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quarta-feira, setembro 30, 2015

Lubrificante à base de maconha é a nova moda nos States


Para quem curte afrodisíacos e simpatiza com essa erva tão polêmica, o grupo de pacientes e cuidadores da Califórnia, Aphrodite Group, produziu um novo lubrificante à base de cannabis chamado Foria. O grupo, que promove o uso da maconha de alta qualidade e o bem-estar sexual das mulheres, cobra US$ 88 (ou aproximadamente R$ 350) por um vidro de 30 ml do produto — para aplicação dentro e fora da vagina antes do sexo. Por enquanto a venda só é feita àqueles que possuem prescrição médica de maconha. Se interessou? Então veja as respostas das perguntas abaixo e tire (quase) todas as suas dúvidas sobre o novo hype.

Age como um lubrificante qualquer? – Aparentemente, o Foria não te deixa alto (a menos que você o beba) e a sensação é de calor e formigamento na região aplicada. Ao observar o site do grupo, o vídeo na entrada e os comentários das mulheres que usaram o lubrificante de maconha, fica claro que o produto está sendo comercializado especialmente para mulheres que sofrem de queda de hormônios ou algum grau de disfunção sexual feminina. O nome “Foria” é na verdade o nome da flor (feminina) da planta da maconha. Mas não se preocupe, pois o lubrificante quase não tem cheiro.

Ele é legalizado? – Embora o lubrificante de cannabis pareça totalmente inofensivo, a legalidade do produto ainda é duvidosa. Na realidade, o homem sempre fumou maconha durante a história e tivemos tempo de sobra para estudar seus efeitos até agora. No entanto, é curioso ver que os estudos realizados não abordam os efeitos do THC na vagina, que nesse caso é o que nos interessa. Então, quem são esses “pioneiros genitais” querendo usar uma farmacologia sexual não testada anteriormente?

Qual a composição do produto? – Segundo a empresa, sua fórmula é exclusiva e foi inspirada pelo uso histórico da cannabis como um afrodisíaco em culturas tradicionais em todo o mundo. Essa sabedoria antiga foi validada pela recente onda de investigação científica sobre os benefícios da maconha à saúde. O lubrificante aproveita as potências complexas da maconha para criar um “terapêutico afrodisíaco”. A composição do Foria, que também pode ser ingerido oralmente, é basicamente 100% de óleo natural de coco (líquido), THC e outros canabinóides. Por ter um pH baixo, o óleo de coco é ótimo para o cuidado da pele e ideal para a manutenção de um pH vaginal saudável, além de ser uma chave para o combate a fungos e bactérias.

Por fim, o mais importante: é confiável? – Ok, pra começo de conversa, vocês só misturaram THC em óleo de coco – vocês não inventaram o Viagra. Essa “nova era romântica” geralmente se baseia em “sabedoria antiga” e “pesquisa científica”, e embora a gente tenha consciência de que ninguém vai morrer de overdose de lubrificante de maconha na vagina, é vergonhoso um produto que será aplicado numa das regiões mais sensíveis e permeáveis da mulher não ter o aval de um obstetra ou ginecologista para tanto. O que ele faz é se reafirmar como marca de um tranquilizante “natural”. Antes de inventar o Foria, a Mathew Gerson fundou a Sir Richard’s Condom Company, uma fabricante de “preservativos de luxo” naturais (e para cada preservativo que você compra, um é doado a uma comunidade carente).

Talvez esses caras realmente tenham criado um produto eficaz que une a sabedoria antiga e a pesquisa científica. Pode ser que a empresa ainda publique alguma coisa sobre isso e, quem sabe, isso proporcione às mulheres (ricas) momentos ainda mais prazerosos na cama. Eu disse ricas, porque não é todo dia que se pode pagar por um lubrificante que custa mais de R$ 300. A questão é que independentemente do preço devemos nos atentar à qualidade do produto – não é porque ele natural que está isento de culpa. Heroína também é “natural” e vem de uma florzinha bem bonita. Fica o lembrete...

terça-feira, setembro 29, 2015

O Castelo de Romã ou A quase tragédia, o Chico e o Djavan


 O marido ciumento meteu o pé na porta e pegou a mulher na cama com o compositor de olhos cor de ardósia.

– Vou te matar, Chico Buarque! – berrou o homem com a pistola na mão.

– Calma, meu amigo, eu sou Djavan! – respondeu o outro, guardando sua própria pistola na cueca de algodão.

– Que nada, você é o Chico Buarque  mesmo! – protestou o corno.

