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quarta-feira, julho 19, 2017

ABC do Fausto Wolff (Parte 6)


BOORDE, Andrew (1512-1553) – Um idiota. Se não fosse tão idiota eu provavelmente não estaria falando dele. Em 1542 este galês metido a conselheiro sexual publicou um livro chamado A Dyetary of Helth (quem manja inglês vê que a grafia é antiga) ou O Livro Onde os Bons Maridos Aprendem.
Nesta obra, Boorde solenemente previne os leitores: “Cuidado com a alface. Ela mata o desejo sexual”.
Para quem havia marcado a bobeira de já haver comido muita alface, Boorde dava o antídoto: “Muito figo para redobrar o vigor sexual”.
Pois o sacana do Boorde acabou entrando para a carreira religiosa e chegou a ser bispo de Chichester.
Deve ter comido muito figo durante o tempo em que esteve à frente da igreja, pois acabou sendo expulso quando descobriram que mantinha três prostitutas escondidas em sua casa.

BORDEL – Também conhecido como prostíbulo, puteiro, rendez-vous ou lupanar, como preferia Nelson Rodrigues. Estabelecimentos bem mais antigos que butiques, açougues, consultórios médicos, estrebarias, etc.
O mais velhinho do Rio de Janeiro fica na Rua Alice, em Laranjeiras, e resistiu à onda de termas e call-girls.
Ali na Rua Alice ainda se pode jogar biriba com as putas, que contam histórias muito interessantes.
As mais antigas insistem que Boneca Cobiçada, famoso samba de Adelino Moreira cantado por Nelson Gonçalves, é a vida delas.
As mais novas, me diz N.C., velho frequentador, não sabem mais contar histórias: são jovens estudantes de jornalismo, enfermeiras, advogadas desempregadas, donas-de-casa que, eventualmente, aparecem lá para fazer um extra.
Segundo N.C., como não se pode conversar, nem dançar, nem jogar cartas com as mais novas, o negócio é comê-las e ir embora.
Provavelmente o bordel mais antigo de que se tem notícia existiu em Atenas e era administrado pelo Estado, por volta de 550 a. C., segundo o legislador Sólon.
Na Inglaterra do século XIX, a sociedade mais puritana da Europa, havia mais bordéis que em qualquer outro país do mundo.
E bordéis para todos os gostos: para sádicos, masoquistas, fetichistas e bestialistas, especializados em meninos e meninas com menos de quatorze anos, etc, etc.
Desses bordéis todos o mais interessante talvez não tenha sido um bordel mas um clube, o Love Club, de Londres, que inaugurou no fim do século XVIII e sobreviveu até a terceira década do século XIX.
O clube dava aos sócios – homens e mulheres –, mediante uma taxa mensal de cem libras, o direito de comer quem aparecesse por lá.
E eram centenas de sócios.
Recentemente foi leiloado o diário de uma sócia do Love Club.
Nele ela apresenta a lista de 4.959 homens com os quais havia ido para a cama num período de vinte anos: 272 príncipes, 93 rabinos, 439 monges, 288 cidadãos comuns, 2 tios, 119 músicos, 929 oficiais militares, 342 financistas, 420 cavalheiros da sociedade, 117garçons, 12 primos, 47 negros e 1.614 estrangeiros.

BRUXARIA – Prática de satanismo, e aproveito para aconselhar aqueles que ainda acreditam em Satã que não deixem de ler a obra-prima de Stephen Barr chamada The Devil to Pay, bem melhor que 98% dos contos mineiros produzidos desde a Inconfidência Neoclássica contra a Poesia.
Hoje em dia, bruxarias e satanismos são muito apreciados em Los Angeles e San Francisco.
Nos casos amenos pode-se sempre comer a mulher de algum diretor de cinema barrigudinho.
Nos casos mais graves, o freguês acaba tomando Fanta Uva com cianureto em companhia do pastor Jim Jones na Guiana Inglesa.
Mas o negócio já foi mais sério.
Nos séculos XV, XVI e XVII, principalmente, nego se coçava dum jeito meio engraçado e já era considerado bruxo.
Neurótico (sei do cacófato, pombas!) com crise de depressão ou histeria ciclotímica acabava curando essas frescuras na fogueira.
Durante mais de três séculos se espalhou por toda a Europa o culto pagão a Cernanus, o Deus Cornudo.
Aliás, há menos de trinta anos, foi descoberto, debaixo da nave da catedral de Notre Dame, um altar para este tal de Cernanus, que seria o próprio diabo.
Cornudo ou não, comia mulheres pacas, pois era nisto que se resumia a sua “religião”.
Antes da “missa negra” para Cernanus começar, os satanistas se beijavam nas respectivas bundas como forma de cumprimento.
Em seguida o diabo comia todas as mulheres presentes, que descreviam o seu pênis como “enorme e muito gelado”.
Devia ser mais ou menos uma mortadela da Sadia recém-saída do freezer.
Já outros registros dizem que o monjolo satânico era coberto de escamas como um peixe.
Outras vezes o manjubão aparece em forma de forquilha, o que permitia a penetração vagi-anal ao mesmo tempo.
O que eu acho dessas histórias: o sumo sacerdote, malandro, se vestia de diabo e, com a ajuda de um consolador ou dildo tamanho família, comia as maluquetes todas.
Quando acabava, deixava que os demais vagabundos pertencentes à sua seita ficassem com as sobras.
O Malleus Malleficarum, manual do século XV sobre o esporte de caçar bruxas. É incisivo como um dente: “A Bruxaria nasce do desejo carnal que, na mulher é insaciável”.
As bruxas eram ainda responsáveis por todos os casos de impotência, falsa gravidez, onanismo, sodomia, et caterva.
Resultado desta filosofia moderna nascida 1.800 anos depois da morte de Sócrates: entre 1.400 e 1500 nada menos que 80 mil pessoas viraram churrasco nas fogueiras europeias.
A histeria (hister quer dizer útero, em grego)se alastrou até a América do Norte, onde, principalmente na cidade de Salem, queimaram muita gente boa, como Arthur Miller conta direitinho na sua melhor peça, The Crucible, que foi apresentada no Rio de Janeiro no Teatro Copacabana sob a direção de João Bethencourt que, como todos sabem, tem um pacto com o diabo, caso contrário suas peças não fariam tanto sucesso.
A prática do satanismo diminuiu bastante no fim do século XVII, mas reviveu estranhamente no Brasil durante a segunda metade do século XX, onde as bruxas foram confundidas com jornalistas, cantores populares, deputados de oposição e qualquer ser humano que ousasse dizer que militar não é bonito.
Essas pessoas durante algum tempo foram caçadas em redações, bancas de jornais, riocentros e oabês da vida. Caçados à bomba, naturalmente.
Depois, o PFL e o Centrão tomaram o poder e as coisas ficaram piores.

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