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quarta-feira, março 09, 2016

Morrer o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos


O percussionista pernambucano Naná Vasconcelos não resistiu a complicações de um câncer de pulmão e faleceu, nesta quarta-feira (9), às 7h39, aos 71 anos. O músico tratava a doença desde 2015, quando chegou a se submeter a sessões de quimioterapia. Na época, Naná enfrentou a situação com bom humor, e gravou vídeo com poesia. Ainda não há informações sobre o velório, mas o sepultamento foi confirmado para o cemitério Santo Amaro, às 10h desta quinta-feira (10).

O percussionista premiado estava internado desde a semana passada, quando teria passado mal após show em Salvador (BA). O quadro do músico piorou no último sábado. Em dezembro de 2015, Naná recebeu título de doutor honoris causa pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

Autodidata, nunca frequentou escola de música, nem se graduou, mas logo se firmou como um dos mais respeitados instrumentistas do país, tendo colaborado com nomes como Egberto Gismonti, Pat Metheny, além de ter produzido o primeiro álbum do Cordel do Fogo Encantado.

Detentor de oito Grammys, o percussionista costumava quebrar protocolos e substituía, sempre que permitido nas cerimônias, os discursos por apresentações musicais.

Naná, que aos 12 anos tocava profissionalmente em bares e clubes noturnos (onde lhe exigiam até autorização judicial), ao lado do pai, aprendeu a tocar sozinho, usando os penicos e as panelas de casa, ainda na infância. Não frequentou aulas de música, não ingressou na faculdade.

Em entrevista concedida ao Viver, ele afirmou: “Quando você aprende teoria musical por livros, precisa sempre consultar os textos. Quando você aprende com o corpo, é como andar de bicicleta. Seu corpo se lembra.”

Em 2015, ele passou quase um mês internado para tratar do câncer no pulmão esquerdo, no mesmo centro médico onde veio a falecer. Um de seus últimos projetos foi o Café no bule, em parceria com Zeca Baleiro e Paulo Lepetit.

Compostas a distância, por telefone e e-mail, e em encontros em São Paulo, as 10 faixas mesclam referências de vários ritmos, como jazz, afoxé, samba, maracatu e jazz. Entre elas, três vinhetas, espécie de “gole d’água ou de vinho”, ideia de Naná, que gostava de brincar com construções onomatopeicas.

O pernambucano não esteve nos primeiros shows do disco, em Varginha, interior de Minas Gerais, no início do mês. Foi representado pela gravação realizada em estúdio e homenageado com música composta pelos outros dois.

Após receber alta, Naná começou a preparar o retorno aos palcos, que ocorreu em setembro, em Maceió. Neste ano, ele comandou a abertura do carnaval do Recife, coisa que fazia há mais de 15 anos. No palco do Marco Zero, recebeu Lenine e a cantora caboverdense Sara Tavares como convidados, após comandar cortejo de maracatus e caboclinhos pelas ruas do Bairro do Recife.

A inclusão dos caboclinhos na cerimônia era projeto de Naná, a fim de dar maior visibilidade ao grupo folclórico, que ele considerava esquecido pelos pernambucanos. O percussionista inovou, ainda, ao se apresentar no polo Rec-Beat, no Cais da Alfândega, com programação mais alternativa.

Naná deixa duas filhas, Jasmim Azul e Luz Morena. Em entrevista ao Viver, em dezembro passado, chegou a declarar: “Minha maneira de pensar a percussão vai continuar viva depois de mim.”

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