– Sou não, quer ver?... Castelo de romã no oceano/ Pirão, peixe e batata/ Na manhã do desengano/ Eu pisei numa barata...

– Não entendi nada... – gemeu o traído.

– Tá vendo?... Eu sou mesmo o Djavan. Agora, com licença que tá na minha hora.

O cantor e compositor foi caindo fora do quarto. De tão feliz, até cantarolava: “Vai passar, nessa avenida um samba popular...”

Ele já estava no corredor, quando o marido saiu do estupor e apontou de novo a arma pra ele:

– Alto lá, vagabundo! Eu ouvi isso. Você é o Chico Buarque sim!

E o Djavan de olhos cor de ardósia emendou: “Popular feito dinossauro samurai/ Sabor de maça pra copular/ Odin, Zeus, Manitu e Adonai!”


E pegou o elevador rimando “marsupial” com “pega no meu pau”.

(Edson Aran in O Imbecilismo e Outros Textos de Humor)

segunda-feira, setembro 28, 2015

A Santíssima Trindade dos Heréticos


Quem lê um pouco sobre ciência humanas, não só antropologia mas coisas como genética, mecânica celular e até o misterioso funcionamento do cérebro, fica impressionado com a confirmação constante da teoria da evolução das espécies que, como as principais sacadas do Einstein na física, ainda não foi desmentida. No fim, dos três pensadores revolucionários do século 19 – Marx, Freud e Darwin –, só Darwin continua com seu prestígio em alta e sua teoria intacta. Só Darwin derrotou a oposição.

Nem Marx nem Freud foram exatamente desautorizados pelo tempo. O marxismo continua dando as melhores direções para se entender o processo do mundo e há quem diga que nem como professor Marx fracassou, pois nada do que está acontecendo por aí foge muito do seu manual. Mas a sua revolução do pensamento foi absorvida e, para a grande parte da humanidade, continua sendo a heresia, não a verdade. Freud ainda é importante, mas ele e a sua revolução também foram engolidos, digeridos e, em grande parte, evacuados, para usar uma imagem como as de que ele gostava.

A terapia freudiana individual se modificou, embora ainda não esteja perto do dia quem os comprimidos substituirão os analistas, e nenhumas das implicações sociais das suas descobertas chegou a ter muita influência na História. E, de certa maneira, as idéias de Marx e de Freud tiveram que brigar entre si, o que as enfraqueceu na sua corrida pela relevância com a heresia de Darwin.

Talvez Darwin deva sua permanência não apenas à autenticação científica, mais fácil no seu caso do que nos casos de Marx e Freud, mas ao fato de ter um inimigo mais fraco, embora parecesse ser mais formidável. Marx teve que brigar com o capital internacional. Freud teve que enfrentar a mentalidade vitoriana e todos os mitos estabelecidos da nossa sexualidade e do nosso caráter. Darwin parecia que tinha contra si uma Igreja tirânica e seus dogmas de ferro, e só tinha a singela parábola inaugural de um homem e uma mulher e um paraíso.

O criacionismo ainda tem seus defensores mas, desde o século 19, estava condenado ao descrédito, e pela própria Igreja. Na verdade, estava condenado ao descrédito desde que Eva desobedeceu ao Criador e comeu aquela fruta, e a ciência começou.

Quem tem medo de morrer?


Alex Castro

As pessoas mais felizes, as que vivem no presente e aproveitam cada minuto, são as que menos têm medo da morte. As pessoas que mais escuto falar em medo da morte são sempre aquelas que mal vivem. Quem viveu quarenta anos felizes, lindos e intensos não tem medo de morrer, pois sempre terá tido quarenta anos felizes, lindos e intensos. Quem viveu setenta anos de freio puxado, eternamente adiando sua gratificação, sonhando sempre com um futuro que nunca chega, essa pessoa se péla de medo de morrer, pois a morte é justamente a negação concreta do futuro lindo que ela sempre se enganou que teria.

Antes de irmos mais longe: muita gente confunde “ter medo de algo” com “não querer que algo aconteça”, mas são coisas bem diferentes. Por exemplo, ninguém quer morrer em desastre de avião mas nem todo mundo tem medo de avião. Eu não tenho medo de morrer. Minha vida foi linda e foi vivida intensamente, nos meus termos, do meu jeito. E o futuro, bem, o futuro nos reserva a todos a velhice, a decadência física, a dor, a solidão, a morte. Quem teve um bom passado e vive intensamente o presente não tem nenhum amor pelo futuro.

