, ficou de me mandar uma e não mandou.

Presidenta: Vou mandar, vou mandar. Prometi, agora eu vou mandar.

Jô Soares: Não, porque agora prometeu no ar. Tem cheiro de querosene, não é?

Presidenta: É.

Jô Soares: E eu lambi e senti que tinha gosto de sal, mas eu acho que foi a minha imaginação. A pedra está aí, não, não é? Deve estar no…

Presidenta: Não, a pedra está no Planalto.

Jô Soares: É uma pedrona.

Presidenta: Uma pedra.

Jô Soares: Tem gente que não sabe que o pré-sal já está funcionando, com mais de 500 mil barris/dia.

Presidenta: Bem mais. O pré-sal…

Jô Soares: Já me perguntaram quando é que vai funcionar o pré-sal. Quando funcionar, o preço do petróleo vai estar tão baixo que não vai mais compensar. Eu queria que você explicasse um pouco sobre isso, porque isso é uma falta de informação em vários níveis, porque as pessoas acham: “Ah, isso aí não vai dar em nada, o pré-sal não vai dar em nada”. Não têm ideia de que já está produzindo.

Presidenta: Olha, para você ter uma ideia dessa questão: não só está produzindo, como a Petrobras ganhou o “Oscar” na área de… este ano, a Petrobras ganhou o Oscar na área de óleo e gás.

O besteirol acima consumiu quase 400 das mais de 9 mil palavras ditas em parceria por Jô e Dilma. Mas na montanha de consoantes e vogais não aparecem uma única vez expressões inevitáveis numa entrevista com a presidente do Brasil do Ano da Graça de 2015. Corrupção, por exemplo. Ou Petrolão. Ou pelo menos escândalo.

Até bebês de colo e índios de tribos isoladas  hoje associam a Petrobras a essas palavras — além de roubalheira, ladroagem e outras bem menos gentis. A entrevistada, previsivelmente, tentou driblar todas. O entrevistador, lastimavelmente, também. Dilma mentiu em todas as respostas. Jô não contestou nenhuma.

Ele sabe que a estatal foi saqueada por uma quadrilha parida pelo padrinho Lula e amamentada pelo governo Dilma. Achou mais relevante contar que já lambeu uma pedra do pré-sal. Ele sabe que o maior esquema corrupto da história engoliu bilhões de dólares. Preferiu celebrar milhares de barris imaginários.

Foi assim que o que deveria ter sido uma entrevista acabou virando conversa de comadre ufanista.

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