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sexta-feira, julho 29, 2016

O 9º Festival Folclórico do Amazonas (1965)


O golpe militar do ano anterior havia ocorrido supostamente para eliminar a subversão e a corrupção que grassava no país. Para evitar qualquer suspeita de malversação de verbas públicas em seu governo, o governador Arthur Reis resolveu oficializar e dar publicidade aos recursos destinados aos grupos folclóricos por meio de uma lei encaminhada para discussão na Assembleia Legislativa do Amazonas.

No dia 31 de maio, o matutino O Jornal publicou uma matéria intitulada “Ruy sancionou a lei que destina recursos ao IX Festival Folclórico”:

Foi sancionada, ontem, pelo governador em exercício, Ruy Araújo, a lei que tomou o nº 209 e amanhã sairá publicada no Diário Oficial do Amazonas, que abre no Orçamento o crédito especial de Cr$ 12 milhões e 500 mil para ocorrer com despesas do IX Festival Folclórico do Amazonas, soberba promoção da Empresa Archer Pinto e que contará com o patrocínio do Governo Arthur Reis.

Segundo o diploma legal, Cr$ 8 milhões e 950 mil cruzeiros serão destinados aos grupos já inscritos, como ajuda às luxuosas fantasias. Cr$ 3 milhões e 200 mil destinar-se-ão aos serviços de terceiros e outros encargos e CR$ 350 mil serão para a concessão de prêmios aos vencedores da grandiosa festa junina.

O custeio total do IX Festival Folclórico do Amazonas pelo Governo Arthur Reis é prova eloquente de que a cultura popular está merecendo o incentivo do Poder Público.  Em verdade, os festivais folclóricos realizados pela Empresa Archer Pinto sempre foram festas genuínas do povo, que não se cansa de aplaudir, de incentivar, a todos quantos tomam parte na maior e mais bela festa típica, no gênero, do país.

Vale ressaltar, também, que o Poder Legislativo do Estado deu a sua parcela de colaboração ao IX Festival, aprovando a Lei nº 209.

REUNIÃO HOJE PARA A COMISSÃO – A Lei nº 209, que hoje será publicada no Diário Oficial, prevê em seu artigo 3º a constituição de uma comissão composta do desembargador André Araújo (Secretário da Educação), que a presidirá, dr. José Cidade de Oliveira (Diretor Geral do DIPTEA), desembargador João Machado Junior (Presidente do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas), jornalista Aristophano Antony (Presidente da Associação Amazonense de Imprensa) e um representante da Empresa Archer Pinto, a qual se reunirá hoje, no Palácio, às 16 horas, para coordenar a aplicação dos recursos fixados na Lei acima aludida.


Braço direito de Bianor Garcia até o ano anterior, o jornalista Luiz Verçosa foi incumbido de organizar e coordenar o festival aquele ano, que teria seu desfile inaugural no dia 20 de junho, domingo, e seu encerramento no dia 28, segunda-feira. As competições seriam realizadas entre os dias 21 e 26. Ele se desincumbiu da tarefa a contento até porque o beabá do festival já estava praticamente incrustado no seu DNA. Na verdade, Bianor Garcia havia sido um excelente professor.

Quando as inscrições foram encerradas, havia 45 grupos inscritos. Para facilitar o trabalho da Comissão Julgadora, Luiz Verçosa distribuiu os grupos em oito chaves:

Bumbás: Pai do Campo, Corre Campo, Caprichoso e Tira Prosa.

Garrotes: Luz de Guerra, Tira Teima, Canarinho, Dominante, Sete Estrelas, Veludinho, Estrela D’Alva, Dois de Ouro, Pingo de Ouro e Malhado.

Tribos: Iurupixunas, Andirás e Cuximiraibas.

Pássaros: Corrupião e Bem-te-vi.

Danças Regionais: Caninha Verde, Cacetinho (Tarianos), Ciranda (da Escola Senador Lopes Gonçalves), Tipiti (infantil) e Danças e Jogos Infantis.

Danças nordestinas: Primo do Cangaceiro, Cabras do Lampião, Netos de Cangaceiro e Sobrinhos de Maria Bonita.

Quadrilhas adultas: Araruama na Roça, Real Madrid na Roça, Coronel Gerceano na Roça, Soçaite no Interior, Flor Selvagem, Matutos do Manaquiri e Quadrilha Escocesa.

Quadrilhas mirins: Caboclinhos de Brasília, Filhos do Lampião, Glorianos no Roçado, Brotinhos da 1º de Maio, Brotinhos de Amanhã, Brotinhos de Santo Antonio, Caboclinhos do Arari, Bossa Nova e Gaveanos no Roçado.

Como atrações especiais da categoria “Folclore Brasileiro – Hors Concours”, Dança do Café, Pastorinhas do Luso e Brigue Independência. Essa última escolha, provavelmente foi feita apenas para queimar a língua daquele renomado folclorista, nosso velho conhecido.

Aliás, o secretário da Comissão Amazonense de Folclore estava na muda desde que o nº 50 do boletim Jornal do Folclore havia sido encartado no jornal A Gazeta, no dia 1º de agosto de 1964.

Aparentemente, a prisão de Plinio Coelho, decretada pelo governador Arthur Reis, no dia 10 de agosto daquele ano, e o empastelamento dos jornais O Trabalhista e A Gazeta, ambos de propriedade do ex-governador, tenham contribuído para o melancólico fim da publicação. Era um corvo a menos para torcer pelo fracasso do festival.