Quem tem mais medo de morrer são justamente aquelas pessoas que tiveram passados chatos e vivem presentes frustrantes, que depositam todas as suas esperanças em um futuro mítico, onde se mudarão para a casa dos sonhos, encontrarão o príncipe encantado, se aposentarão do trabalho chato, conseguirão escrever aquele livro... e aí tudo ficará bem, todas as promessas se realizarão, o futuro... finalmente... acontecerá em toda a sua plenitude!

Para elas, morrer não é somente o fim de um presente feliz (algo já desagradável em si), mas a negação de todos os sonhos que fariam seu presente tedioso valer a pena. A morte, se acontecer antes do futuro prometido que lhes daria sentido à vida, roubaria suas próprias vidas de sentido. Daí, tanto medo de morrer.

Guimarães Rosa sofreu um ataque cardíaco enquanto escrevia “Grande Sertão: Veredas”, um dos maiores monumentos da língua portuguesa. Depois de finalmente publicar o livro, em 1956, nunca mais empreendeu nada de peso, por medo de deixá-lo inconcluso. Sua produção depois disso fica mais fraca, sem ambição: nada no nível de “Sagarana” ou “Corpo de Baile”, as obras anteriores ao seu grande romance. Finalmente, como tinha previsto, morreu de ataque cardíaco em 1967.

Estou há seis anos escrevendo um romance chamado “Cria de casa: histórias de empregadas & escravos”. Já tenho duzentas boas páginas escritas e o livro vai ficar enorme. Seria bem chato morrer antes de terminar. Mas não seria o fim do mundo.

Algumas pessoas duvidam que não tenho medo de morrer. Dizem que é claro que todo mundo tem medo de morrer! Óbvio! Como não? Tenho vontade de abraçar essas pessoas. De lhes dar consolo e carinho. Porque, para elas, esse medo existencial é tão vasto e profundo, tão entranhado e constitutivo, que nem mesmo conseguem conceber a vida sem isso. Que horror viver cheio de tanto horror.

Algumas pessoas justificam seu medo da morte por causa da prole. É como se elas mesmas não fossem razão suficiente para permanecerem vivas: “Não posso morrer... O que seria dos meus filhinhos??!!” Ou como se ter filhos de algum modo significasse que sua sobrevivência era mais importante que a dos outros pobres mortais: “Me deixem entrar no último bote! Tenho três filhinhos pequenos!”, etc. Ou como os filhos finalmente justificassem seu terror e os deixassem livres para chafurdar à vontade nos seus medo existenciais: “Sim, tenho medo-pânico da morte... Fico acordado à noite pensando em como morrer deve ser apavorante... Mas não é por mim, sabe? É pelo Paulinho e pela Julinha!

Já eu não tenho filhos. Não tenho nem funcionários, sócios, associados. Ninguém depende de mim. Nem mesmo o Oliver, meu cachorro, que seria disputado à faca por umas três amigas. O mundo não precisa da minha presença. O mundo não sentiria minha falta. (Nos comentários, muita gente vai concordar e até vibrar.) Tudo continuaria igual, a terra ainda girando, nenhuma criança morreria de fome. Existe nisso uma enorme alegria, uma grande liberdade, um profundo alívio.

quarta-feira, setembro 23, 2015

Virar dirigente do PT é uma anotação no prontuário que encurta o caminho da cadeia


Em fevereiro de 2014, ao debochar do ministro Joaquim Barbosa na sessão de abertura do ano parlamentar, o deputado federal André Vargas era o vice-presidente da mesa já em campanha pelo comando da Câmara. Neste começo de primavera, só pode sonhar com o cargo de xerife de cela. Preso pela Operação Lava Jato desde abril, acaba de ser condenado a 14 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.

Ex-secretário de Comunicação do PT, o gatuno insolente confirma a constatação feita no comentário de 1 minuto para o site de VEJA: ocupar um cargo na direção nacional do partido é frequentemente a última escala da rota do xilindró. No século passado, José Dirceu repetia de meia em meia hora que “o PT não róba nem deixa robá”. Hoje ele puxa a fila que já é de bom tamanho e não para de crescer.

Ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, José Dirceu amarga uma segunda temporada na cadeia sem que tenha vencido o prazo de validade da primeira, decorrente do julgamento do mensalão. Também ex-presidente do PT, José Genoino cumpre em casa o restante da pena por corrupção ativa imposta pelo Supremo Tribunal Federal.

Ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares aprendeu na cela que o pai de todos os escândalos não foi reduzido a piada de salão. Sucessor de Delúbio, João Vaccari também foi forçado pela Justiça a trocar a tesouraria pelo cárcere em Curitiba. Condenado a 15 anos e quatro meses de prisão, terá tempo de sobra para pensar se deve enfrentar calado os processos em andamento ou fazer um acordo com os procuradores e abrir o bico sobre a farra dos pixulecos.


Ser ou ter sido dirigente do PT, como se vê, deixou de ser uma anotação no currículo. Agora é uma anotação no prontuário que encurta o caminho da cadeia. O chefe supremo que se cuide. (AN)

Afinal de contas, onde estamos?...


De tanto repetirem que o Brasil não é a Rússia, comecei a desconfiar. Será que não é? Este governo tem-se esforçado para nos convencer de que o Brasil que a gente vê não é o Brasil de verdade, é outro país. E se é outro país, por que não pode ser a Rússia? Agora, toda vez que eu saio de casa e dou com o Brasil que a propaganda do governo diz que não é o Brasil, começo a prestar atenção. Se não é o Brasil, que país é este? Onde, afinal, nós estamos?

Não se vê nenhum sinal ostensivo de que estamos na Rússia Os indícios, se existem, estão muito bem camuflados. Neva em alguns lugares do Sul do Brasil, no inverno, mas nada comparável á Rússia, onde neva em toda parte a toda hora. Mas quem nos assegura que o próprio clima tropical não faz parte da dissimulação? Se o Brasil é mesmo tão tropical assim, por que tem que fazer tanto calor com tanta frequência, como se estivessem preocupados em enfatizar justamente a nossa diferença da Rússia? O mesmo pode ser dito da nossa paisagem, tão convenientemente oposto das estepes russas. Conveniente demais.

Alguns cartazes que você vê na rua têm as letras invertidas – como se sabe, russo é de trás para diante – mas aí não é russo, é erro de português mesmo. Ou serão recaídas no alfabeto russo por dissimuladores distraídos? Há muita coisa escrita em inglês, o que também é suspeito. Durante muito tempo, Rússia e Estados Unidos foram arquiinimigos. Se você quisesse convencer alguém de que o Brasil definitivamente não é a Rússia, não tem jeito de ser a Rússia, é até uma anti-Rússia, qual seria a melhor maneira de fazer isso? Convencendo-o de que o Brasil é os Estados Unidos, claro. Quanto mais vejo apóstrofes, nomes em inglês, filmes americanos e mac-chickens, mas me convenço de que estamos na Rússia.

Outra coisa: a imprensa. Tentam disfarçar, mas a imprensa brasileira cada vez mais se parece com a imprensa russa. A própria insistência de que dizem que o Brasil não é a Rússia reforça a desconfiança de que estamos na Rússia, pois a imprensa russa não fazia outra coisa senão tentar convencer os russos de que o país que eles viam também não era a Rússia, que a Rússia de verdade era a da propaganda do governo. Quando mais os jornais nos asseguram que o Brasil não é a Rússia, mais desconfiamos de que estamos lendo versões do Pravda com as letras trocadas.

Há outras semelhanças que fazem pensar e desconfiar. Nós também saímos de um período de economia dirigida para um período de economia aberta que culmina com um período de economia mafiosa, com a única diferença que a máfia russa – realizado um sonho das máfias de todo o mundo, que até agora não tinham passado da bazuca – tem armas nucleares. No Brasil, como na Rússia, também há gangues organizados brigando pelo espólio do estatismo enquanto o povo fica á parte, convencido pela propaganda do governo que o dele já vem. E tanto lá como aqui, se é que aqui não é lá, tudo se deve a uma rendição incondicional a um charlatão oxigenado chamado Mercado, que teria as respostas para tudo.

Sei não, numa dessas caem os disfarces e se revela que o Brasil é, sim, a Rússia. Como o inverno russo se aproxima, acho que vou comprar um gorro de pele. Pelo menos salvo as orelhas. (LFV)

sexta-feira, setembro 18, 2015

O estadista de galinheiro que resolveu virar passarinho e voar para longe da Lava Jato pode estar batendo asas na rota da gaiola


Augusto Nunes

Anunciada na entrevista à rádio Itatiaia e reiterada horas depois num palavrório em São Bernardo, a novidade foi confirmada nas escalas que o palanque ambulante fez no Paraguai e na Argentina: Lula resolveu ser passarinho. Embora seja sempre uma proeza, essa não tem nada de mais. Quem resolveu em oito anos todos os problemas acumulados em mais de 500 nem precisa de muito esforço para fazer o que Hugo Chávez anda fazendo quando precisa dar conselhos ao filhote Nicolás Maduro.

