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quinta-feira, junho 29, 2017

Quizumba no Bar do Armando


A musa Petronília, a rainha Érika Tatiana e o patrono Armando Soares

Fevereiro de 1997. O promotor público José Bernardo, irmão dos homeboys Lélio (ex-Secretário de Justiça), Sérgio (juiz federal) e Flávio Lauria (escritor e advogado), está no Bar do Armando, bebendo animadamente com o juiz trabalhista Jorge Álvaro (hoje desembargador) e conversando lorotas. Os dois estão do lado de dentro do balcão.

O bar está completamente lotado, aguardando a chegada do grupo Demônios da Tasmânia para iniciar mais um pré-aquecimento da famigerada Banda Independente da Confraria do Armando (BICA).

Culto, educado e incapaz de fazer mal a uma mosca, José Bernardo está fazendo hora no bar à espera do telefonema de uma namorada para se encontrarem dali a pouco.

Alguns minutos depois, a sexagenária Petronília, eterna musa da banda, se aproxima dos dois e reclama que alguns rapazes estão zoando com ela, lhe atirando pinchas de cerveja e sobras de isca de leitão, entre outras coisas.

José Bernardo olha para a mesa dos rapazes e reconhece entre eles os irmãos Carlinhos, Luiz e Marcos, filhos do comerciante Antônio Português, proprietário do restaurante Calçada Alta, localizado nas proximidades da Praça São Sebastião.

Fazendo alguns sinais com as mãos, José Bernardo pede amistosamente para os rapazes pararem de sacanear a Petronília. Ainda bastante injuriada, a anciã implora delicadamente que Jorge Álvaro lhe pague uma cerveja e então fica bebendo na companhia dos dois, do lado de fora do balcão.

Impaciente com a demora do telefonema da namorada, José Bernardo resolve ligar para a menina do telefone particular do Armando, que também fica do lado de dentro do balcão. Ele não consegue concluir a tarefa porque o telefone convencional estava sem linha.

Os rapazes da mesa observam o promotor desligar o telefone e sair muito puto em direção ao orelhão existente quase na entrada do bar. Completamente bêbados e paranoicos, eles deduzem que José Bernardo está ligando pra polícia e resolvem agir.

Assim que colocou a primeira ficha no orelhão, o promotor público recebeu um tapa no pé do ouvido, que lhe arremessou os óculos de grau a um metro de distância. Em seguida, recebeu uma rasteira que lhe levantou um metro do solo.

Ao perceber o amigo sendo agredido, Jorge Álvaro correu em sua direção. Levou um contravapor na nuca que quase o levou a nocaute.

Caído no chão, José Bernardo limitava-se a proteger o rosto enquanto recebia uma saraivada de pontapés, socos e tentativas de estrangulamento.

O comerciante Armando Soares e mais meia dúzia de biqueiros tradicionais se envolveu na confusão e, depois dez minutos de pancadaria, os biqueiros conseguiram expulsar os agressores de dentro do bar.

Com escoriações generalizadas pelo corpo, José Bernardo entrou no seu carro e foi ao Instituto de Medicina Legal (IML) fazer exame de corpo de delito. De posse do laudo, foi ao 1º DP e fez um Boletim de Ocorrência (BO).

Mais judiado do que ovo de ciclista durante o “Tour de France”, José Bernardo voltou para o Bar do Armando e falou grosso, pra todo mundo ouvir:

– Esses filhos da puta vão se foder comigo! Já falei com o secretário Klinger Costa e ele vai pegar de um por um...

Um ano depois da confusão e totalmente esquecido da promessa de vingança, José Bernardo estava flanando despreocupadamente pela Rua Costa Azevedo quando foi abordado pelo comerciante Antônio Português, em frente ao restaurante Calçada Alta. Nervosíssimo, o lusitano abriu o jogo:

– Doutor Bernardo, pelo amor de sua querida mãe, revogue a pena de morte dos meus filhos! Eu já tive que enviar dois para Portugal e um para o Rio de Janeiro, para não serem mortos pelo Doutor Klinger Costa. Por favor, Doutor Bernardo, revogue a pena de morte dos meus filhos! É só isso que lhe peço!

Foi um parto o legalista José Bernardo explicar que não tinha nada a ver com os “presuntos” desovados semanalmente pela PPK (“Polícia Paralela do Klinger”).

Naquele ano, a PPK matou mais de 80 marginais – entre eles alguns amigos dos filhos do português –, que eram ligados ao tráfico de drogas.

O comerciante estava cismado de que seus meninos estavam na lista negra por solicitação do promotor público. Foi um alívio saber que tudo não passara de um mal entendido.

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