O jornalista Luiz Verçosa, em comum acordo com os dirigentes dos grupos folclóricos, também estabeleceu que na segunda feira, dia 28, ocorreria a “Noite dos Campeões”, com todos os grupos vencedores marcando presença no tablado para receberem seus prêmios e fazerem uma nova apresentação para o público.

A Comissão Julgadora estabeleceu o tempo de exibição de cada grupo, em comum acordo com os dirigentes das brincadeiras: Bumbás, Garrotes e Quadrilhas mirins, 20 minutos, Quadrilhas adultas e Danças, 25 minutos, Cordão de Pássaros, 30 minutos, e Tribos Indígenas, 40 minutos.

O prefeito Vinicius Conrado concedeu uma ajuda de custo para todos os grupos no valor de Cr$ 50 mil (R$ 2 mil, em valores de hoje).

A ajuda do governador Arthur Reis foi um pouco mais substancial: Cr$ 200 mil para os bumbás, Cr$ 150 mil para as Quadrilhas adultas, Pássaros, Tribos e Danças Regionais, e Cr$ 100 mil para os Garrotes e Quadrilhas infantis.

Os sete melhores grupos campeões dividiram entre si o prêmio de Cr$ 350 mil, a critério da Comissão Julgadora, que era formada pelo desembargador Mário Verçosa (presidente), Aderson de Menezes, André Araújo, Garcitylzo do Lago e Silva, Alfredo Fernandes, Afonso Nina, Gebes Medeiros, João Correia, Aristophanos Antony, João Braga e major Souza Carvalho.

Como critério de julgamento seria observado os itens originalidade, autenticidade, coreografia, indumentária, música e alegria dos brincantes.


A ordem de apresentação do IX Festival, com 45 grupos inscritos e cerca de 4 mil figurantes, ficou assim definida:

Dia 20 (domingo) – Desfile de todos os conjuntos, a partir das 15 horas, da Praça São Sebastião ao General Osório, como parte da abertura oficial do festival. Abertura do festival pelo prefeito Vinicius Conrado. Saudação do governador Arthur Reis. Apresentação da Comissão Julgadora. Subida ao tablado dos grupos campeões do ano passado.

Dia 21 (segunda) – À noite. Quadrilha Adulta Glorianos no Roçado, Garrote Pingo de Ouro, Brigue Independência, Dança Nordestina Netos do Cangaceiro e Garrote Veludinho.

Dia 22 (terça) – À noite.  Quadrilha Adulta Matutos do Manaquiri, Garrote Dois de Ouro, Quadrilha Adulta Real Madrid na Roça, Garrote Dominante e Tribo dos Cuximiraibas.

Dia 23 (quarta) – À noite. Quadrilha Adulta Escocesa, Quadrilha Adulta Coronel Gerceano na Roça, Dança Regional Ciranda, Pássaro Bem-te-vi, Dança Nordestina Primo do Cangaceiro, Tribo dos Iurupixunas e Dança Regional Cacetinho (Tarianos).

Dia 24 (quinta) – À tarde.  Quadrilha Mirim Caboclinhos de Brasília, Roda e Jogos Infantis, Garrote Estrela D’Alva, Quadrilha Mirim Filhos de Lampião, Garrote Sete Estrelas e Quadrilha Mirim Bossa Nova.  À noite. Garrote Malhado, Quadrilha Adulta Flor Selvagem, Dança Regional Caninha Verde, Bumbá Caprichoso e Tribo dos Andirás.

Dia 25 (sexta) – À noite. Quadrilha Adulta Araruama na Roça, Pássaro Corrupião, Dança Nordestina Cabras do Lampião, Garrote Luz de Guerra e Bumbá Pai do Campo.

Dia 26 (sábado) – À tarde. Quadrilha Mirim Brotinhos da 1º de Maio, Quadrilha Mirim Brotinhos de Santo Antonio, Quadrilha Mirim Gaveanos no Roçado, Garrote Tira Teima,Dança Regional Tipiti, Quadrilha Mirim Brotinhos de Amanhã e Quadrilha Mirim Caboclinhos do Arari. À noite. Quadrilha Adulta Soçaite no Interior, Bumbá Tira Prosa, Garrote Canarinho, Dança Nordestina Sobrinhos de Maria Bonita e Bumbá Corre Campo.

Dia 27 (domingo) – À tarde. Desfile de encerramento. À noite. Proclamação dos eleitos campeões pela Comissão Julgadora.

Dia 28 (segunda) – À noite. Apresentação dos grupos proclamados campeões no tablado do IX Festival Folclórico do Amazonas e entrega dos prêmios a que fizeram jus.


O resultado final foi o seguinte, pela ordem de classificação (campeão e vice-campeão):

Bumbás: Corre Campo e Tira Prosa.

Garrotes: Luz de Guerra e Malhado. 

Pássaros: Bem-te-vi e Corrupião.

Tribos: Andirás e Iurupixunas.

Danças regionais: Ciranda e Cacetinho (Tarianos).

Danças Nordestinas: Primo do Cangaceiro e Cabras do Lampião.

Quadrilhas adultas: Flor Selvagem e Araruama na Roça.

Quadrilhas infantis: Caboclinhos de Brasília e Filhos de Lampião.

Danças infantis: Danças e Cantigas de Roda e Dança do Tipiti.

Campeã das Campeãs: Dança Nordestina Primo do Cangaceiro, que obteve o maior número de pontos entre todos os conjuntos participantes.

Rainha do Folclore: Nazira Gomes (Pássaro Bem-te-vi)

Rainha de Beleza: Raissa Mendonça (Ciranda).

Rainha do Folclore Mirim: Margarete Almeida (Caboclinhos de Brasília).


Rainha de Beleza Mirim: Maria Cilene (Brotinhos do Amanhã).

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