É também improvável que alguma ave possa alcançar as alturas históricas atingidas por personagens a que o ex-presidente se comparou. Ele já se apresentou, por exemplo, como uma reencarnação melhorada de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jesus Cristo, Tiradentes, Abraham Lincoln e Nelson Mandela. O estadista de galinheiro interrompe o sono eterno de qualquer um sempre que precisa de ajuda para escapar do tribunal, de fiascos eleitorais ou quaisquer outras enrascadas cabeludas em que vive se metendo.

A primeira vítima foi exumada para abafar os estrondos decorrentes da descoberta do Mensalão. “Em 1954, Getúlio Vargas teve a coragem de dizer ao Brasil que a gente iria fazer a Petrobras e foi achincalhado como eu”, fantasiou Lula em 4 de agosto de 2005. “Hoje, a Petrobras é, sem dúvida nenhuma, a empresa brasileira de maior orgulho para todos os 186 milhões de brasileiros. É por isso que a elite quer fazer comigo o que fez com Getúlio”. (A Petrobras é que seria alvejada no peito por disparos de Lula e seus bucaneiros).

Em março de 2006, tangido pelo medo de ver o segundo mandato sair pelo ralo das ladroagens mensaleiras,  Lula escolheu o alvo da comparação infamante depois de assistir a um capítulo da minissérie da Globo inspirada na figura de Juscelino Kubitschek. “Hoje, JK está sendo vendido como herói, mas a novela mostra como é que os que estão me atacando hoje atacavam JK”, ensinou num falatório em Salvador. (Nem Carlos Lacerda ousaria enxergar semelhanças entre o construtor de Brasília e o inventor do Brasil Maravilha).

No fim do inquilinato no gabinete presidencial, quando fazia o diabo para eleger Dilma Rousseff, incorporou simultaneamente o filho de Deus e o mártir da Inconfidência Mineira. “Todo santo dia eu sou perseguido por aqueles que não se conformam com um presidente operário que pensa só nos pobres”, recitava o animador de comício antes de invocar uma das estações do seu calvário malandro: “Diziam que eu era comunista porque tinha barba comprida, mas Jesus também tinha, Tiradentes também tinha”.

Em fevereiro de 2013, ainda convencido de que seria secretário-geral da ONU depois de contemplado com o Nobel da Paz, começou a violar sepulturas em terra estrangeira. “A imprensa batia no Abraham Lincoln em 1860 igualzinho batem em mim”, descobriu o médium de botequim. (Nem o mais feroz antagonista do presidente americano ousaria acusar Lincoln de ser um lula). Meses mais tarde, sobrou para Nelson Mandela.

“Tive uma grata satisfação de fazer parte de uma geração que lutou contra o apartheid”, reincidiu em 5 de dezembro. “Não tinha sentido a maioria negra ser governada pela minoria branca lá. Aqui, acontecia comigo a mesma coisa”. (O gigante sul-africano que acabara de morrer daria um jeito de viver mais alguns séculos se desconfiasse que reencarnaria no Brasil como camelô de empreiteira e caso de polícia).

Foi para afastar-se das arapucas da Operação Lava Jato, aliás, que Lula providenciou a mais recente metamorfose. “Você só consegue matar um pássaro se ele ficar parado no mesmo galho”, explicou ao anunciar o advento do Lula alado. “Se ele ficar pulando, é difícil. Então é o seguinte: eu voltei a voar outra vez. Eu agora vou falar, vou viajar, vou dar entrevistas”.

Dado o recado, foi bater asas longe da Lava Jato (e do governo em decomposição da herdeira Dilma Rousseff). Estava na Argentina quando chegou ao Supremo Tribunal Federal o documento em que o delegado da Polícia Federal Josélio Sousa pede autorização para incluir Lula na devassa do Petrolão. Trecho da petição:

“(…) a presente investigação não pode se furtar de trazer à luz da apuração dos fatos a pessoa do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que, na condição de mandatário máximo do país, pode ter sido beneficiado pelo esquema em curso na Petrobras, obtendo vantagens para si, para seu partido, o PT, ou mesmo para seu Governo, com a manutenção de uma base de apoio partidário sustentada à custa de negócios ilícitos na referida estatal”.

