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quarta-feira, maio 31, 2017

A falta de um manauara


Por Marcelo Barros (*)

Jefferson Péres era um humanista. O Brasil o conhece das suas posições políticas no Senado, seu rigor ético e seu senso implacável com desvios de conduta, sua palavra sintética e ao mesmo tempo direta, sua qualificada produção legislativa respeitada até mesmo por seus críticos, e seu compromisso com a atividade política e parlamentar; também denunciando as suas mazelas e seus cinismos. Mas nós, amazonenses, já conhecíamos seu trabalho e suas qualidades.

José Jefferson Carpinteiro Péres nasceu em Manaus, em 19 de março de 1932. Era de uma família tradicional de juristas e que, por sua atuação, acabou indo para a política. Seu tio, Leopoldo Péres, foi Deputado Federal Constituinte de 1946; seu irmão, também Leopoldo Péres, foi Senador da República entre 1987 e 1990.

Sua formação acadêmica em Direito e Administração o conduziu a um caminho diferente da maioria da tradição de sua família. Frustrado com a advocacia descobriu outra paixão, a sala de aula. Assim, tornou-se professor do curso de Economia da UFAM.

Seu ativismo politico começou lá nos anos 50, na campanha “O Petróleo é Nosso”. Veio a ditadura e Jefferson manteve-se atuante, mas sabia da vigilância dos militares e assim permaneceu na sala de aula combatendo o seu bom combate. Mesmo assim, nunca deixou de abrir as portas da sua casa para as mais diversas discussões políticas, sendo abrigo de muitos perseguidos pelo regime militar.

Quem o via de longe, tinha uma visão de que ele era uma pessoa “sisuda, sem graça”, mas tinha suas predileções. Homem muito fiel aos seus amigos, torcedor fanático do Botafogo, amante das artes como cinema, música, teatro, entre outras. Um leitor voraz e que tinha uma capacidade imensa de falar o que tinha de ser dito com poucas palavras.

Era um homem de Manaus, sua cidade e sua paixão. Um defensor ardoroso da revitalização do Centro Histórico e dos espaços urbanos de uma cidade que cresceu com ares de cidade europeia na “Belle Époque” do Ciclo da Borracha, mas que ao longo do tempo cresceu desordenadamente. Tinha prazer em sonhar com uma Manaus revitalizada em sua expressão natural. Seu livro “Evocação de Manaus – Como a Vi ou Sonhei”, publicado em 1994, é a síntese do seu amor por sua cidade.


Em 1988, aconselhado por seus amigos e alunos, decide ser candidato a vereador, se elegendo e participando daquela considerada por muitos a melhor legislatura da história da Câmara Municipal de Manaus, sendo reeleito em 1992.

Em 1994, mesmo sendo considerado “o azarão”, se elege Senador sendo o segundo amazonense e terceiro brasileiro a sair diretamente de uma Câmara de Vereadores para uma cadeira no Senado Federal. Sua atuação nas Comissões de Constituição e Justiça, Comissão de Assuntos Econômicos e Comissão de Relações Exteriores era elogiada pela sua qualidade. No ano de 2000, é o relator do processo de cassação do Senador Luiz Estêvão (DF), primeiro Senador cassado por quebra de decoro na história brasileira.

No ano de 1999, descontente com atitudes e alianças do governo FHC, deixa o PSDB e, por convite de Leonel Brizola, filia-se ao PDT e se torna presidente regional do Amazonas. Em 2001, numa campanha memorável, é indicado como candidato a Presidência do Senado Federal pelo Bloco de Oposição. Sua candidatura foi derrotada, mas isso o tornou ainda mais conhecido nacionalmente como exemplo de decência e moralidade. Na eleição de 2002, se reelege senador com a maior votação de Manaus e a segunda maior de todo o estado.

Foi líder da Bancada do PDT no Senado por várias ocasiões e em 2006 compôs a chapa do PDT nas eleições presidenciais como candidato a vice do Senador Cristóvam Buarque (DF). Após as eleições, fez um memorável discurso no Senado comunicando que ao final do seu mandato em 2010, deixaria a vida pública. Quis o destino que nos deixasse antes.


No dia 23 de maio de 2008, uma sexta-feira, por volta de 6h30min, Jefferson Péres sofre um violento ataque cardíaco em seu quarto, sendo encontrado morto por sua esposa Marlídice Péres. Todos nós fomos pegos de muita surpresa. Seu corpo foi velado no Palácio Rio Negro, sede do Governo do Estado. Millhares de manauaras e amazonenses foram se despedir do seu senador.

Jefferson Péres deixou um legado de defesa da moralidade, da ética, da Amazônia e do seu desenvolvimento sustentável. De compromisso com as causas do povo, de defesa do PDT e de um partido forte pra ser alternativa real de poder no Amazonas. São nove anos de saudade e lembranças, mas também de luta pela manutenção dos seus valores para as novas gerações.

Deixo uma frase do Senador, quando do seu discurso de apresentação da sua candidatura à presidência do Senado Federal, em 2001: “Quem caminha com o povo, nunca estará sozinho”


(*) Marcelo Barros é membro do Diretório Nacional do PDT. Secretário de Relações Institucionais da JSPDT Nacional. Ex-Presidente Estadual da JSPDT Amazonas. Ex-Assessor Parlamentar da Liderança do PDT no Senado Federal.

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