“Pode ter sido beneficiado” é muita gentileza. Aí tem — e como!, sabe até o distintivo do delegado. Pelo que já confessaram comparsas convertidos em colaboradores da Justiça, pelo que a Polícia Federal já descobriu, pela montanha de provas acumuladas em Curitiba, pelo que logo se saberá sobre as maracutaias em Pasadena, na Refinaria Abreu e Lima, no Itaquerão e no Instituto Lula, fora o resto, pode-se afirmar que o passarinho espertalhão escolheu a rota errada.

Está voando perto demais da gaiola.

Morre o poeta amazonense Marcileudo Barros aos 64 anos


O corpo do artista foi encontrado em seu quarto por volta das 19h desta quinta-feira (17). Ainda não se sabe a causa da morte

O poeta, músico e humorista Marcileudo Barros, 64, foi encontrado morto em seu quarto no prédio onde morava na Avenida Castelo Branco, no bairro Cachoeirinha, na Zona Sul de Manaus. O corpo foi descoberto por volta das 19h desta quinta-feira (17) por familiares. Ainda não se sabe a causa da morte, mas o escritor vinha sofrendo com alguns problemas de saúde.

“É uma grande perda para a poesia amazonense”, lamentou o também poeta Simão Pessoa.

“Ele queria que eu fizesse a apresentação da 2ª edição do livro ‘O Boteco’, prevista para ser lançada em outubro. Fiz uma exigência para ele: ‘Eu faço a apresentação, poeta, mas você tem que lançar aquele seu livro de poesia pornô que me atormenta desde que li os primeiros rascunhos, em 2001, e achei sensacional! Ele fazia poesias eróticas, bocageanas, que você não parava de rir”, acrescentou.

Amigo e parceiro de muitos projetos, o poeta Celestino Neto também lamentou a morte do escritor. “Íamos lançar a segunda edição do ‘O Boteco’ no dia 4 de outubro. Agora desandou tudo. Vou sentir muita falta do meu amigo”, disse.

Informações sobre o velório e enterro ainda não foram divulgadas.

Carreira

Marcileudo Barros começou os primeiros rabiscos aos nove anos. Mesmo com pouca idade, a pretensão de deixar ali registrado uma inquietude de uma realidade, já era latente na vida.

Filho de família humilde, nasceu no bairro Educandos, mas foi criado ainda na Zona Sul, na Cachoeirinha. Além da poesia, Marcileudo também é músico e artista plástico. 

Deixou quatro livros publicados, entre eles o livro de poesias pornôs “Meninas”. Ao todo, ele deixou mais de 30 obras prontas para serem publicadas, além de várias composições musicais.

Dentre suas profissões, também foi gerente de várias lojas e importadoras na Zona Franca, mas foi pego pelas palavras.

(publicado no portal de A Crítica, no dia 17.09.2015)



Para ler alguns poemas do Marcileudo Barros clique aqui

quarta-feira, setembro 16, 2015

Conheça (e converta-se) ao deboísmo, a nova filosofia de vida da web


O Facebook é um lugar repleto de debates que, por vezes, se transformam em discussões cheias de ódio geradoras de mágoas e inimizades. Uma “nova filosofia de vida” surgida recentemente na web pretende combater esse problema por meio de... memes.

Trata-se da página “Deboísmo”, criada há pouco mais de dois meses por um jovem casal de Goiânia, Carlos Abelardo e Laryssa de Freitas, de 19 e 17 anos, respectivamente. Com mais de 200 mil seguidores (ou seriam convertidos?), a página tem um simpático bicho-preguiça como protagonista de divertidos memes  – que vão de referências à cultura pop até soluções para problemas do dia a dia.

 “Alguém te fechou no trânsito? Reduz e fica de boa”, aconselha uma das imagens com mais de 10 mil curtidas e quase dois mil compartilhamentos. A seguir, estão os 10 ensinamentos do deboísmo que, segundo a página, foram “retirados de um livro de Richard Dawkins”:

1- Não faça aos outros o que não quer que façam com você;

2- Em todas as coisas, faça de tudo para não provocar o mal;

3- Trate os outros seres humanos, as outras criaturas e o mundo em geral com amor, honestidade, fidelidade e respeito;

4- Não ignore o mal nem evite administrar a justiça, mas sempre esteja disposto a perdoar erros que tenham sido reconhecidos por livre e espontânea vontade e lamentados com honestidade;

5- Viva a vida com um sentimento de alegria e deslumbramento;

6- Sempre tente aprender algo de novo;

7- Ponha todas as coisas à prova; sempre compare suas ideias com os fatos, e esteja disposto a descartar mesmo a crença mais cara se ela não se adequar a eles;

8- Jamais se autocensure ou fuja da dissidência; sempre respeite o direito dos outros de discordar de você;

9- Crie opiniões independentes com base em seu próprio raciocínio e em sua experiência; não se permita ser dirigido pelos outros;

10- Questione tudo.

quinta-feira, setembro 10, 2015

Artur Neto mata a cobra e mostra o pau


O Biologia com o Prof. Jubilut, que conta com muitos seguidores nas mídias sociais, acaba de demonstrar como o uso leviano dessa condição pode ser prejudicial à reputação de uma pessoa ou de uma instituição. Irresponsavelmente, em Boa Vista, referiu-se a uma suposta “cobrança de propina” que teria sofrido, por parte da “Prefeitura” de Manaus, para proferir palestra na cidade que dirijo. Pois bem: segunda feira, ao saber da “denúncia”, exigi imediata ação, por parte de meus assessores, visando a apurar o caso e levar eventuais culpados à merecida e inevitável punição.

Desde o momento do incidente, sob a coordenação do secretário Marcio Noronha, temos, em vão, tentado estabelecer contato com o “professor”. Através do seu face, insistentemente, nós postando a cobrança e ele apagando o que postamos. Ou pelo e-mail “contato@biologiatotal.com.br”. Sem nenhuma resposta. Apenas o silêncio de quem sabe que errou. Silêncio de uma pessoa inconsequente, a quem acabo de endereçar interpelação judicial.

Credibilidade é o cerne da reputação de qualquer pessoa pública. Deve ser usada em favor do bem social e não para manchar a imagem de adversários ou instituições. Já percorri 37 anos de vida pública reconhecida como limpa pela minha cidade, pelo meu estado e pelo meu país. Não aceito que, em qualquer circunstância, quem quer que seja tente tisnar minha história, a instituição que gerencio ou a cidade que tenho a honra de governar. Levo a vida a sério e me levo muito a sério. Não troco de partido politico, não abro mão dos meus princípios, não ajo por conveniências.

O fato é que o sr. Jubilut se encolheu como um jabuti. Não responde a nenhuma das inúmeras tentativas de contato que insistentemente fazemos. Da interpelação judicial sei que não escapará. E poderia não ter de passar por todo esse vexame e constrangimento, se tivesse evitado o caminho aparentemente fácil da leviandade. Se esconder e dar para trás é feio demais.

Continuamos esperando que o professor entre em contato para formalizar a denúncia. Fiz questão de marcá-lo nesta postagem para que ele receba, mais uma vez, o nosso pedido de esclarecimentos. Transparência deve ser levada em consideração nos dois lados.

terça-feira, setembro 08, 2015

Minha Copa do Mundo inesquecível


Onde você estava no dia 17 de junho de 1962? Quem ainda não era nascido, por favor, vire a página e nos deixe com nossas memórias. Foi o dia em que o Brasil ganhou a Copa do Mundo pela segunda vez seguida, no Chile. Até hoje, é pavloviano: quando penso naquela Copa, ouço a música “Et Maintenant” e sinto o gosto de cachaça com mel.

Eu morava no apartamento de uma tia, no Leme. Acompanhávamos os jogos do Brasil pelo rádio tomando batidas de cachaça, cuidando para nunca variar a rotina que estava obviamente ajudando nosso time. A Clarice Lispector era vizinha, mas não me lembro dela participando destes rituais. Sentimos que tínhamos feito alguma coisa errada quando o Pelé se machucou, teríamos trocado a marca da cachaça? Depois descobrimos que tudo estava previsto. Com o Pelé machucado, o Garrincha se viu na obrigação de jogar por quatro e ganhar a Copa.

A celebração das vitórias sempre começava com “Et Maintenant” a todo volume no toca-discos e geralmente acabava no restaurante Fiorentina, ali perto. Vitória do Brasil era apenas outro pretexto para festa no Fiorentina, aonde iam “os artistas” e aonde pareciam estar sempre comemorando alguma coisa. Hoje sei que se celebrava o fato de termos todos 35 anos menos do que teríamos um dia. Garrincha e Gilbert Becaud, quem podia com esta tabelinha?

1962. Eu tinha saído de Porto Alegre naquele ano com a idéia de ganhar algum dinheiro no Rio e depois ir para uma vaga Londres fazer alguma coisa mais vaga ainda ligada a cinema. Éramos movidos a cinema, naquela época. Eu não tinha diploma de nada nem qualquer vocação aparente, fora um discutível “jeito para desenho”. A Clarice, amiga da família, chegou a telefonar para o Ivan Lessa, que trabalhava em publicidade, para ver se me conseguia um emprego. Não deu. 

Chegou um amigo de Porto Alegre, companheiro de inconsequências, que ganhara uma bolada da venda de umas terras do pai e entre usar o dinheiro para se estabelecer ou queimar tudo num fim de semana no Rio optou pelo mais sensato e me convocou para ajudá-lo. Sim, tive meus três dias de condor, mandando baixar no Fred’s (o Hotel Méridien hoje se ergue sobre as suas cinzas) e requisitando coristas para acompanhar nosso delírio de paulistas. A minha se chamava Letícia e, meu Deus, hoje deve ser avó. Foi uma despedida tardia da adolescência.

Depois começou a vida real. Fui trabalhar com um americano com a promessa de ficar rico e quase acabei preso, casei, tentei um negócio que não deu certo e, quatro anos depois de me mudar para o Rio, voltei para casa. Que ficara ainda mais longe de Londres do que era antes. Lembro que a estrela principal do “Fred’s” era a Lady Hilda. A Lady Hilda era intocável. A Lady Hilda namorava um delegado.

Em 1962, no Rio, você lia as colunas do Armando Nogueira, do Nelson Rodrigues, do Stanislau Ponte Preta, do Antonio Maria, do João Saldanha, do Paulo Francis escrevendo sobre teatro e mandando pau na direita... Quem mais? Na Manchete saíam as crônicas do Rubem Braga, do Paulo Mendes Campos e do Fernando Sabino, e na revista Cruzeiro as gloriosas duas páginas do Millôr. Jango estava no governo, as reformas de base eram uma possibilidade (se apenas o Lacerda deixasse, porque os militares estavam sob controle) e, como se não bastasse a Rose di Primo e o sundae do Bob’s, havia o Garrincha. No auge, como todo mundo. (LFV)

quinta-feira, setembro 03, 2015

Amor sob encomenda


Nos anos 80, no Recife, inaugurei um serviço especial de “poemas de amor sob encomenda”, que eu apelidei de “Miss Corações Solitários”, como no livro de Nathanael West, que acabara de ler. Marketing da necessidade de um escriba só o couro e o osso, que olhava a sua própria sombra magra e tinha medo. A estratégia foi um sucesso. Depois de um anúncio no “Diário de Pernambuco”, eu não dava mais conta dos pedidos e passei a terceirizar sonetos e acrósticos, tarefa fácil na terra de Manuel Bandeira e João Cabral.

 Ajudei a começar romances, reatar namoros, dar esperanças, iludir “boyzinhas”, parabenizar amadas, encorajar amantes, suspirar viúvos, incendiar mancebos e reacender o fogo de lindas afilhadas de Balzac. A felicidade não se compra, como já nos avisou o cinema, mas que amealhei algumas patacas, amealhei. Recife virou uma festa, melhor do que a Paris de Hemingway.

O motivo dessa crônica, no entanto, não é o de ficar apenas mascando o chiclete da nostalgia. Nada disso. O motivo é de arrepiar. E se chama Marina Cavalcante. Pernambucana de Olinda, hoje habitante do bairro de São Matheus, na zona leste de São Paulo, tinha 20 anos quando me encomendou um poema para o namorado.

Agora com 39, viu este mal-assombro que vos escreve no programa de TV do Lobão – o “Saca-Rolha”, que passa no canal 21 de SP – e, via email, me contou a sua história. “Ele, Roberto, achava que eu o traia, por isso pedi o poema sobre a minha fidelidade, pra fazer ele chorar, lembra?” ela pergunta. Claro que não recordo. Eram tantos casos. O poeta Jaci Bezerra, velho amigo e testemunha ocular da história, que o diga.

E aí, conta logo, Marina: “Ele, Roberto, acreditou em mim, vivemos um lindo amor por cinco anos, o amor da minha vida, por isso a minha felicidade de achar o sr. na televisão, pra agradecer, tanto tempo depois”.

Homem que é homem chora bonito, chora mais alto. Não me contive com o episódio. Marina casou com outro aqui em São Paulo, hoje está separada, e diz que não esquece o motivo daquele velho poema. Bela história. Deu até vontade de retomar as encomendas, as costuras para fora. Bom saber que a poesia comove até um macho à moda antiga, do tipo que ainda manda flores, caso do amor de Marina. (XS)